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Colaboradores do Planeta: 1986/2016 – O Fim e o Início com os 30 anos de Watchmen

Nosso Colaborador Giuliano de Lima Liberalli está de volta após uma viagem exploratória no universo de Watchmen. Com os 30 anos de Watchmen e sua possível adesão ao universo DC Rebirth, nada mais adequado do que essa bela homenagem. - Roger


Quem vigia os vigilantes?” Essa frase promocional junto com a imagem de um relógio próximo da meia-noite anunciava o lançamento de uma das mais celebradas e cultuadas HQs que causou uma grande mudança no modo como vemos o mundo dos super-heróis há 30 anos: WATCHMEN. A década de 80 é uma das mais lembradas na cultura pop, no cinema tivemos a enxurrada de sucessos como De Volta Para o Futuro, Exterminador do Futuro, Caça-Fantasmas, Os Goonies e Curtindo a Vida Adoidado. Na TV estrearam séries inesquecíveis como MacGyver, Esquadrão Classe A, Miami Vice, Galactica e até o Brasil entrou na onda com Armação Ilimitada. Os quadrinhos de super-heróis também ganharam destaque nesses tempos inovadores com histórias que despertaram outra visão sobre o universo dos heróis e suas verdadeiras motivações.

Dos talentos de Alan Moore e Dave Gibbons surgiu a série que mudou a forma de se enxergar os quadrinhos de heróis, de simples literatura juvenil para um material voltado para o mundo adulto, popularizando o termo graphic novel e elevando o status dos quadrinhos à material de destaque nos meios de comunicação. Hoje é inegável a sua influência tanto para autores como para os leitores, aqueles que tiveram o prazer de ler na época do lançamento, como este humilde nerd jurássico que vos fala, sentiram a onda de mudança na sua origem e nunca mais olharam para os quadrinhos de heróis da mesma forma. A envolvente história sobre uma ameaça que ronda vigilantes de um mundo alternativo, ocultando um perigo ainda maior se movendo nas sombras apresentou personagens marcantes como O Comediante, Rorschach, Dr. Manhattan, Ozymandias e Coruja lidando com temas como conspirações, guerra, estupro e violência de maneira direta, crua e adulta como nunca antes vista.


A série ganhou prêmios importantes como o Kirby e o Eisner, até um Prêmio Hugo especial, e é relançada até hoje, um sucesso que só é igualado por Batman - O Cavaleiro das Trevas; na nova fase da DC: REBIRTH tem uma indicação que o universo de Watchmen pode ser incorporado oficialmente ao universo DC tradicional, dando a entender que o papel do Dr. Manhattan pode ser muito maior do que se pensa, ao ponto de ele ser o responsável pela criação desse universo reformulado. Mas não é sobre esse novo ângulo que o universo de Watchmen está sendo revisitado que estou dedicando esse texto, é como essa HQ abriu as portas de um novo universo para as comics. Já falei em um artigo anterior sobre a censura nas HQs e o quanto isso pesou para a liberdade dos escritores, porém o tempo passou e essas censuras foram perdendo sua força aumentando o campo para trabalhos mais ousados e atuais.

Nesse mesmo período heróis tradicionais receberam obras que só reforçaram a chegada dessa nova onda: Demolidor com a saga BORN AGAIN e Batman com a insuperável THE DARK KNIGHT RETURNS. Watchmen inovou trazendo um universo um tanto quanto espelhado nos heróis e vigilantes tradicionais, mas com um pano de fundo muito amplo e sinistro, uma imensa conspiração ameaçando velhos e novos heróis que só se revelou na última edição ligando os pontos com assustadora maestria, ambientada em uma realidade alternativa aonde o antigo ódio entre as grandes potências e a tensão de um conflito nuclear nunca foram tão grandes, daí a representação do relógio nas capas das edições e na divulgação que remete ao famoso Relógio do Juízo Final, criado em 1947 durante a Guerra Fria para registrar o quanto a humanidade se aproxima da meia-noite, que seria o fim dos tempos, até hoje ele já se moveu 21 vezes para mais perto ou mais longe do apocalipse, atualmente estamos a seis minutos disso. Assustador, não?

Na galeria de personagens temos o onipotente Dr. Manhattan, a representação do poder supremo não só na figura do super-herói como na figura da potência mundial que são os Estados Unidos, simbolizando que nada pode impedir o avanço dos americanos na dominação mundial em um mundo alternativo onde os EUA venceram a Guerra do Vietnã, conhecida como uma das maiores vergonhas americanas, a política poucas vezes foi exposta de maneira tão crua e violenta; Ozymandias, com sua inteligência absurda e manipuladora mostra o perigo que seria se um Tony Stark decidisse usar seus recursos para se tornar uma potência tecnológica dominadora; Coruja, obviamente inspirado no Batman, é um vigilante receoso que atuou no passado quando o heroísmo estava em alta antes de ser considerado como perigoso e fora-da-lei juntamente com Ozymandias, Dr. Manhattan, Comediante, Espectral e Rorschach, vendo o rumo que as coisas tomavam optou por uma precoce aposentadoria, porém as circunstâncias geradas pelos assassinatos de heróis como o Comediante o forçam a tomar uma posição; Rorschach é o melhor exemplo do perigo que se tornar um vigilante representa para a mente humana, é estar de pé diante de um abismo se perguntando se você está olhando para ele ou ele está olhando para você aguardando o momento em que você irá se jogar e o aceitar, sua passagem pela prisão e quando finalmente revela o que fez com que se tornasse um violento perseguidor de criminosos são alguns dos melhores e mais marcantes momentos da série; Espectral é herdeira do manto de sua mãe, uma antiga vigilante aposentada, que se apaixona pelo Dr. Manhattan e abandona a vida de heroísmo para viver com ele até se dar conta de que tudo para Manhattan não passam de peças de um grande mecanismo, girando e obedecendo a uma complexa ordem universal manipulada por um poder superior, seu personagem remete a uma Canário Negro sem poderes e temos aquele que é o elo entre todos os acontecimentos da história que se inicia, ironicamente, com sua morte: O Comediante, um perigoso vigilante que lutou junto aos heróis herdeiros do manto dos “Minutemen”, equipe que deu início a moda dos vigilantes, de personalidade marcante e violenta, esteve em todos os grandes acontecimentos até perceber qual era o seu lugar no grande esquema da trama que mudaria o mundo e cair em si tomando consciência de que a grande piada pela qual lutou teria um final nem um pouco engraçado, sua expressão de pavor e desespero ao confessar isso a um antigo vilão é inesquecível.


Hoje Watchmen goza do status de HQ que não tem previsão para parar de ser impressa, o que só atesta a sua relevância para o mundo dos comics. Pouco tempo atrás a DC revisitou esse mundo lançando uma série de especiais chamada BEFORE WATCHMEN, mostrando acontecimentos anteriores na vida dos heróis antes da saga, mas não rendeu o efeito desejado mostrando que certas obras não precisam de complementos ou maiores extensões, são completas por si só. Em 2009 foi lançada a adaptação para o cinema da HQ dirigida por Zack Snyder com um elenco talentoso com Patrick Wilson no papel do Coruja, Jackie Earle Haley como Rorschach e Jeffrey Dean Morgan como O Comediante; na minha opinião só perde para o primeiro SUPERMAN com Christopher Reeve como uma das melhores adaptações feitas de uma HQ para um filme, o cuidado visual e o respeito ao universo de Watchmen o tornam uma produção fantástica, pena que não foi compreendida e aceita pela crítica e público como merecia.

Os efeitos do “Big Bang” do seu lançamento perduram até os dias de hoje e se os quadrinhos de heróis tem toda essa atenção atualmente, é a essa obra que devem agradecer.


“Somos todos marionetes, Laurie. Eu sou apenas uma marionete que vê as cordas.” - Dr. Manhattan

Por Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador do Planeta Marvel/DC


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5 Comentários

  1. Achei interessante relembrar o contexto em que nós, brasileiros, lemos Watchmen quando foi lançado originalmente pela Ed. Abril, era fã de Esquadrão Classe A e Miami Vice. Alan Moore apresentou uma história nua e crua sem se preocupar com faixa etária e Dave Gibbons era o desenhista perfeito para isso. Também achei interessante as comparações dos personagens de Watchmen com outros já conhecidos do público leitor. Eu vi em algum lugar que esses personagens também foram baseados em alguns da antiga Carlton Comics, como Capitão Átomo, Questão e Besouro Azul e acho que já dá até para perceber quem é quem. Aliás, o Rorschach do Earle Haley ficou demais, o ator é bom mesmo. Quer dizer, o elenco é muito bom e deram vida a esses personagens tão carismáticos. Uma bela e merecida homenagem, sem dúvida, Giulianno.

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    1. Quando ela foi lançada em mini-série pela Abril eu ficava lendo e relendo os capítulos lançados até o lançamento do próximo, pescando cada detalhe e cada vez mais admirado de ver temas tão impactantes em uma HQ. Podemos dizer que a saga é de um universo "espelhado", realmente vários personagens foram inspirados em clássicos como você citou como um "O QUE ACONTECERIA SE..." tão famoso na Marvel voltado para o Universo DC, tipo uma versão muito mais poderosa do Capitão Átomo na pele do Dr. Manhattan ou Questão, o vigilante sem rosto, representado pelo Rorschach com seu sobretudo e chapéu e por aí vai.Eu não podia deixar de falar sobre essa série que me inspirou a ler mais, ver o mundo das HQs sobre outro ângulo e escrever sobre comics. Esse marco merece, Roger.

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    2. Puxa, então você fez muito bem, ao reler as edições em mãos, enquanto esperava a continuação. Isso realmente deve ter ajudado a ter um entendimento melhor. Acho que se eu tivesse feito isso na época, minha experiência com Watchmen teria sido diferente. Falando nisso, me lembrando da sua foto segurando a edição definitiva do Watchmen na Bienal do Livro, quero dizer que consegui adquirir essa edição recentemente e com desconto. Foi mais ou menos da mesma forma que você tem feito em suas compras de encadernados com desconto.

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    3. Puxa, que bom que conseguiu sua edição e ela vale cada centavo, se bem que Watchmen, como falei no texto, não tem previsão de esgotar. E já comecei a me programar para a Bienal de 2017, se tudo der certo estarei lá. Agora me tira uma dúvida: Foi proposital a hora da postagem do artigo ser 00:00:00? Ou mera coincidência? Essa é a hora do ápice da saga de Watchmen...

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    4. Que legal, ter a oportunidade de visitar a Bienal novamente. Desde já, fico na expectativa de saber as novidades que você trará de lá. Ah sim, o horário da postagem foi proposital sim...rs.

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