Nosso colaborador Giulianno de Lima Liberalli finaliza seus trabalhos na década de 70 ao lado de dois grandes justiceiros - Lanterna Verde e Arqueiro Verde, uma fase que definiu uma amizade que durou décadas.
A Panini lançou quase simultaneamente as partes 2 e 3
de Lendas do Universo DC – Lanterna Verde e Arqueiro Verde me deixando com um belo
dilema nas mãos que era falar sobre o volume 2 separado ou junto do volume 3,
porém como uma clássica história tem início no segundo volume e conclusão no
terceiro, optei por resenhar as duas publicações juntas. Melhor poder falar da
relevância dessa fase de uma tacada só, sem ter que deixar um gancho para
continuar em um próximo texto e o assunto não esfria.
O segundo volume se inicia com a sequência dos
eventos no final do primeiro volume aonde vimos o Guardião do Universo
designado para acompanhar os heróis na Terra e aprender mais sobre os
irracionais e desconhecidos sentimentos humanos, ser levado a julgamento por
ter salvado a vida do Lanterna Verde ao invés de impedir um grave desastre
ambiental. Só que, devido à rebelião de um técnico que tomou conta do sistema
computadorizado do planeta judiciário Gallo, o processo de julgamento se
revelou uma farsa desmontada pelos heróis que pediram para acompanhar o
Guardião como testemunhas de suas ações.
Depois de resolverem a situação, os heróis são levados
a OA e ficam, novamente, diante dos Guardiões que tomam para si a decisão de
como punir o irmão que traiu os seus princípios imortais para salvar um amigo.
O grupo é enviado para Maltus, planeta natal dos Guardiões, para deixar o
Guardião condenado no planeta e lá permanecer pelo resto de sua existência, mas
chegando ao planeta se deparam com um mundo consumido pela dor e pela fome
causadas pelo excesso de população, Lanterna e Arqueiro precisam descobrir as
razões dessa explosão demográfica e restabelecer a ordem. Aqui temos uma
previsão sombria do que poderia acontecer com a Terra se a população crescesse
além do controle, levando a civilização ao caos.
De volta ao nosso mundo as próximas histórias já são
mais típicas dos quadrinhos da época, com a dupla enfrentando supervilões como
uma bruxa dimensional e um velho inimigo do Lanterna Verde em uma aventura que
envolve até amazonas e seres mitológicos. Em seguida, Canário Negro consegue
emprego como professora em uma escola do interior, acompanhada dos heróis ela
enfrenta a ameaça de crianças que parecem comandar os adultos com propósitos
estranhos, essa história me pareceu uma referência a um clássico filme da
década de 60, A
Vila dos Amaldiçoados, aonde um evento transforma crianças em seres terríveis,
mas a verdadeira ameaça se escondia por trás das crianças, nessa mesma aventura
Carol Ferris, amor de Hal Jordan, acaba em uma cadeira de rodas por culpa do
mesmo vilão que controla as crianças.
Em seguida, o Lanterna Verde fica em apuros quando
descobre que, depois de ajudar uma cidade à beira de um desastre, ela está
dominada em segredo por um dos seus arqui-inimigos cujo plano é usar a
revolução do plástico na indústria como fachada para um evento de controle
mundial, nas entrelinhas está a crítica de Dennis O´Neil ao avanço do plástico
como uma alternativa mais barata na industrialização e pela maioria dos
materiais que temos em casa hoje em dia, percebemos que ele estava visualizando
o futuro, sinistro...
Fechando o segundo volume, temos a clássica “Nas
Veias”, a história em duas partes que trouxe para o mundo dos quadrinhos um
corajoso retrato do problema das drogas nas ruas, corrompendo e destruindo a
juventude da época, problema que infelizmente persiste até hoje em escala
mundial. Os autores buscaram usar o título para espalhar um alerta entre os
leitores sobre o perigo do vício dos entorpecentes, um dos maiores efeitos
provocado foi a reestruturação do Comics Code Authority, a censura nos
quadrinhos, para que temas importantes como esse pudessem ser livremente
abordados em publicações voltadas para o público juvenil. A trama se inicia com
Oliver Queen sendo ferido por bandidos de rua usando uma besta, levado para o
hospital ele constata que não foi alvejado por uma flecha qualquer, mas por uma
das suas próprias flechas, junto com o Lanterna Verde ele começa uma
investigação para descobrir quem estava usando armamento seu nas ruas, o que o
leva a enfrentar um traficante de drogas, no desenrolar dos acontecimentos vem
a chocante descoberta que seu protegido e parceiro Ricardito acabou se viciando
em drogas.
A conclusão abre o terceiro volume com um
transtornado Arqueiro Verde questionando os motivos de seu parceiro ter se
tornado um viciado e partindo para investigar quem seria o responsável pelo
tráfico na região, enquanto Ricardito é auxiliado pelo Lanterna Verde e pela
Canário Negro a superar a abstinência pela falta de drogas, os heróis conseguem
descobrir quem é o responsável e o levam a justiça, mas não é o suficiente para
sanar as feridas deixadas nas suas vidas. Essa saga mostra, em uma época
altamente conservadora e censurada, as consequências de uma overdose, alguns
dos motivos que levam os jovens a se drogarem e o quanto o caminho de volta é
doloroso. O título recebeu prêmios e uma mensagem enviada pelo então prefeito
de Nova York John V. Lindsay parabenizando a editora e a equipe pela coragem de
abordar um tema tão polêmico.
A história a seguir também é muito marcante na
cronologia do Lanterna Verde por mostrar a origem de John Stewart, escolhido
como herdeiro do anel depois que Guy Gardner, atual sucessor do Lanterna Verde,
é gravemente ferido durante um terremoto fazendo que os Guardiões escolham um
novo candidato, vemos o treinamento e a primeira missão de Stewart com o uniforme,
vale destacar o choque comportamental entre o certinho Hal Jordan e o descolado
e extrovertido John Stewart durante a missão de proteger um político ambicioso
conhecido por seu comportamento racista, paralelo a isso vemos a vida do
Arqueiro Verde começar a tomar novos rumos separado do seu parceiro esmeralda.
Depois temos uma investigação de sabotagem nas
Indústrias Ferris que revela a participação de um ativista ambiental admirado
por Oliver Queen, o Lanterna e o Arqueiro descobrem que a empresa da namorada
de Hal Jordan está envolvida em atividades ilegais de fabricação e testes de
novos aviões, a tarefa é resolvida, mas com graves consequências para o romance
de Hal. A curta saga a seguir que encerra o volume mostra o Arqueiro tomando um
novo rumo na sua vida depois de um grave acidente durante uma luta contra
ladrões, Canário Negro pede a Hal Jordan que parta junto com ela para ajudarem
o amigo desaparecido por não conseguir viver mais consigo mesmo depois do erro
que cometeu, durante a investigação Canário é gravemente ferida e hospitalizada
e o único sangue compatível para transfusão é o de Oliver, Hal inicia uma
corrida desesperada para encontrar o amigo antes que Dinah morra.
Mesmo com a qualidade do trabalho das histórias desse
volume a revista do Lanterna Verde, que passava por problemas devido as baixas
vendas, foi descontinuada no número 89 e as histórias finais foram publicadas
na revista do FLASH encerrando a parceria de Dennis O´Neil e Neal Adams nas
histórias dos heróis esmeralda mais famosos da DC, porém sua marca no mundo das
HQs permanece para sempre.
Por
Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador
do Planeta Marvel/DC