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Colaboradores do Planeta Ouve Especial: Histórias do Rock Nacional - Banda Escola de Escândalos

Material produzido pelo nosso colaborador Jorge Luis

Nosso colaborador Jorge Luis inicia uma nova série de artigos contando um pouco da rica história do Rock Brasil, começando pela banda brasiliense Escola de Escândalos. 


HISTÓRIAS DO ROCK NACIONAL
Banda Escola de Escândalos 


O início, o meio e o começo do fim
A Escola de Escândalos fazia parte do quarteto de bandas que surgiram na década de 1980 em Brasília, junto com Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. A banda não conseguiu emplacar como as outras bandas da tríade, fazendo um relativo sucesso, mas encerrando suas atividades em 1986. Tinha uma grande fama cult, era considerada a "grande banda perdida" do Rock Brasiliense.
A ‘Turma da Colina’, como eram conhecidos os futuros jovens Rockeiros de Brasília, formariam mais à frente bandas como o Aborto Elétrico, Plebe RudeFusão, 5ª Coluna e XXX (futura Escola de Escândalos); estes jovens se encontravam nas “colinas” (conjunto de prédios habitacionais, próximo à UnB – Universidade de Brasília), onde ‘trocavam figurinhas’ acerca do estilo musical que fervilhava lá fora.
Primeira formação da Banda Escola de Escândalo, Feijão, Geraldo, Alessandro, Bernardo e Marielle
A Escola de Escândalo (nome retirado do clássico literário do autor irlandes Richard Brinsley Sheridan, The School for Scandal) foi formada em 1983 por Bernardo Mueller (irmão de Andre Mueller, da Plebe Rude, na voz) e Geraldo “Geruza” Ribeiro (irmão de Loro Jones, ex-Capital Inicial, no baixo), que vinham da banda XXX, foi uma das grandes promessas e referência de sucesso do rock brasileiro na década de 80. Entre 1984 e 1985 entraram na banda o lendário guitarrista Fejão (1965-1996), o baterista Alessandro “Itália” e Marielle Loyola, como apoio vocal para Bernardo.
Banda XXX na casa de Fê Lemos, em Brasília durante ensaio na década de 80, Alessandro ( bateria) e Geraldo Ribeiro ( baixo)


No começo dos anos 80, quando a cidade já tinha catapultado a Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, eles apareceram junto com mais 3 bandas cravadas no imaginário pop de muitos através da coletânea “Rumores”. Lançado em 1985, este disco marcou a estreia dos grupos Escola de Escândalo, Finis Africae, Elite Sofisticada e Detrito Federal. Com duas canções de cada banda, a Escola participou com as faixas “Complexos” e “Luzes” (esta sendo regravada pela Plebe Rude), que foram executadas com destaque nas maiores rádios rock do País da época, como a Rádio Fluminense/RJ e Estação Primeira/Curitiba. Foi através da resposta dos ouvintes dessas rádios que a banda foi convidada para muitos shows em todo o país, tendo como destaque a apresentação no programa de Tv “Mixto Quente” da Rede Globo em 85.

Foto de ensaio da Banda Escola de Escândalo
O som da Escola de Escândalo tinha personalidade, e um dos pontos fortes, com certeza, eram as letras, criadas através da realidade juvenil por Bernardo Mueller. Das mágicas mãos do guitarrista Fejão (1965-1996), vinham riffs de heavy metal que se uniam às melodias pop dos vocais, que tinham como base as levadas punk rock do baixo de Geruza e da bateria de Alessandro.
Com a volta de Alessandro à Itália, Antonio "Totoni" Fragoso assume as baquetas da banda e participa da maioria das novas composições da banda. Também passaram pela banda os bateristas Rogério Ribeiro e Eduardo "Balé" Raggi.
Registro da Banda antes da morte do guitarrista Fejão (de chapéu)
Segundo “O Diário da Turma”, livro de Paulo Marchetti, a banda acabou em 1988 deixando mais de 20 canções inéditas, faixas que ainda circulam pela web em versões demo e ao vivo, mas nunca foram registradas oficialmente pela banda. Fejão foi para o “Anjos Caídos” (depois Dungeon) e Marielle partiu para o “Arte no Escuro” (que lançou um álbum produzido por Gutje, da Plebe Rude) e, depois, Volkana.
A banda chegou a gravar, em 1986, um EP produzido por Philippe Seabra (Plebe Rude), que não foi lançado devido a “tretas” contratuais com a gravadora EMI.
EP produzido por Philippe Seabra em 1986
Em 2010 ainda foi feita uma compilação não-oficial, chamada Lost Tapes, que reuniu todas as gravações feitas pelo Escola mais alguns “bônus”.
2010: A VOLTA DA ESCOLA DE ESCÂNDALO
Com a morte do guitarrista Fejão em 96, todas as possibilidades de uma volta da banda foram extintas. Depois de 12 anos separada, em 2010, após conversas por e-mail entre Geraldo e Marielle, que num ímpeto de simplesmente "tocar", resolvem realizar um registro das muitas músicas da Escola de Escândalo, com apoio de Bernardo Mueller, que aprovou a ideia, mas decidiu ficar de fora do projeto.  Convocam então o baterista Totoni (que tocou na banda em 1984) e chegam à conclusão que para a guitarra tinha que ser um "discípulo", grande amigo e parceiro musical de Fejão, Alexandre Parente, guitarrista ao lado de Fejão da Banda de Heavy Metal Fallen Angel por mais de 10 anos, para as gravações.
Formação atual da Banda Escola de Escândalo
Assim, a Escola de Escândalo iniciou a produção do disco em outubro de 2010 fechando o repertório em dez faixas: “Caneta Esferográfica”, “Luzes”, “Complexos”, “Grande Vazio”, “Popularidade”, “Lavagem Cerebral”, “Quatro Paredes”, “Más Línguas,” “Só Mais Uma Canção de Soldados e Guerras” e “Celebrações” (do Arte no Escuro). O álbum chegou em março de 2014, celebrando os 30 anos da Banda.
A formação atual é Geraldo Geruza Ribeiro – Baixo; Antonio Totoni Fragoso – Bateria; Alexandre Parente - Voz e Guitarra e Marielle Loyola – Voz.

Confira uma matéria sobre os músicos da Banda na época da confecção do disco, em 2013:
Ainda tão jovens
Depois de três décadas de encontros e desencontros, a banda Escola de Escândalo prepara seu primeiro disco
 
Nova formação do grupo (Foto: Joédson Alves)
Marielle Loyola tinha 17 anos e jogava na seleção brasileira de handebol. O time treinava todas as tardes no Colégio Elefante Branco, na 908 Sul, bairro de Brasília. Os planos da garota incluíam os Jogos Olímpicos de 1988, mas foram deixados de lado quando conheceu uns "maloqueiros", em suas palavras, da Asa Norte, outro bairro de Brasília. O pai de Marielle era militar. Tinha sido maestro da banda do Exército. Ficava duplamente contrariado ao ver a filha em novas companhias: não só a música que ouviam não era adequada, como se vestiam de um jeito esquisito e... "Eles eram punks", define Marielle, de 50 anos, quase três décadas depois de receber o convite de Geraldo Ribeiro para cantar num grupo de rock. Escola de Escândalo, a banda que atormentava o capitão Adilson Loyola, tornou-se lenda em Brasília. Era o lado B da história de ascensão e glória que ainda gira em torno de Renato Russo e da Legião Urbana.
A Escola de Escândalo deveria ter sido a próxima grande banda da cidade, seguindo um caminho aberto pelo brasiliense honorário Herbert Vianna, e por seu Paralamas do Sucesso, também trilhado por Legião, Plebe Rude e Capital Inicial. Mas a Escola ficou pelo caminho e, hoje, em pleno 2013, tenta curar as feridas internas e superar as perdas irreparáveis do tempo para -- enfim -- lançar seu primeiro álbum.
Marielle nos dias atuais
Geraldo Ribeiro e Marielle são os dois integrantes da formação clássica da Escola de Escândalo que, depois de convidados para se reunir durante o festival Porão do Rock, há um par de anos, participam do conjunto atual. É um tanto da vida de cada um deles que está ali naquela banda.
O jovem Geraldo, de apelido Geruza, montou o Blitx 64 com seu irmão, o guitarrista Loro Jones, aproveitando as tardes vazias da 308 Norte, quadra de Brasília. Naquela quadra, em meados dos anos 80, punks e metaleiros testavam a convivência em bandas que duravam dois ou três ensaios. Loro logo partiria para o Capital Inicial, deixando Geruza à vontade para formar o XXX (xis xis xis), embrião da Escola.
Bernardo Mueller, filho do economista e professor Charles Curt Mueller, da Universidade de Brasília (UnB), colaborava com as letras existencialistas de canções como Luzes e Complexos que fizeram a fama da Escola e entraram para a coletânea Rumores (1985), recém-lançada.
Capa e vinil do disco Rumores de 1985
Gravadas numa fita cassete, essas músicas chegaram às rádios do Rio de Janeiro e de São Paulo -- e às mesas dos executivos da gravadora EMI, casa dos Paralamas, da Legião e da Plebe. Com uma pequena ajuda dos amigos, a Escola foi convidada para gravar algumas canções no estúdio carioca do selo. Líder da Plebe Rude, Philippe Seabra, aos 19 anos, encarregou-se de produzir as sessões.
"Infelizmente, as gravações foram recusadas", relembra Seabra, hoje produtor experiente e dono de estúdio próprio. "Se tivesse dado certo, certamente o destino do Fejão seria outro."
Seabra se refere a outro integrante original da Escola de Escândalo, um dos mais importantes músicos daquela geração. O som peculiar da banda exibia melodias radiofônicas, mas tinha, também, a guitarra feroz de Luís Eduardo Ferreira, o Fejão, um fã de heavy metal que sabia dosar seu virtuosismo em canções pop de três minutos.
De certa forma, lembram todos os envolvidos nessa história, o talentoso e carismático Fejão era quem mantinha a banda junta, aparava as arestas internas e dava identidade própria às músicas. Nenhuma dessas qualidades, no entanto, seria suficiente para manter a Escola de pé depois de ser rejeitada pela EMI.
Encarte do disco Rumores com duas músicas da Banda Escola de Escândalo
Naquele momento, Marielle já tinha saído para cantar no “Arte no Escuro” e os executivos preferiram ir atrás dela e assinar contrato com seu novo grupo.
"Foi frustrante. Queríamos ir para a mesma gravadora de nossos amigos e nunca nos recuperamos daquele baque", admite Eduardo Espinoza, o baterista Balé. Além disso, completa Bernardo Mueller, "a economia brasileira entrou em colapso e fez com que as gravadoras cortassem os investimentos".
Mueller diz isso com o conhecimento de quem estudou economia, fez doutorado nos Estados Unidos e hoje, a exemplo do pai, é professor da UnB.
Balé e ele recusaram os convites para voltar à Escola. Para os dois, não faz mais sentido correr atrás de um sonho de juventude. Ainda mais sabendo que o amigo guitarrista não estará lá.
             Feijão, que morreu aos 33 anos (Foto: Divulgação)

Fejão morreu aos 33 anos. Ainda no fim da década de 80, ele foi preso por tráfico de drogas. Cumpriu dois anos de detenção na Papuda, prisão de segurança máxima. Os amigos acreditam que foi ali, ao fazer uma tatuagem sem os cuidados necessários de higiene, que ele pegou o vírus HIV. O músico se despediria da vida em julho de 1996, quatro meses antes de Renato Russo.
Na ausência de Fejão, Marielle e Geraldo chamaram Alexandre Parente para a Escola versão 2013. Parente tinha tocado com Fejão na banda Dungeon e, amigo de longa data, sabia de cor aquelas músicas. O baterista Hélder Bonfim, também ex-Dungeon, completa a formação atual da Escola de Escândalo.
Marielle, neste momento, coloca os vocais nas últimas músicas -- rigorosamente as mesmas da época da EMI. A ideia é lançar o álbum até o fim do ano. Geraldo, um dos técnicos de estúdio mais respeitados de Brasília, arremata as faixas. Só há um inconveniente...
Marielle mora em Curitiba desde os anos 90. Foi para a cidade cuidar dos pais. Se o capitão Adilson Loyola ainda não entende seu gosto musical, já não reclama das companhias. Dia desses, até aconselhou a filha a emoldurar as reportagens que saem na imprensa. Mas Marielle sabe bem que, para a Escola de Escândalo ter futuro, ela precisará, mais uma vez, sair da casa dos pais.
Escola de Escândalo em 1986
Confira agora parte de uma entrevista publicada em maio de 2010 no site Rock Brasília com Marielle:
Quais as recordações mais marcantes que você tem de Brasília? Como era a cena de rock nos anos 80 e 90? Sente saudade?

Nossaaaa....muita saudade, foi uma fase de pureza de sentimentos, de ideias, de ideais, tudo era tão forte. A vontade de fazer música, de dizer o que sentíamos. Era muito diferente de hoje, quando as bandas fazem música para fazer sucesso, para tocar em rádio, naqueles dias nunca nem se imaginava uma banda como as de Brasília tocando em rádio. Fazíamos música porque gostávamos de fazer música, sem base nenhuma, sem estudo musical. Era tudo muito de sentimento, de notas que achávamos legais, acho até que essa sinceridade foi o maior motivo do reconhecimento pela mídia e produtores nacionais aos artistas da cidade, pois a sinceridade leva tudo mais longe, dá mais vida! Muita saudade das bagunças com os amigos, dos ensaios no Rádio Center. Parece até coisa de velho né? (risos) Mas só vai entender quem viveu isso!
 
Eu gostaria de falar sobre os anos que antecederam a formação do Arte no Escuro. Brasília era um saudoso celeiro de bandas punks, e você integrou a banda Escola de Escândalo. Como você descreveria esse tempo e as duas bandas cujas histórias se confundem com as suas?
Marielle: Bem, na verdade, as lembranças que tenho são as de uma pré-adolescente normal integrando-se a um grupo de pessoas com informações variadas e já criando seus ídolos, que, naquele momento, eram o Renato Russo e o Marcelo Bonfá, nosso galã (risos). O meu primeiro ensaio com o Escola de Escândalo foi engraçado... eles ensaiavam no "closet" da casa do Alessandro "Itália" (o pai dele era embaixador da Itália, acho). Eu cheguei e só conhecia o Itália, e ele foi me apresentando aos outros componentes: Bernardo era o vocalista, irmão mais novo do André X, baixista da Plebe, grande poeta. Geraldo era o baixista, irmão do Loro Jones do Capital, muito boa pessoa e divertido, daí eles me apresentaram o Fejão como um tarado sexual, dizendo que tudo correria bem se eu não chegasse muito perto! (risos) Na minha opinião, ele é um dos maiores guitarristas que esse país já teve, tornando-se um irmãozão... saudade do Nego Véio... Mas o que me assustou mesmo foi a altura dos caras. Acho que o mais baixo deles tinha 1,87 m de altura. Eu, com meu 1,69 m me sentia uma formiguinha ali. Bem, como vocês podem sentir, a nossa convivência sempre foi legal com a turma e tudo era bem divertido... um bando de malucos alegres. 
Material compilado dos blogs: Sete doses de cachaça, Cult 22, e blog do Editor do Scream & Yell,  e dos sites: Lixeira do Pop, Programa de Rock e Wikipédia, editados e revisados por Jorge Luis, colaborador do Planeta Marvel / DC.