O álbum
lançado pela Ebal com o título A Morte de Batman faz questão desde já de demonstrar a
existência do multiverso, pondo em sua primeira página um comparativo entre
duas versões do planeta Terra, uma com os heróis da Era de Prata e outro com
suas contrapartes da Era de Ouro, tudo isso evidentemente antes da mega-saga Crise
nas Infinitas Terras. Na larga introdução, conta-se que os
heróis surgiram no começo do século, sendo o primeiro deles o alienígena
Kal-El, que ostentava o título de Super-Homem, além de explicitar a primeira
reunião de mascarados, intitulada Sociedade da Justiça. Logo depois, é contado
que a diferença das ações dos super-poderosos tinha um intervalo de vinte anos
e o preâmbulo é perfeito por ser sintético.
Dois dos
membros periféricos do grupo são Robin, ainda Dick Grayson e Caçadora, Helena
Wayne, filha da Mulher-Gato e do Batman, que tem a sua
identidade supostamente guardada da ciência do seu pai. Bruce
Wayne tem deixado
o manto de lado, uma vez que é o Comissário de Polícia da cidade, e por isso
seria perseguido por um estranho meta-humano que ataca as torres gêmeas da
cidade – que são as mesmas torres gêmeas derrubadas em 11 de setembro, já
que esta Gotham engloba outras cidades do Leste dos EUA.
Bill Jensen,
o tal vilão, não tem dificuldade em vencer Poderosa, Lanterna e outros membros
da SJA, e logo o chefe de polícia atende os pedidos do bandido e tem um embate
pessoal com ele. O meta-humano solta uma rajada em cima dele e dos policiais,
mas é impedido pelo Doutor Destino, e, sem qualquer clímax, tenta novamente e
enfim derruba o que outrora foi o Cruzado Encapuzado, matando-o.
Após a
surpresa dos acontecimentos finais, a segunda parte de Só
As Lendas São Eternas começa
mostrando o estado de perplexidade dos sobre-humanos ao sepultar Bruce Wayne, e
conta o motivo do ódio de Bill ao comissário de polícia, indiretamente
responsável por sua transformação pessoal, que o fez rivalizar em magnificência
até com o Senhor Destino, grande mago desta realidade.
Na terceira
parte, em A Lenda Torna a Viver, é mostrado um
recordatório do Batman enfrentando Jensen, antes do derradeiro destino. Ele não
pode deixar de notar o quão poderoso tornou-se o criminoso, que antes era um
simples homem que assassinou seu sócio, e que foi o responsável por sua
ascensão de detetive a chefe do departamento. O ódio do bandido era tanto que
ao descobrir a identidade do Morcego, Jensen tem uma atitude kamikaze para dar fim
à vida de seu opositor.
Diante do
túmulo de seu mentor, Grayson manifestou o desejo de tomar para si o capuz do
herói, mas foi proibido pela Caçadora, que reforçava que as ações da dupla como
heróis eram importantes, mas que a lenda de seu pai deveria ser respeitada, e
deixada em paz. No dito “epílogo do epílogo”, A Noite do Ladrão de Almas mostra
a procura da SJA pela origem dos poderes de Bill Jensen.
Ao procurar
a origem dos ataques, os heróis descobrem que o real vilão era Fredric
Vaux, um feiticeiro que busca almas para alimentar os deuses
das trevas, que lhe confiavam o poder que tinha. Seu intuito era acabar com a
vida do grupo de vigilantes, e seu embate pessoal com o também mago Senhor
Destino guarda momentos emocionantes. Mas ainda mais pessoal é a vontade de
Helena em ir às vias de fato com o vilão responsável pela morte de seu pai. O
combate místico alterou drasticamente a parede da realidade, graças ao caótico
feitiço do bandido. Entre os heróis, surge a tentação em trazer Batman de volta
à vida, mas segundo o Mago, esta saída não seria a melhor, nem a mais
aconselhável, ao invés disso ele torce os fatos de modo místico e consegue
resguardar a identidade secreta do desfalecido herói. O ótimo roteiro de Paul
Levitz eleva a questão de Batman como lenda de um modo respeitoso e muito
honroso, tão canônico que fez James Robinson optar por forçar a editora a não ter
um Batman na revista Terra 2 dos novos 52. A Morte de Batman segue
como uma das boas reimaginações do personagem.
Por Filipe Pereira
Fonte: Vortex Cultural
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