Sejam bem-vindos à Força de Aceleração!
Na última coluna começamos a analisar a fase do roteirista Mike Baron à frente da revista do Flash, logo
após a saga Crise nas Infinitas Terras. Hoje continuaremos essa fase comentando
sobre as edições 5 a 8, tratando de temas como adultério, comunismo, mega-sagas
e, claro, super-velocidade!
Desenhos: Jackson Guice
Arte-final: Jack Torrance, Larry Mahlstedt
Cores: Shelley Eiber, Carl Gafford, Michele Wolfman
Editor original: Mike Gold
Publicação original: Flash #5 a #8 (outubro de 1987 a janeiro de 1988)
Publicação nacional: Os Novos Titãs 38 a 40 (maio a julho de 1989) – Editora Abril
Speed McGee
Como visto na última
coluna, após o segundo arco de Mike Baron à frente do Flash, Wally Westhavia
começado a namorar Tina McGee, uma mulher casada. O primeiro tema
espinhoso que temos que lidar então é o adultério. Tina tinha dito a Wally que o
seu casamento estava falido e que ela não vivia mais com o marido, mas isso não
era bem verdade. Jerry McGee morava
com Tina sim, e prezava muito pelo seu casamento. Portanto, quando Tina pede a
ele o divórcio por estar namorando um rapaz 14 anos mais novo do que ela, Jerry
não aceita isso muito bem, e demonstra o seu desapontamento espancando-a. Jerry
também era cientista, e estava pesquisando novos esteroides, aplicando em si
mesmo pra testar sua eficácia. Isso já tinha desestabilizado sua mente, por isso
Tina tinha se afastado dele, e a notícia do divórcio foi o que faltava pra ele
pirar de vez. Após o espancamento, a primeira coisa que ele faz é seguir para o
laboratório e avançar ainda mais em sua pesquisa, aplicando em si mesmo um
superesteroide que aumenta em muito a sua resistência e velocidade.
O mais interessante
do Flash McGee (como a Editora Abril o batizou por aqui) é que ele não sabe
lidar com sua velocidade recém-adquirida. Ele é todo desengonçado, esbarra em
tudo e não sabe lutar direito, mas mesmo assim se mostra um bom adversário para
o Flash. E é por causa dele que Wally conhece um outro personagem que será
bastante importante: o Dr. Bortz. Ele era colega de Jerry, e tinha proibido o
seu acesso ao laboratório quando viu o teor dos seus experimentos, e por isso
ele também era um alvo de McGee. Por fim, o Flash consegue subjulgar Jerry, que
estava ficando cada vez mais deformado por causa dos esteroides e Tina passa a
morar com ele. No final, Baron foi ousado ao fazer Wally namorar uma mulher
casada, mas acabou sendo covarde ao transformar o marido de Tina em um vilão,
pois isso acabou justificando o adultério e desperdiçando uma boa polêmica.
Trindade Vermelha
Após a resolução do problema McGee, o Dr. Bortz aproveita pra fazer um
pedido pro Flash: resgatar seu amigo, o Dr. Orloff, que estava preso na União Soviética. Precisamos lembrar que nessa época estávamos em plena Guerra Fria ,
apesar do comunismo já estar caminhando para o seu fim. Baron mais uma vez
coloca um tema espinhoso em sua história, e ele lida de forma bastante natural
com isso. O Dr. Orloff, apesar de americano, está feliz de estar ali, ele não
quer ser resgatado, pois está tendo uma oportunidade de desenvolver sua
pesquisa que ele não teria nos EUA. E os voluntários para o experimento, apesar
de soviéticos, ficam extasiados com a oportunidade de ir para os EUA. Essa
dualidade torna o conflito EUA X URSS em algo muito mais humano, sem o
maniqueísmo e o patriotismo que normalmente encontramos nas histórias que
abordam esse conflito.
Os voluntários para o experimento do Dr. Orloff são os grandes
personagens desse arco, pois o cientista estudou o Flash e conseguiu reproduzir
sua super-velocidade em três cobaias: Anatole, Bebeck e Cassiopeia. Juntos, eles formam a Trindade Vermelha. A dinâmica entre Wally e os três é bem legal, pois eles se
identificam com o Flash, que foi o seu modelo, e acabam agindo juntos para
escapar da instalação soviética e tornarem-se heróis na América, como ele. É
muito bom ver uma equipe de velocistas agindo junta, e ainda melhor que Baron
consegue caracterizar muito bem cada um dos três.
Mas a Trindade
Vermelha não foi o primeiro grupo de velocistas criado pela União Soviética. Em
sua fuga, eles acabam sendo caçados pela Trindade Azul, os primeiros a receberem o soro do Dr.
Orloff. Como o soro ainda não estava muito evoluído, esses três (Boleslaw, Gregor e Cristina) possuem algumas falhas,
sendo Gregor o mais afetado, pois o soro deixou-o bastante deformado. Dessa
vez, Baron e Guice nos brindam com uma luta espetacular envolvendo sete
super-velocistas, o que é muito divertido de se ver.
Millenium
Infelizmente, a
história teve que ser interrompida porque a revista do Flash precisava fazer
tie-in com a mega-saga de 1988 da DC: Millenium. Apesar de Baron conseguir amarrar os plots,
ainda ficou a sensação de história interrompida. A luta contra a Trindade Azul
ainda podia ser muito mais explorada, e era o que os leitores do Flash queriam,
e não ver um tie-in que não acrescenta em nada a uma mega-saga. Mas
infelizmente essas ordens vêm de cima e o roteirista tem que acatar. Mas Mike
Baron ainda conseguiu utilizar isso a seu favor.
O pai de Wally West havia reaparecido três
edições antes, dizendo que tinha torrado os 500 mil dólares que Wally deu a ele
do dinheiro que ganhou na loteria e querendo morar na mansão do filho, pois
segundo ele a mãe de Wally tinha morrido em um acidente. Mas na verdade Rudolph West era um manhunter, um agente
dos robôs que eram os vilões de Millenium. Seu objetivo era ficar de olho no
Flash e informar aos seus superiores até chegar a hora de atacar. E, quando
essa hora chegou, Rudolph fez um acordo com ninguém menos que a Trindade Azul.
Mike Baron acabou
conseguindo juntar o plot que estava desenvolvendo com todo o lance do
Millenium, apesar algumas coisas terem ficado forçadas. Afinal, não faz o menor
sentido os soviéticos se aliarem a um manhunter, mas eu prefiro ignorar esse detalhe em troca
de poder ver a continuação do plot que estava planejado antes de termos de
engolir esse tie-in.
Conclusões
Essas quatro edições, que formam o meio da fase de Mike Baron, mostram
que ele queria tocar em temas um pouco mais sérios, como adultério e comunismo,
mas ao mesmo tempo ele não aprofunda a discussão nisso. Não sei se o seu
objetivo era só jogar no ar ou se foi a DC que o mandou pegar mais leve, mas o
fato é que esses temas poderiam ter sido mais discutidos na história.
Outra coisa a se notar é a exagerada utilização de
personagens com super-velocidade. A utilização disso de forma pontual é legal,
mas esse exagero dá a impressão de que o Flash só é capaz de enfrentar vilões
com os mesmos poderes que ele. A Trindade Vermelha e a Trindade Azul ficaram
muito legais na história, mas o Jerry McGee não precisava ter esse poder
também, isso foi desnecessário.
No próximo
mês iremos finalizar a fase de Mike Baron no Flash, portanto fique ligado.
Antes de encerrar esta coluna, gostaria de incentivar quem ficou com vontade de
ler essa fase a comprar as edições no ComiXology, pois o trabalho de recuperação deles
precisa ser elogiado. A qualidade da revista digital está infinitamente
superior a do scan disponível pra essas edições, além de possuir a navegação
guiada, que é muito mais legal do que ver a página toda de uma vez. Portanto,
prestigiem o trabalho que vocês admiram.
Até o mês que vem e continuem
correndo!
Fonte:
Terra Zero
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