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Colaboradores do Planeta Nacional: Quadrinhos Nacionais – Origens – Parte III

Finalmente, depois de atravessar vários anos de história das histórias em quadrinhos nacionais, chegamos aos anos 90 e o início do século 21 que é o período mais contemporâneo vivido pela maioria da geração atual de leitores. 

Muitos personagens e editoras surgiram nos tempos anteriores, muitas delas já não existem mais, porém deixaram um legado de materiais inspiradores para os profissionais da nossa época mais atual. Na última parte entramos na década de 90, que se inicia com a morte do jornalista Adolfo Aizen em 10 de maio, fundador da EBAL e um dos pioneiros em investir no talento nacional de produção de HQs. No mesmo ano surge o Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos, atualmente conhecido como Observatório de História em Quadrinhos, criado por Álvaro de Moya, Antonio Luis Cagnin e Waldomiro Vergueiro com o objetivo de coordenar os estudos e debates sobre a história em quadrinhos no país. 
Surgem as revistas Mephisto – Terror Negro, Platoon, Raio Negro de Gedeone Malagola e Os Guerreiros de Jobah com histórias de veteranos e novos artistas como Ofeliano de Almeida, Júlio Emílio Braz, Mike Deodato entre outros, pela ICEA Gráfica e Editora, aqui foi publicado Duelo Neural, conto cyberpunk de Roberto de Sousa Causo, ativo escritor de ficção científica e fantasia no Brasil e coordenador do selo Pulsar da Devir Livraria. Em 1991 a Bloch lança Mestre Kim, baseada em Yong Min Kim, mestre de artes marciais que ensinava defesa pessoal para membros da polícia e das forças armadas, se apresentava em programas da extinta TV Manchete, o título era escrito pelo próprio mestre e por Antônio Ribeiro, com as artes de Eugênio Collonese e Marcello Quintanilha. A revista do Senninha, versão infantil do piloto Ayrton Senna, foi lançada em 1994 e durou 97 edições; em 1995 a Editora Abril Jovem contrata os ilustradores Jótah e Sany, autores da Turma do Barulho, publicação que ficou famosa trazendo uma turma de crianças próximos a adolescência que não tinham nada de inocentes como as tradicionais revistas infantis, eram comuns palavrões, matar aulas, colas, pichação, namoricos entre outras situações vividas por uma turma de amigos de colégio politicamente incorretos. Artistas nacionais começavam a dar seus passos para a fama no exterior como Deodato Borges Filho, o Mike Deodato, e Luciano Queiroz que adotou o nome Luke Ross. Inspirados pela onda de sucesso dos animes na TV brasileira e pela estética dos mangás surgem adaptações de games como Street Fighter escrita por Marcelo Cassaro, Alexandre Nagado e Rodrigo de Góes e ilustrada por Arthur Garcia, João Pacheco e Neide Harue e arte-finalizada por Silvio Spotti, Megaman pela Editora Magnum, com os artistas Daniel HDR, Eduardo Francisco e Érica Awano. Ainda em 1995 surge o álbum Brasilian Heavy Metal com 200 páginas de material nacional e a revista Metal Pesado, pela editora de mesmo nome, com publicações de artistas nacionais como Cynthia Carvalho (de Leão Negro), Júlio Shimamoto, Marisa Furtado e outros; venceu os prêmios Angelo Agostini e HQ Mix de 1997. 

Em 1996 Dorival Vitor Lopes, Hélcio de Carvalho e Franco de Rosa criam a Mythos Editora, em 1997 Jotapê Martins cria a Via Lettera e em 1998, Franco de Rosa e Carlos Mann criam a Opera Graphica, que produziu as revistas HQ – Revista do Quadrinho Brasileiro, Graphic Talents e Comix Book Shop Magazine. O roteirista Marcelo Cassaro lança Holy Avenger e UFO Team, também é o criador da revista de RPG Dragão Brasil. Em 1997, Belo Horizonte sediou a Bienal Internacional de Quadrinhos, a influência do mundo criativo das HQs foi tão grande ali que foi criado o Festival Internacional de Quadrinhos para substituir a Bienal e atender a crescente demanda artística da cidade e aos interesses dos grupos e empresas ligadas a produção de quadrinhos que foram surgindo. Com o fim dos anos 90 e do século 20, entramos no século 21 e pela internet surgiram diversas histórias em quadrinhos brasileiras, uma das que mais se destacou foi
Combo Rangers de Fábio Yabu, inspirada nos Super Sentai como Changeman e Power Rangers a série falava sobre um grupo de amigos recrutados por um herói aposentado para defender o mundo de ameaças alienígenas, chegando a ter três fases: Combo Rangers, Combo Rangers Zero e Combo Rangers Revolution, as histórias em quadrinhos foram publicadas pelas editoras JBC e Panini entre 2000 e 2004, retornando anos depois em formato digital; no ano 2000 Marcelo Cassaro lançou Victory pela editora Trama, a personagem chegou a ser publicada nos EUA pela Image Comics. O início do século 21 trouxe uma importante mudança para os quadrinhos no território nacional: A
Editora Abril sai de cena e entra a Panini Comics, editora italiana responsável pelo licenciamento internacional da Marvel Comics, com isso títulos da Marvel e DC passam para sua responsabilidade e no ano de 2007 a Turma da Mônica sai da Editora Globo e passa a ser publicada pela Panini. Nesse meio tempo o estúdio Opera Graphica se torna uma editora lançando tanto material estrangeiro como nacional com trabalhos de Gedeone Malagola, Eugênio Colonnese, Júlio Shimamoto e Flavio Colin, a editora encerrou suas atividades em 2009; Em 2003 morre o jornalista Roberto Marinho e no mesmo ano Marcelo Cassaro lança Dungeon Crawler pela Mythos Editora com os desenhos de Daniel HDR, profissional que colaborou com fanzines e publicações independentes além de trabalhar com várias editoras como JBC, Panini e HQM. Em 2005 é publicada a série de livros ”Heróis do Brasil”, sobre figuras históricas produzidas por Ruy Jobim Neto, cartunista e criador da tira cômica “Cão Jarbas” em 1989, nessa série em quatro volumes foram publicadas as histórias: “Santos-Dumont”,” Zumbi”, “Guararapes” e “O Padre Voador”; Ruy trabalhou com quadrinhos até o ano de 2008. 

Em 2005 a Editora Globo lança as revistas dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo para cobrir a área infantil e o álbum comemorativo dos 25 anos do Menino Maluquinho de Ziraldo ilustrado por vários artistas nacionais de peso como Maurício de Sousa, Nani, Daniel Azulay, Angeli, Marcelo Campos, Fábio Moon, Gabriel Bá entre outros; em 2008 a HQM lança uma nova revista do Senninha que só dura até o próximo ano, nesse ano estreia a Turma da Mônica Jovem, a versão adolescente de estilo mangá da famosa Turma, a Editora Globo encerra suas atividades com quadrinhos e em 2009 a editora As Américas lança a Turma do Arrepio de César Sandoval, Sidney Gusman lança “Maurício de Sousa por 50 artistas”, homenagem de diversos profissionais aos 50 anos de carreira do artista, juntamente com o especial “Bidu 50 anos”, o primeiro personagem criado por ele. Em 2009 é a vez do Cebolinha completar 50 anos de criação, no ano seguinte chegam a revista Didi & Lili – Geração Mangá trazendo o humorista Renato Aragão e sua filha Lívian Aragão em aventuras obviamente inspiradas nos mangás e no sucesso da Turma da Mônica Jovem, cujo formato influenciou o lançamento de Luluzinha Teen pela Pixel Media em 2009 que durou 65 edições vindo a ser cancelada em março de 2015, adaptação brasileira trazendo uma versão adolescente dos personagens de Luluzinha, Bolinha e sua turma, ainda em 2010 o jornal O GLOBO publica em sua reformulada página de quadrinhos materiais como: Bichinhos de Jardim, de Clara Gomes; Agente Zero Treze, de Arnaldo Branco e Claudio Mor; A Cabeça é a Ilha de André Dahmer; Urbano, o Aposentando, de A. Silvério; Menina Infinito, de Fábio Lira; Valente, de Vitor Cafaggi, este último lançado no Globo e atualmente publicado pela Panini. No mesmo ano Franco de Rosa uma graphic novel sobre a vida do famoso médium Chico Xavier, escrita por ele e desenhada por Rodolfo Zalla, é lançada pela Ediouro, a HQM Editora lança a revista da Turma do Xaxado, de Antonio Cedraz, importante quadrinista baiano falecido em setembro de 2014 criador de outros personagens como A Turma do Joinha, A Turma do Pipoca e Os Guris, a Turma do Xaxado, com personagens ambientados no Sertão Nordestino, tem grande influência no ambiente escolar devido ao seu conteúdo pedagógico que retrata diversas questões ambientais e culturais. Continuando o projeto de homenagem a Maurício de Sousa chega MSP +50 e em 2011, MSP Novos 50 contabilizando a colaboração de 150 artistas no projeto, os irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon ganham o Eisner Awards pela publicação de Daytripper, tornando-se os primeiros brasileiros a receberem esse prêmio. Em 2014, Christie Queiroz comemora os 25 anos da tira Cabeça Oca com os lançamentos de uma revista trissemanal e uma graphic novel desenhada por Watson Portela e em janeiro de 2015 é lançada Pátria Armada pelo Instituto dos Quadrinhos, fruto de financiamento coletivo do site Catarse, a primeira plataforma de Crowdfunding no Brasil criada em 2011, aonde se pode buscar financiamento para projetos artísticos de diversas naturezas, incluindo quadrinhos, o termo Crowdfunding vem da fusão de Crowd = multidão e Funding = Financiamento, materiais como Aurora e Comunhão de Felipe Folgosi; O Protocolo: A Ordem, reunindo 20 heróis brasileiros pelas mãos de Elenildo, Daniel Arcos, Augusto Velazquez e Thiago da Silva Mota nos argumentos e Ton Marx, José Amorim Neto e Lunyo Alves de Souza nos desenhos e cores e Mil Léguas Transamazônicas de Will e Spacca, são diversos trabalhos lançados com o auxílio dessa plataforma e muitos outros estão por vir, como a continuação de O Protocolo. 

Com isso chegamos ao final dessa série de artigos falando sobre as origens dos quadrinhos nacionais, como pudemos ver em mais de um século de trajetória o desenvolvimento dos quadrinhos no Brasil ainda se encontra em franca expansão com o auxílio de editoras independentes e de projetos de financiamento como Catarse, surgem a cada momento novos talentos inspirados pelo passado dos grandes mestres com muita imaginação e vontade de trazerem para o público seus projetos, citando como exemplos São Paulo dos Mortos, O Rei Amarelo e A Ameaça do Barão Macaco entre muitos outros publicados, mostrando que temos tudo em mãos para criar quadrinhos de qualidade e que merecem lugar de destaque na história das Histórias em Quadrinhos no Brasil. 

Fontes de Pesquisa e para maiores informações:
www.wikipedia.org
www.catarse.me

Por Giulianno de Lima Liberalli

Colaborador do Planeta Marvel/DC