A Panini Comics lançou no Brasil o
especial encadernado com as primeiras histórias do Monstro do Pântano,
produzidas pelos criadores do personagem na década de setenta.
Gibis não eram mais coisa de
criança.
E já não eram há muito tempo, mas
não vou entrar nessa questão. O fato é que as histórias criadas por Moore foram
mesmo revolucionárias, mas antes dele, o Monstro esteve em ótimas mãos, as mãos
de seus criadores, Len Wein e Bernie Wrightson. Eles conceberam não apenas o
personagem, mas estruturaram toda uma mitologia à sua volta, repleta de
coadjuvantes que perduram até hoje como personagens fortes nas histórias do
pantanoso, como Anton Arcane e sua sobrinha Abgail, Matt Cable e todo o pano de
fundo adicional. Obviamente esses elementos foram potencializados pelo talento
criativo do famoso escritor barbudo, que elevou a narrativa a outro patamar e
inovou ao recontar aspectos importantes da origem do personagem sem desmentir
nem uma vírgula do que os criadores propuseram. Mas todos os elementos já
estavam lá, e essas histórias, salvo por algumas referências inevitáveis da
época, não envelheceram, sendo ainda hoje uma opção divertida de leitura.
O
primeiro embrião do que viria ser o personagem foi publicado na revista “The
House of Secrets” 92 e deveria ter sido uma história de terror curta e
autocontida. Começo, meio e fim. Ela narrava a trágica história de Alex Olsen
com a cruel separação da mulher amada seguida da horrenda transformação na
criatura do pântano, o que lhe proporcionou a justa vingança contra seu
invejoso suposto melhor amigo, que tramou sua morte. As vendas dessa
edição superaram todas as expectativas e os leitores clamaram por mais. Porém,
a dupla criadora já havia apresentado a canção final de Alex Olsen. Não havia
mais nada a ser dito sobre ele. Mas com o tempo, e devido a contínuas
solicitações de que mais histórias do monstro fossem feitas, eles tiveram uma
ideia: deixar Alex confinado a sua bonita e triste história, e dar vida ao
Monstro do Pântano através de outra pessoa. Assim surgiu Alec Holland, um gênio em botânica que cria um
composto para uma fórmula biorrestauradora para organismos vegetais que sofre
um atentado contra sua vida e se torna a nova encarnação do horripilante Ser
coberto de musgo.
A ideia deu muito certo, e o
personagem voltou às bancas em revista própria tornando-se um sucesso imediato.
Essas primeiras histórias narram as
desventuras de Holland logo após a sua transformação, onde ele tem que lidar
com a morte de sua esposa, a perda de sua humanidade e seu desejo de vingança.
Os leitores acompanham sua trajetória de autoconhecimento, em histórias que em
muito pouco lembram o estilo dos super-heróis, estando desde sempre com os pés
firmes no gênero do terror e da ficção científica. Cientistas insanos fazendo
experiências aterradoras com seres humanos, magia negra, lobisomens, bruxas e
robôs descontrolados foram alguns dos temas abordados nas histórias. Há até
mesmo uma homenagem ao mito de Frankenstein na forma trágica com que o pai de
Abigail é retratado. O visual da personagem foi claramente inspirado no da
noiva de Frankenstein nos filmes clássicos. (Abby tem os cabelos brancos com
duas mechas negras nas laterais). Esse visual permanece até hoje em suas
histórias mais recentes.
Len Wein ainda era praticamente um
novato na época que co-criou o personagem, mas hoje é celebrado como um dos
grandes nomes dos quadrinhos, tendo co-criado alguns outros personagens de
enorme destaque, sendo que posso citar como mais popular o mutante Wolverine
dos X-Men. Já Bernie Wrightson é dono de um traço extremamente original e
perfeito para ilustrar HQs de horror. Embora essas primeiras histórias do
Monstro do Pântano tenham começado a ser publicadas em 1971/72, poderiam
perfeitamente ter estreado no mês passado, pois a sua arte não envelheceu.
Para finalizar só tenho a dizer que
me diverti muito com esse primeiro volume dos primórdios do Monstro e aguardo
ansioso pelo próximo. Foi bom descobrir que existiu vida inteligente nas
histórias do personagem antes da fase de Alan Moore, e que o padrão se manteve
elevado mesmo depois de sua saída já em sua fase na Vertigo e mais recentemente
com o relançamento do título com roteiros de Scott Snyder.
Os fãs podem ficar sossegados. O
legado de Len Wein e Bernie Wrightson segue favorável.
Por Rodrigo Garrit
Fonte: O Santuário
Fonte: O Santuário
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