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A REFORMULAÇÃO DO HOMEM SEM MEDO

Mais que uma ode à fase clássica do Homem Sem Medo (aquela dos anos 60) criada pela dupla criativa Stan Lee e John Romita, as novas aventuras do Demolidor sob o comando de Mark Waid (Reino do Amanhã e LJA - Torre de Babel) vão muito além da convencional ficção escapista, são um dedo na ferida, um manifesto sincero contra toda hipocrisia, toda forma de preconceito e cumpre uma função social raras vezes vista neste ramo do entretenimento.
O sexto encadernado desta nova série acaba de sair no Brasil abrangendo as edições 31 a 36 do título original e continua mantendo a ótima qualidade vista nos anteriores.

daredevil

A premissa da primeira edição do encadernado já remete o leitor a um acontecimento real recente da história norte-americana embora seja anterior a ele: O assassinato do jovem negro Michael Brown, morto a tiros por um policial branco em Ferguson, estado do Missouri.
Na trama, uma mulher branca com inclinações racistas efetua vários disparos contra um rapaz negro, matando-o. Levada a julgamento devido ao crime, a ré é absolvida e o veredito causa indignação por parte da opinião pública. O problema toma novas dimensões quando o promotor público responsável pelo caso mobiliza as massas enfurecidas a fim de que as mesmas peguem suas armas e façam justiça com as próprias mãos contra os jurados da ocasião (ou pelo menos é o que parece).

Não bastasse dar uma roupagem old school ao herói, com aventuras a la The Spirit que flertam com os mais diversos subgêneros da literatura pulp, Waid optou por mostrar um Matt Murdock mais bem resolvido com seu lado obscuro, mais experiente, mais “de boa”. Entretanto, o Demolidor da vez continua azarão, cheio de problemas pessoais e, como de praxe ,nem sempre leva a melhor sobre seus oponentes.

Após comer o pão que o diabo amassou (juro que não foi de propósito) nas mãos de pesos-pesados como Frank Miller (Queda de Murdock), Kevin Smith (Diabo da Guarda) e Brian Michael Bendis (Dossiê Murdock), Matt logra um merecido descanso. A carreira de advogado segue rendendo bons frutos e a possibilidade de um novo relacionamento amoroso surge com a introdução de uma nova personagem; Kirsten McDuffie. A também advogada substitui Foggy Nelson, sócio e melhor amigo de Matt que passa por uma situação difícil; o tratamento quimioterápico de um câncer descoberto recentemente.

Ao tomar conhecimento do episódio envolvendo o promotor James Priest e a histeria coletiva deflagrada por ele através da TV, Matt deduz (na verdade, percebe com seus sentidos ampliados) que a notícia fora manipulada e o discurso de Priest totalmente distorcido. Tudo fazia parte de uma conspiração arquitetada pelos Filhos da Serpente, uma organização antiga que prima pela supremacia branca e está infiltrada no sistema judiciário e nos órgãos públicos de Nova York. A tal organização havia contratado um vilão de terceiro escalão chamado Polichinelo para falsificar a transmissão da coletiva de imprensa em frente ao tribunal. A partir daí, o Demolidor entra em cena tentando evitar um linchamento e indo ao encalço do vilão.

Uma premissa simples a princípio, mas que gera uma boa discussão acerca de valores e hábitos arcaicos que as sociedades teimam em manter vivos como a intolerância religiosa, o racismo e xenofobia. Com chargistas franceses sendo fuzilado em seus próprios locais de trabalho por extremistas islâmicos, tensões raciais nos Estados Unidos e passeatas hostilizando imigrantes refugiados na Itália, é natural e necessário que alguém se pronuncie sobre o assunto.

Numa cena inspirada da HQ, Kirsten usa um megafone para realizar um discurso e dar um puxão de orelha em toda a população da Big Apple que, movida pelo ódio, compromete justamente aquilo que a torna tão especial; sua heterogeneidade, a coexistência pacífica de gêneros, etnias, raças e nichos. A personagem sugere que cada cidadão avalie aquela pessoa ao seu lado que tem se empenhado por torná-lo mais intolerante, preconceituoso, dirigindo seu ódio contra aqueles que não fizeram nada para merecê-lo. Esta tal pessoa pode ser um membro dos Filhos da Serpente.

Após colocar o Homem Sem Medo ao lado do Surfista Prateado numa aventura com “ares cósmicos” no volume anterior, Waid decide investir no universo da magia desta vez. Buscando encontrar o Tomo Negro (livro místico de grande importância para os filhos da Serpente), o Demolidor pede a ajuda de um certo mago supremo de Greenwich Village e se envolve com a causa do Esquadrão Monstro que também está à procura do livro.

Um aspecto a ser enfatizado também é a reação de Matt aos problemas de saúde de Foggy. Num momento tocante, ele pede ao Doutor Estranho que reproduza um feitiço usado para salvá-lo de um ferimento letal a fim de curar Foggy, mas não recebe a resposta que esperava. A única coisa que Matt pode fazer para ajudar o amigo é manter a firma fundada por ambos, Murdock e Nelson, funcionado e assim garantir que o plano de saúde continue cobrindo o tratamento dele.O desfecho do volume deixa uma interrogação no que diz respeito ao futuro profissional e financeiro do advogado mais famoso de Hell’s Kitchen.

Considero Grandes Astros: Superman a melhor HQ  do Homem de Aço justamente pelo resgate que Morrison se propôs a fazer da essência do personagem por meio de tramas simples abordando temas profundos. Mark Waid  parte da mesma ideia e nos entrega uma pequena obra-prima dos quadrinhos contemporâneos. Para quem acha que os super-heróis têm se levado a sério demais e precisa revisitar seus ídolos de outrora, a nova fase do Demolidor é uma ótima pedida.

Por Jorge Ygor

Fonte: Cuzcuz Literário

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4 Comentários

  1. caramba esse texto é praticamente um livro!mas isso não é ruim! o Demolidor o cego justiceiro da Cozinha do Inferno' parece que está sendo bem conduzido por Waid pelos bons caminhos do Roteiro!! vou ler essa revista! Marcos Punch.

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    1. Leia e depois me diz o que achou.
      À propósito, o que você tem lido de Marvel e DC ultimamente?

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  2. eu gosto do Wolverine e os x-men o Logan e a Molecada de mutantes acho divertido!! tem um garoto loiro cheio de olhos pelo corpo ,um cara de Moicano e óculos que eu acho tem algum parentesco com o Gladiador(da Guarda Imperial Xiar...) Convergence eu tenho lido!! gostei de uma série curta Adam Strong e o Planeta Perigo !( acho que esse personagem é antigo..) eu tenho lido de tudo um pouco!! e sempre leio ( re-leio!!)Authority sou Muito Fã desses caras!! Marcos Punch

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    1. Também acho Wolverine e os X-Men. O Jason Aaron consegue fazer histórias mais sérias com o Logan solo e mais divertidas com os alunos. É um bom escritor para o personagem. Só achei que, depois de provocar o "Cisma" o tal de Quentin Quire ficou livre demais na escola. Parece até que esqueceram o que ele aprontou.
      O Authority é o mesmo do Stomwatch não é? Preciso ler essa série toda, pois sempre ouço dizer que é muito bom.

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