Rapidamente, Astro se deparou com outra grande surpresa: quase todas as colônias terrestres foram atacadas e dominadas pelos Badoons, uma raça alienígena de características reptilianas que objetivava a dominação universal e que tinha aparecido pela primeira vez no Universo Marvel em 1968 no gibi Silver Surfer #2 (no Brasil, Biblioteca Histórica Marvel – Surfista Prateado, 2008, Panini). Neste processo, as populações das colônias foram quase totalmente extintas e, de peripécia em peripécia Astro acabou reunindo-se com três sobreviventes: Yondu, um caçador oriundo de Alpha Centauri e especialista no uso de arco e flecha, além de ser dotado de poderes empáticos e místicos; Charlie-27, um militar nascido em Júpiter que possuía um corpo completamente adaptado para suportar a enorme força gravitacional do seu planeta natal; e Martinex, que era dotado de uma epiderme cristalina que permitia a sobrevivência nas temperaturas extremas de Plutão (seu planeta de origem), além de dotá-lo da capacidade de emitir ondas de calor e de frio. Reunidos, estes quatro indivíduos entenderam que deveriam unir suas forças e talentos para enfrentar os Badoons e libertar a Via-Láctea do seu jugo. E assim nasceram os Guardiões da Galáxia...
Muito simpático tudo isso, não acham? Apesar da boa recepção dos fãs, os Guardiões ganharam uma passagem para o Limbo dos Quadrinhos e somente voltariam a dar o ar da sua graça cinco anos depois...
Nesta aparição os Guardiões ganharam novos e mais vistosos uniformes – cortesia do artista Dave Cockrum –, e pelo visto Gerber tomou gosto pelos personagens, e novamente ao lado de Buscema em 1975 ele fez uso deles em uma história dividida em cinco partes (inédita no Brasil) que começou em Giant-Size Defenders #5 (desenhada por Don Heck) e continuou entre a vigésima-sexta e vigésima-nona edição da revista The Defenders, onde com o apoio dos Defensores (uma super-equipe da Marvel dos anos setenta que na época contava com o Hulk, Doutor Estranho e outros heróis) os nossos guerrilheiros interplanetários desferiram um poderoso golpe contra a dominação Badoon na galáxia. De lambuja, nessa aventura os Guardiões ganharam um novo membro: Águia Estelar (StarHawk), um misterioso indivíduo vindo do planeta Arcturus IV e dotado de vastos poderes cósmicos, que incluíam geração e manipulação de energia, precognição, invulnerabilidade, capacidade de voo e de sobrevivência aos rigores do espaço sideral.
Provavelmente os fãs gostaram do que viram, já que em
Mas, fica uma pequena pergunta no ar: o que motivou Gerber a escrever roteiros para esses personagens? Ele mesmo explicou a sua motivação na vigésima-primeira edição da revista FOOM, uma espécie de fanzine oficial da Marvel publicado nos anos setenta: “A maioria das séries que escrevi até então eram ambientadas no presente. Eu queria fazer algo que combinasse os elementos típicos do gênero ‘super-herói’ com alguma coisa um pouquinho diferente, que pudesse deixar a minha imaginação um pouco mais solta. [...] Eu sentia que os personagens em sua história original não tinham a sua caracterização bem definida. Eu queria fazer Vance Astro um pouco mais ‘insano’ do que ele era antes, depois de ficar trancado em uma capsula espacial por mais de duzentos anos – e eu queria fazer Charlie um pouco mais militar, Yondu mais espiritualizado e Martinex mais dotado de talentos científicos. E Nikki foi jogada lá como um elemento-surpresa”.
Um momento: quem é essa tal de Nikki, que Gerber acabou de citar? Última sobrevivente do planeta Mercúrio, a jovem Nicholette “Nikki” Gold fugiu de seu planeta natal durante a invasão Badoon e nos anos subsequentes vagou sozinha pelo espaço, até ser encontrada pelos Guardiões no gibi Marvel Presents #4. Perita em combate corpo-a-corpo e no uso de armas de fogo, como todo mercuriano ela exibia uma cabeleira flamejante e era apta a sobreviver em ambientes extremamente quentes ou radioativos. Naturalmente, ela se tornou membro da equipe e o seu jeito “espevitado” adicionou um leve toque de tensão sexual as aventuras dos Guardiões.
Mas existia outro elemento muito mais importante nas histórias dos Guardiões concebidas por Gerber: “Eu realmente não queria me aprofundar na continuidade do Universo Marvel – eu não queria falar sobre o Homem de Ferro, que morreu em 1998, ou colocar os Guardiões se encontrando com os Krees, Skrulls ou o Vigia, ou qualquer outro personagem conhecido – basicamente porque não queria colocar ninguém em uma posição onde fosse necessário explicar toda essa bagunça. Por isso, me pareceu melhor criar novos inimigos e novas raças para eles encontrarem”.
:: A História do Águia Estelar
Com a personalidade de Stakar dominando o novo corpo, ele passou a se chamar Águia Estelar, e abandonou Arcturus IV, vagando por centenas de anos pelo universo em busca de aventuras. Eventualmente, Aleta (cuja consciência ainda vivia dentro do corpo do herói) se apaixonou pelo seu irmão adotivo, e em alguns momentos eles conseguiram se separar temporariamente e consumar o seu amor. O que foi o suficiente para eles terem três filhos: Tara, Sita e John, que foram deixados sozinhos em um asteroide escondido, quando Stakar decidiu se unir aos Guardiões para libertar a Terra dos Badoons.
Posteriormente, em Marvel Presents #10 os filhos de Stakar e Aleta foram sequestrados pelo “vovô” Ogord, que pretendia usar as crianças como um instrumento de vingança contra os pais. Infelizmente, no transcorrer desses eventos as crianças morreram, e a relação entre as duas pessoas que constituíam o Águia Estelar se tornou mais complicada, pois Aleta passou a culpar Stakar pela morte dos filhos. No futuro, isso teve importantes desdobramentos tanto para Stakar e Aleta quanto para os Guardiões, mas sobre esse assunto falaremos mais daqui a pouco.
:: A Saga de Korvac
Korvac pretendia tomar para si toda a Via-Láctea, e naturalmente Thor e seus aliados conseguiram frustrar seus planos. Mas, o que parecia ser apenas uma aventura corriqueira do Filho de Odin acabou se transformando no “pontapé inicial” para uma das mais famosas e importantes sagas dos Vingadores.
De fato, Korvac estava no Século XX e procurava meios de se desforrar dos Guardiões, e essa busca o levou a base estelar de Galactus, uma entidade cósmica temida em todo o Cosmo por se alimentar da energia vital de planetas. Ao tentar acessar os computadores da base, a sobrecarga de informações transfigurou Korvac, que repentinamente passou a reter os poderes quase absolutos de um deus! Com a sua recém-adquirida divindade, Korvac abandonou seus planos de vingança contra os Guardiões, e passou a vislumbrar uma nova e ambiciosa meta: a imposição de uma benigna ordem universal, onde a injustiça e o caos seriam coisas do passado. Obviamente, essa ordem seria comandada por ele...
Com o tempo os Guardiões e os Vingadores tomaram conhecimento dos objetivos de Korvac, e em The Avengers #177 eles o combateram, em uma das mais sangrentas batalhas já ocorridas em um gibi da Marvel, batalha essa que redundou na morte da maioria dos heróis! Mas, como assim, a ”morte da maioria dos heróis”? Bem, alguns meses antes dessa luta Korvac tomou como esposa Carina, uma bela mulher oriunda dos Anciões do Universo, um dos mais antigos e poderosos agrupamentos alienígenas do Universo Marvel. Ao ver a carnificina executada por seu marido, Carina abandonou-o e, tomado pelo remorso por suas ações, Korvac fez uso de seus vastos poderes para ressuscitar os heróis, falecendo no processo.
Escrita por Jim Shooter, Bill Mantlo e David Micheline e desenhada por vários artistas, como falamos anteriormente esse conjunto de aventuras se iniciou em The Avengers #167 e foi finalizado em The Avengers #177, e hoje é conhecido pelos fãs como a Saga de Korvac. Aqui no Brasil, a maioria das histórias que constituem essa saga foi publicada pela Editora Abril no segundo semestre de 1986 na revista Heróis da TV, e posteriormente finalizada no final do mesmo ano em Grandes Heróis Marvel #14.
:: Mais Aparições Especiais
No final de 1979 os Guardiões se aliaram ao Homem-Aranha em uma aventura publicada na revista Marvel Team-Up #86, (e inédita no Brasil) com o propósito de impedir que uma corporação da nossa época tomasse posse de segredos científicos do século XXXI. No início de 1980, o Coisa, Águia Estelar e a heroína conhecida como Serpente da Lua se encontraram com Parágona (anteriormente conhecida como Ela, e mais tarde autodenominada Kismet), uma super-humana criada artificialmente na Terra por um grupo de cientistas malignos conhecidos como Enclave. O propósito de Parágona era reviver o recém-falecido herói Adam Warlock (também criado pelo Enclave) e tomá-lo como esposo, porém ela falha em seus objetivos. Lançada entre as sexagésima-primeira e sexagésima-terceira edições de Marvel Two-In-One, no Brasil essa história foi publicada no comecinho de 1985 no número #19 e 20 do gibi O Incrível Hulk, da Editora Abril.
Na revista Marvel Two-In-One #69, em um surto de insensatez Vance Astro parte em busca de seu jovem “alter ego” do Século XX, na tentativa de convencê-lo a não seguir carreira como astronauta, e consequentemente não passar pelo sofrimento de vagar sozinho durante mil anos pelo espaço sideral. Tal atitude de Astro poderia causar danos irreparáveis no tecido do Espaço e do Tempo, e o Coisa aliado aos Guardiões tentou evitar tal encontro. Eles falharam nesta missão, e o encontro de Vance Astro com o seu “jovem eu” fez com que o pré-adolescente Vance Astrovik tivesse os seus poderes telecinéticos de origem mutante despertados de maneira precoce.
O “tecido do Espaço e do Tempo” não foi “esgarçado”, porém essa pequena aventura concebida por Mark Gruenwald e Ralph Macchio e desenhada por Ron Wilson teve outras consequências mais interessantes: tempos depois Gruenwald (um escritor/editor fanático pela sistematização da cronologia do Universo Marvel) definiu que os heróis futuristas eram oriundos da Terra-691, uma realidade alternativa que surgiu justamente por causa de todas as idas e vindas dos Guardiões da Galáxia pelo Tempo; o jovem Vance Astrovik não virou astronauta, porém ao ficar mais velho decidiu seguir carreira super-heróica, adotando inicialmente a alcunha de Marvel Boy (mudando-a mais tarde para Justiça) e posteriormente se tornando membro dos Novos Guerreiros (um supergrupo constituído de heróis adolescentes) e dos Vingadores e, por fim, os Guardiões foram mandados para o Limbo dos Quadrinhos e ficaram durante todos os anos oitenta sem dar as caras em nenhum gibi da Marvel.
DeFalco esboçou uma proposta para a nova série, porém mesmo assim pediu para que os colaboradores da Marvel trouxessem ideias para o projeto. Pouco tempo depois, ele recebeu outra proposta, elaborada pelo escritor e desenhista Jim Valentino, conforme ele relatou para o site especializado em quadrinhos Newsarama: “Eu decidi criar uma proposta para uma nova série dos Guardiões da Galáxia que envolvesse uma grande organização chamada ‘Os Guardiões’ e fosse focada em uma equipe específica. [...] Eu li as ideias de Jim, que foram colocadas em uma ‘bíblia’ básica, e ele me mostrou como elas poderiam funcionar como uma minissérie fechada ou como uma série sem término previsto. Eu comparei a proposta de Jim com a minha e entendi que a dele era melhor, e o resto é história”.
Os fãs conheceram as ideias de Valentino em junho de 1990, quando chegou nas comics shops a primeira edição da nova série mensal Guardians of the Galaxy. Após uma rápida recapitulação da origem da equipe e dos personagens, logo de cara os nossos heróis são obrigados a enfrentar uma desconhecida e perigosa raça alienígena: os Starks! Ora, eles tinham algum tipo de relação com Tony Stark, mais conhecido como Homem de Ferro? A resposta é... Sim!
A maneira como Valentino concebeu os Starks era uma demonstração de como ele pretendia retratar o futuro do Universo Marvel: durante uma invasão extraterrestre empreendida por marcianos (relatada na série setentista da Marvel chamada Killraven, que por sua vez foi claramente inspirada no romance sci-fi Guerra dos Mundos, de H.G. Wells) ocorrida no final do Século XX, Tony Stark bota toda a sua tecnologia em um foguete e a envia para fora da Terra, já que ele temia que ela pudesse ser roubada pelo inimigo. O que Stark não sabia é que o seu foguete iria pousar em um planeta habitado por um uma população primitiva, porém inteligente o bastante para, após algumas gerações, obter pleno domínio dos seus projetos e, graças a eles, se tornar uma belicosa civilização.
Mas não pensem que as citações ao Universo Marvel do Presente ficaram restritas aos Starks: além de enfrentar os “herdeiros” do Homem de Ferro logo no seu primeiro arco de histórias os Guardiões partiram em busca do escudo do Capitão América, que estava perdido há centenas de anos e era pretendido por um grupo de malfeitores. Após algumas peripécias, Vance Astro tomou posse do escudo, e no transcorrer da série em homenagem ao seu ídolo ele mudou o nome para Major Vitória (Major Victory).
Este primeiro arco de histórias (batizado com o nome de “Quest for the Shield” – A Busca pelo Escudo) foi publicado no Brasil entre o final de 1991 e o começo de 1992 entre as edições #6 e 9 da revista Marvel Force da Editora Globo, e infelizmente foram as únicas aventuras desta série dos Guardiões lançadas por aqui. De um jeito ou de outro, a série continuou a ser publicada nos EUA, e algumas pequenas surpresas foram reservadas para os leitores.
O gibi Guardians of the Galaxy #7 marcou a estreia de Malevolence, a maligna e poderosa filha de Mefisto, o arquidemônio do Universo Marvel, e na edição seguinte os leitores conheceram Rancor, a sanguinária rainha de uma colônia mutante que alegava ser descendente direta de Wolverine e, como perigo pouco é bobagem em Guardians of the Galaxy #25 os nossos heróis enfrentaram Galactus ao lado do Surfista Prateado e do Senhor do Fogo, ex-servos do Devorador de Mundos que também chegaram vivos até o Século XXXI.
Gallagher continuou seguindo a premissas estabelecidas por Valentino para a série, e uma delas foi a separação física de Águia Estelar e de sua esposa Aleta. Ressentida com o seu marido por causa da morte dos filhos, Aleta rompeu os laços com ele, passou a atuar de forma mais ativa junto aos Guardiões e iniciou um romance com Vance Astro. Outros pequenos “easter eggs” e homenagens ao Presente do Universo Marvel continuaram a aparecer no gibi, porém as maiores surpresas estavam reservadas justamente para o Águia Estelar.
Vocês se lembram de Parágona, também conhecida como Kismet, que foi citada no meio deste artigo? Pois bem, em Guardians of the Galaxy #59 o mais poderoso membro dos Guardiões descobriu que ela era a sua verdadeira mãe, e que seu pai era ninguém mais ninguém menos que Quasar, um herói terrestre portador de poderosos braceletes quânticos e que durante um tempo foi guindado a posição de “Protetor do Universo” pela entidade conhecida como Eon. O Águia Estelar nasceu em Vésper porque durante as invasões marcianas (também já citadas aqui!) temendo pelo bem-estar da sua amada o herói levou-a para este distante planeta, e por lá o seu filho recém-nascido foi encontrado por Ogord.
Já que falamos da invasão marciana, a série mensal Guardians of the Galaxy se encerrou em meados de 1995 na sexagésima-segunda edição, tendo justamente elas como tema, uma vez que em uma missão suicida no melhor estilo “Exterminador do Futuro” os Guardiões retornam novamente no Tempo para tentar impedir que a Terra seja invadida pelas forças de Marte. Para azar dos nossos heróis, eles perdem a sua nave espacial e ficam impossibilitados de voltar para o Século XXXI, deixando em aberto o destino final dos heróis.
:: De volta ao Século XXXI
Concebida pelo roteirista britânico Dan Abnett e desenhada por Gerardo Sandoval, a nova série tentará resgatar os conceitos básicos dos personagens, segundo depoimento dado ao site Newsarama pelo autor: “Fiel as histórias originais, nessas aventuras eles estão tentando salvar o futuro da ameaça dos Badoon. [...] Eu quero manter este elemento, e tentarei não contradizer nenhuma continuidade. E, por fim, e acima de tudo, eles são guerrilheiros, encarando uma imensa e hostil cultura. Entretanto, eles logo descobrirão que os Badoons são apenas a ponta do iceberg, uma ameaça oportunista tirando vantagem de uma crise desconhecida e muito mais profunda”.