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O Flash de Mike Baron - Parte 1


Sejam bem-vindos à Força de Aceleração! Hoje começaremos uma série de artigos focada no período logo após a saga Crise nas Infinitas Terras, quando o roteirista Mike Baron assumiu a difícil tarefa de apresentar aos leitores um novo Flash, aquele que viria a substituir Barry Allen pelos próximos 20 anos e se tornar para muitos que cresceram nessa época o maior Flash de todos. Sim, estamos falando de Wally West, e essa é a história de seu primeiro ano como Flash!

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Roteiro: Mike Baron
Desenhos: Jackson Guice
Arte-final: Larry Mahlstedt
Cores: Carl Gafford
Editor original: Mike Gold
Publicação original: Flash #1 e #2 (junho e julho de 1987)
Publicação nacional: Os Novos Titãs 33 e 34 (dezembro de 1988 e janeiro de 1989) – Editora Abril


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Mike Baron era um jovem roteirista proeminente que publicava seus trabalhos em editoras independentes. Seu maior sucesso era (e talvez ainda seja) a ficção científica Nexus. Quando o editor Mike Gold precisou injetar sangue novo no Flash pra revitalizar o personagem e torná-lo interessante para a geração dos anos 1980, foi ele quem Gold procurou.

Mike Baron começa sua história de modo bastante simbólico, com o aniversário de 20 anos de Wally West. O simbolismo aqui é bem claro: Wally estava deixando de ser adolescente (dezenove em inglês é o último ano “teen”) e se tornando um jovem adulto, ao mesmo tempo em que ele deixava de ser Kid Flash para assumir sua identidade heroica mais madura: o próprio Flash. E, assim como um jovem tem dificuldade pra provar que se tornou adulto, Wally tem dificuldade pra ser reconhecido como Flash. A todo momento as pessoas o chamam de Kid Flash (mesmo ele estando vestido como Flash) ou apenas de Kid (garoto, em inglês), o que não deixa Wally nada feliz.

A presença dos Novos Titãs em sua festa de aniversário reforça ainda mais o simbolismo do amadurecimento. Por quase 10 anos, Wally foi um dos principais personagens no blockbuster que foi a revista New Teen Titans, de Marv Wolfman e Gerge Pérez. E antes disso, por 12 anos ele participou da primeira encarnação dos Novos Titãs. Portanto, para o público, Wally era um personagem indissociável dos Titãs, afinal foram 28 anos como Kid Flash (ele foi criado em 1959), sendo 21 anos como parte integrante dos Novos Titãs. E agora era o momento de se libertar disso, de deixar as amizades do passado e começar uma nova vida. E Baron faz isso acontecer de forma bastante natural, sem um rompimento radical, mas com um afastamento gradual, baseado na própria vida que o personagem passou a viver, onde aquelas amizades simplesmente não se encaixavam mais. No início, Wally ainda recorria a eles quando precisava, mas com o passar do tempo isso foi se tornando cada vez mais raro.

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A festa de aniversário de Wally é interrompida quando ele recebe uma ligação do hospital infantil St. Mary, em Manhattan. O Dr. Aikens precisava enviar um coração para Seattle para realizar um transplante, mas uma forte tempestade estava impedindo os aviões de pousar, e a paciente precisava receber o coração em no máximo cinco horas. E, numa atitude extremamente inusitada para um super-herói, mas ao mesmo tempo extremamente coerente, Wally diz que vai fazer o transporte, mas eles precisavam oferecer algo em troca. Afinal, essa não era uma tarefa de salvamento heroico padrão, tratava-se de um transplante de coração, e em uma operação dessas todo mundo é pago, desde os médicos até os transportadores. Se ele iria entrar como parte da cadeia, ele também precisaria ser pago. Assim, como pagamento, Wally pede que eles façam um plano de saúde pra ele, e também exige uma passagem de volta de avião.

A atitude de Wally nesse ponto é muito justa, e é algo que normalmente não pensamos quando lemos histórias de super-heróis. Estamos acostumados a ver os heróis salvando as pessoas e o mundo a todo o momento, mas não nos damos conta de que eles poderiam utilizar seus poderes em trabalhos comuns, recebendo por isso como qualquer trabalhador honesto. Isso não é se aproveitar dos poderes pra se isentar das responsabilidades (calma Tio Ben, não fique nervoso), é apenas utilizá-los para contribuir com a sociedade de forma natural. Acho que os roteiristas deveriam pensar mais nessas coisas ao invés de só se preocupar com o vilão da vez.
E isso nos leva a outra característica muito importante do Wally dessa época: seus poderes estão bastante reduzidos e muito mais realistas. Ele precisa comer muito e ingerir muito carboidrato constantemente pra poder ter energia suficiente pra correr, e mesmo assim sua velocidade máxima não passa de 1100 km/h. E isso não vem de graça, pois além de comer muito, ele também precisa dormir por longos períodos depois de utilizar a supervelocidade. Isso gera algumas situações curiosas, como ele tendo que voltar de avião e impedindo que este fosse sequestrado sem que ninguém percebesse, e também proporciona ganchos importantes pra história. Quando o Flash está correndo pra levar o coração até Seattle, ele acaba esbarrando com Vandal Savage, antigo inimigo do Flash anterior. Ele não se lembra de Savage (na verdade nem eu me lembro se eles já tinham se encontrado ou se foi só o Barry sozinho) mas acaba deixando isso de lado pois precisava chegar no hospital a tempo.
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Outro aspecto bastante inusitado pra época é o fato de Wally não possuir uma identidade secreta. Não é que todo mundo saiba seu nome verdadeiro, mas ele não faz a menor questão de esconder. E isso era uma das coisas que mais me atraía no Flash dessa época, pois obrigava o roteirista a fugir dos clichês. Ele jamais teria um interesse amoroso que gostasse do herói e que não se importasse com o homem por baixo da máscara, ele jamais teria que bolar mentiras mirabolantes pra desaparecer e voltar de uniforme, enfim, o roteirista teria que se virar e criar situações originais. Além disso, é uma coisa muito mais natural, que certamente aconteceria na vida real se alguém ganhasse superpoderes.
Mas também é esse fato que faz com que Vandal Savage conseguisse achá-lo de modo tão fácil ao voltar pro seu apartamento. E Savage ainda demonstra poderes mágicos, o que é deveras curioso. Enfim, Savage é derrotado em duas situações e acaba desaparecendo. Enquanto isso, outras coisas estão acontecendo com Wally, mas isso é assunto pro próximo arco.
Roteiro: Mike Baron
Desenhos: Jackson Guice
Arte-final: Larry Mahlstedt
Cores: Carl Gafford
Editor original: Mike Gold
Publicação original: Flash #3 e #4 (agosto e setembro de 1987)
Publicação nacional: Os Novos Titãs 35 e 36 (fevereiro e março de 1989) – Editora Abril
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Wally West ganhou na loteria. Sim, deixando de lado todo o realismo construído no primeiro arco, Mike Baron faz Wally tirar a sorte grande e acabar com qualquer problema de dinheiro que ele pudesse vir a ter. Ele compra um Porsche, uma mansão e passa a viver uma vida de milionário com sua namorada. Como a maioria dos garotos de 20 anos faria em seu lugar, aliás.
A propósito, eu ainda não apresentei Frances Kane. Frances era uma amiga de infância de Wally, e possuía poderes magnéticos latentes que foram ativados pelo Doutor Polaris. Ela se aproximou mais de Wally por não se dar muito bem com sua mãe, que a culpava pelo acidente que matou seu pai e seu irmão. Isso ocorreu durante a época de Wally nos Novos Titãs, e foi aí que eles começaram a namorar. Quando a série solo do Wally como Flash começa eles já estão juntos, mas logo na terceira edição ela se afasta. Frances não aguentou toda a agitação da vida de super-herói, Wally estava querendo ir rápido demais no relacionamento, levando-a pra morar na mansão nova, e ela foi forçada a usar seus poderes contra Vandal Savage, coisa que ela nunca gostou de fazer. Por isso, Frances resolveu largar Wally e tentar conter seus poderes, apelando pros Laboratórios S.T.A.R. Ela viria a se tornar a vilã Magenta na revista dos Titãs, mas não apareceria mais na revista do Flash por um longo tempo.

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Com Frances fora da jogada, Wally estava livre pra entrar em outro relacionamento. E isso foi ocorrer quando ele passou a frequentar a filial de Salt Lake City dos Laboratórios S.T.A.R. O acordo era que os cientistas iriam poder estudar ele e seus poderes, e ao mesmo tempo iriam tentar remover suas limitações atuais. Acontece que a nutricionista designada pra ele era Tina McGee, por quem ele se apaixonou imediatamente, apesar dela ser casada. Mas o casamento dela estava falido, ela não vivia com o marido a mais de um ano, e isso não a impediu de se jogar nos braços de Wally ao primeiro sinal de perigo.

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Um novo vilão é introduzido nesse arco, o alienígena Kilgore, um ser que controla e se alimenta de energia elétrica. A trama do vilão é bem conduzida e gera situações muito boas, como o cientista que o vilão matou e por quem ele se fez passar, e como Wally descobriu que aquele não era mais o mesmo homem. A participação especial do Cyborg também é bem interessante, afinal Victor é especialista em tecnologia e grande amigo de Wally do tempo dos Titãs. Mas outras situações não ficaram muito boas, como o tremendo exagero de pedir ao presidente pra cortar a energia mundial (é sério…) e o próprio vilão, que no corpo-a-corpo se mostrou um personagem fraco.

Conclusões

Essas primeiras quatro edições da passagem de Mike Baron pelo Flash apresentam conceitos bastante interessantes e, de certo modo, até inovadores. A proposta era revitalizar o Flash e torná-lo interessante para as novas gerações da época, e isso ele conseguiu, mesmo que com alguma polêmica. Polêmica essa que comecei a mostrar aqui, mas que irei aprofundar mais na próxima parte dessa série de artigos.
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Antes de finalizar, vale lembrar que a história do transporte do coração mostrada na primeira edição foi homenageada no desenho da Justiça Jovem (episódio 1×20), onde Wally, no dia do seu aniversário de 16 anos, é escolhido para fazer o transporte de um coração a ser transplantado para uma garota, e no caminho acaba sendo atacado por Vandal Savage, como na revista.
Até o mês que vem e continuem correndo!
Por Vlad

Fonte: Terra Zero

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