Há mais de
trinta anos foi instituído o Dia do Quadrinho Nacional no dia 30 de janeiro. Para
comemorar essa data, somando-se à uma ideia surgida entre as viagens de nosso
colaborador Giulianno de Lima Liberalli, eis que o Planeta Marvel/DC expande seus
territórios onde os quadrinhos nacionais terão seu merecido espaço.
Caros
leitores do Planeta Marvel/DC, com muito carinho e disposição inicio essa nova
leva de artigos falando sobre os nossos queridos quadrinhos nacionais, aqui
pretendo trazer textos sobre autores, desenhistas, editoras e personagens com
mérito exclusivamente brasileiro, nossa cultura tem uma leva muito rica de
profissionais que abraçaram essa árdua batalha de ser firmarem no concorrido e
injustiçado mercado de quadrinhos no nosso país e é uma história que começou
muito, muito tempo atrás com as publicações de charges estreladas pelos
personagens “Nhô Quim” e “Zé Caipora” em 1869 e
1883, respectivamente. Digo injustiçado porque temos muito material de
qualidade por aí, mas que não recebe um valor ou tratamento que faça totalmente
jus ao esforço das pessoas que trabalham com amor e dedicação para nos trazer
amostras dos seus talentos e até mesmo por parte dos leitores, aí entram
fatores diversos como divulgação fraca, regionalizada ou preferência por
materiais de grandes editoras estrangeiras, mas uma das honrosas exceções é o
nosso mui amado Maurício de Souza e a Turma da Mônica, inegável paixão nacional
cujo sucesso arrebatou o país e o exterior, mais à frente ele será alvo de uma
matéria sobre o seu trabalho.
Por
enquanto vamos começar do começo, ter uma breve lição de história da história
em quadrinhos nacionais. Antes de tudo, deixo agradecimentos ao Roger,
administrador do Planeta Marvel/DC por abrir mais esse espaço para esse
tagarela que vos fala e ao Eberton Ferreira, quadrinista e roteirista do
Fanzineston, que tive o prazer de conhecer recentemente em um evento de divulgação
dos seus recentes trabalhos: “Causos” e“ Xamã”,
nisso me sugeriu a criação dessa coluna exclusiva para material nacional, para
que possam conferir o trabalho dele no final do artigo está o link do blog.
No dia 30
de janeiro é comemorado o Dia do Quadrinho Nacional, instituído em 1984 pel
a
Associação dos Quadrinistas e Cartunistas do Estado de São Paulo e anualmente
temos o Prêmio Angelo Agostini que premia os profissionais brasileiros
de histórias em quadrinhos. A escolha dessa data foi porque, em 30 de janeiro
de 1869, na revista Vida Fluminense, foi publicada a primeira história em
quadrinhos brasileira: As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma
Viagem à Corte. E, em comemoração aos 50 anos de lançamento do
Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen, foi definida pela Academia Brasileira de
Letras e pela Associação Brasileira de Imprensa essa data para ser o Dia
Nacional das Histórias em Quadrinhos. Suplemento Juvenil foi a primeira
publicação brasileira dedicada a quadrinhos de heróis e aventura em 1934
trazendo compilações das tiras de jornal de personagens como Mandrake, Flash
Gordon, Tarzan e Pato Donald, foi um grande sucesso editorial que durou
incríveis 1726 números até Adolfo Aizen fundar a EBAL e essa publicação marca o
lançamento da primeira história em quadrinhos brasileira com tema baseado nos
famosos seriados de aventura americanos: “Os Exploradores da Atlântida”
desenhada por A. Monteiro Filho e com 12 capítulos. Abaixo destaco a imagem da
primeira publicação de As Aventuras de Nhô Quim:
Em 11 de
outubro de 1905 o desenhista Renato de Castro lançou O Tico-Tico, considerada a
primeira revista em quadrinhos do Brasil que teve a participação de Angelo
Agostini em algumas histórias e na criação do seu logotipo, a publicação
misturava personagens americanos como Krazy Kat, Mickey Mouse e Gato Félix e
criações nacionais como Chiquinho, Reco-Reco, Bolão e Azeitona de Luiz Sá,
Lamparina de J. Carlos, Kaximbown de Max Yantok, Max Muller de A. Rocha entre
outros. A revista foi publicada até 1957, com a publicação de outras revistas
no país a sua popularidade foi decaindo aos poucos até o seu encerramento, mas
seu valor histórico permanece até nossos dias.
Depois de
uma viagem aos Estados Unidos, fascinado pelos suplementos de quadrinhos
publicados nos jornais americanos, Aizen criou o Suplemento Infantil,
rebatizado algum tempo depois para Suplemento Juvenil e que misturava heróis
americanos como Flash Gordon com criações nacionais como As
Aventuras de Roberto Sorocaba, O Gavião do Riff, Raffles,
o Ladrão Elegante e Três Legionários da Sorte. O
empresário Roberto Marinho tentou uma parceria de distribuição do título com
Adolfo Aizen que recusou a proposta, em represália Marinho criou O Globo
Juvenil dirigido por Djama Sampaio, Antonio Callado e Nelson Rodrigues, também
foi um sucesso que publicou as quadrinizações dos romances Os Primeiros
Homens na Lua de H.G.Wells e As Minas de Prata de José de Alencar
pelas mãos do artista Francisco Acquarone. Em seguida Aizen cria a revista
Mirim, utilizando o formato comic-book, e a revista A Gazetinha inicia a
publicação dos arcos de história do Garra Cinzenta, de Francisco Armond
e Renato Silva, claramente inspirado nos famosos romances pulp de mistério,
terror e ficção científica, também publicou outros materiais nacionais como Nino Borges (
Piolim, Bolinha e Bolonha ) e Belmonte ( Paulino e Balbina ). Entre
1936 e 1939, o desenhista Messias de Mello criou diversos
personagens, entre eles Pão Duro, Tutu, Titi e Totó, Gibimba e Audaz,
o Demolidor, interessante notar que o Daredevil, ou Demolidor, da Marvel só
viria a surgir em abril de 1964 e uma das traduções para daredevil é audaz,
mera coincidência?
Em mais um
lance para concorrer com a iniciativa de Aizen, Roberto Marinho lança em 1939
através do Globo a revista O Gibi, em represália Aizen lança O Lobinho para
evitar que Marinho viesse a usar o termo O Globinho, associado a isso e a um
personagem da revista O Tico-Tico conhecido como Giby o termo Gibi se torna
referência para publicação de quadrinhos no formato standard, que
é uma publicação no formato jornal de 55 cm , popular na época. No entanto a
preferência era para personagens americanos como Flash Gordon, Dick Tracy e
Tarzan, pouco tempo depois começavam a ser publicados Superman, Batman, Namor e
Capitão América, mas e o material nacional? Avançamos para 1941, onde o
jornalista Assis Chateaubriand funda a editora O Cruzeiro e na revista de mesmo
nome surgem os cartuns de O Amigo da Onça de Péricles de Andrade Maranhão,
autor da tira Oliveira Trapalhão que era publicada em O Guri.
Entre os
surgimentos de editoras como Ebal e Editora Abril nos anos que se seguiram,
alguns materiais brasileiros eram publicados em meio aos personagens da Fawcett
Comics, Timely Comics e Disney como “Mr. Raffles vai a Itaipava”
de Carlos Thiré, O Vingador, personagem de programa de rádio brasileiro
inspirado no Zorro que ganhou um jornalzinho publicando suas aventuras em
quadrinhos, publicações infantis como Sesinho e Nosso Amiguinho surgiram no
final da década de 40, o ilustrador português Jayme Cortez lança a tira semanal
“A Caça aos Tubarões” em 1947 e em 1948 Millôr Fernandes e Carlos
Estevão lançam a tira “Ignorabus, O Contador de Histórias”, na
década de 50 pela Editora Abril é lançada a revista La Selva que trouxe
material nacional como de "Arrelia e Pimentinha",
"Fuzarca e Torresmo", "Oscarito e Grande Otelo",
“Fred e Carequinha" e "Mazzaropi”, também tinha material
estrangeiro que era produzido no Brasil como Straight Arrow, batizado
aqui de Flecha Ligeira e desenhado pelos artistas Evaldo Oliveira, José Menezes
e Walmir Amaral, inspirado pelo Jim das Selvas, Jayme Cortez lança a tira Sérgio
do Amazonas. Pela década de 50 surgiram outros trabalhos como Capitão 7,
Vigilante Rodoviário de Flavio Colin, Catecismos, os famosos
quadrinhos eróticos criados por Carlos Zéfiro, Bidu de Maurício de
Sousa, Jerônimo, o Herói do Sertão, Capitão Atlas de Péricles do
Amaral e o Falcão Negro.
Em 1960 Ziraldo lança O Pererê que é publicada até 1964,
em 1961 é criada a ADESP, Associação dos Desenhistas de São Paulo,
presidida por Maurício de Sousa e Ely Barbosa como vice com um objetivo de
conseguirem reserva de mercado sobre o material nacional, isso levou as grandes
editoras da época EBAL, RGE, Abril, O Cruzeiro e Record a criarem a versão
brasileira do “Comics Code Authority”: O Código de Ética dos Quadrinhos com a
intenção de regulamentar o material produzido e distribuído no país, a situação
tomou conotações políticas sérias e com a chegada do Regime Militar, Maurício
de Sousa abandonou a instituição, logo em seguida ele lançava personagens como Cebolinha,
Cascão, Mônica, O Astronauta, Piteco e assim a
icônica Turma da Mônica se formava. Em 1963 Deodato Borges lança a revista As
Aventuras do Flama, também baseada em um programa de rádio da época na
Paraíba, durou cinco edições e é apontada como a primeira revista em quadrinhos
do estado, no mesmo ano surge A Folhinha, suplemento infantil do jornal A Folha
de São Paulo, a pedido de Maurício de Sousa, Júlio Shimamoto cria a tira O
Gaúcho que também publicou a tira Vizunga de Flavio Colin.
Primeira Aparição da Mônica em 3 de março de 1963:
Nessa primeira parte podemos ver como a criação nacional foi timidamente
ganhando mais espaço em meios às populares aventuras dos personagens
estrangeiros que dominavam as publicações daqueles tempos, na próxima parte
avançaremos mais pela década de 60, chegando aos anos 70, 80 e 90 para vermos o
quanto o trabalho nacional tomou fôlego e ganhou cada vez mais terreno e
notoriedade dentro das editoras com as criações de mais heróis nacionais
inspirados pelos famosos personagens americanos, até lá.
Fonte de Pesquisa: Wikipédia
Para conhecer mais o trabalho de Eberton Ferreira:
www.fanzineston.blogspot.com.br
Por
Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador do Planeta
Marvel/DC