A Era de Prata dos Quadrinhos
(período que corresponde a meados da década de 50 até o começo da década de
60), além de ter se tornado uma válvula de escape criativa para driblar o clima
de censura da época, ainda inspira os quadrinhos contemporâneos com seus
episódios peculiares. Foram diversos personagens, conceitos, histórias e
publicações que ainda fascinam (para o bem ou para o mal) toda a indústria de
quadrinhos.
Sua fama de
“mau”, porém, rivalizava com a competência de sua gestão frente à editora
norte-americana. Foi nela, por exemplo, que os X-Men começaram a fazer um
sucesso crescente frente ao trabalho primoroso da dupla Chris Claremont e John
Byrne, que criaram a maioria dos conceitos usados até hoje no que se refere aos
mutantes (seja nos quadrinhos ou no cinema).
Praticamente todos os personagens da
casa tiveram seu momento de glória, tanto em relação a argumento, quanto a arte
e, em alguns casos, Shooter saía de sua mesa de editor para arriscar-se na
criação das próprias histórias. Caso da minissérie Guerras Secretas,
megaprojeto da Marvel que mostrava os principais personagens da casa em uma
batalha num planeta alienígena.
Mas essa
gestão “mão de ferro” (com resultados positivos a ponto de incomodar a editora
concorrente, DC Comics) foi uma das maiores marcas da época seguinte, a Era de
Bronze dos Quadrinhos. O que, então, teria Shooter a ver com a Era de Prata?
Acontece que a Era de Prata foi o berço profissional do temido editor. Até aí,
nenhuma novidade, uma vez que muitos profissionais da década de 80 surgiram no
final desse período. Mas Shooter teve uma origem incomum, pra não dizer
precoce. E eu quero dizer muito precoce.
Jim Shooter
mantinha constante contato com o editor Mort Weisinger, da DC Comics, através
das seções de correspondência das revistas da editora. O que chamou a atenção
de Weisinger era o extremo conhecimento da mitologia dos heróis da DC que o
então desconhecido Shooter dominava. A editora ainda se recuperava do baque
imposto pela censura da época e patinava nas histórias puxadas mais para ficção
científica, sem importar-se muito com continuidade de seus personagens (o que,
de fato, não era uma regra comum até então).
Além disso, uma nova editora,
conhecida como Marvel Comics, ameaçava mês a mês a supremacia da DC no mercado.
E justamente o primor com a continuidade (apesar de ainda que confusa por estar
em formação) faziam a diferença nessa concorrência. Nesse ponto, Shooter tinha
o conhecimento como seu principal cartão de visitas.
Após a troca
de ideias com o editor, Shooter também apresentou algumas ideias e até mesmo
roteiros com personagens da casa. Weisinger, encantado, acaba por publicar uma
história da Supergirl escrita por Jim Shooter e acaba convidando-o a visitar a
editora (lembrando que, mesmo colaborando, Shooter ainda não havia se
apresentado pessoalmente). É então Weisinger tem a maior surpresa de todas. O
profissionalíssimo, competente e misterioso Jim Shooter era um garoto de apenas
13 anos de idade!
O talento
desse prodígio, no entanto, era algo que não podia ser ignorado. Shooter, de
cara, assumiu a responsabilidade de escrever as histórias futuristas da Legião
dos Super-Heróis, publicada na revista Adventure Comics, em 1966. E se havia
algo ideal para se trabalhar em uma época em que a ficção científica dominava
os quadrinhos, era escrever histórias de super-heróis do século XXX.
O jovem não se limitou a escrever
histórias tolinhas. Muito pelo contrário. Seus roteiros tinham um brilhantismo
que driblava o clima censor da época, não poupando mortes e mesmo mutilações de
personagens principais, entre outras bizarrices geniais. Também foi responsável
pela criação de uma infinidade de novos personagens, heróis e vilões, alguns
deles sobrevivendo até hoje nos quadrinhos.
Shooter
também arriscava desenhar as histórias que escrevia. Seu traço, sozinho, não
era chamativo comparado a seus colegas adultos. Mas impressionava em se
tratando de um garoto de 13 anos, principalmente na dinâmica utilizada em cada
cena. Essa evolução no enquadramento das histórias (casando perfeitamente com
os roteiros mirabolantes que criava) foi adotada por desenhistas que o
acompanhavam no título. Entre esses desenhistas, Shooter teve o prazer de
trabalhar com ninguém menos do que Curt Swan, um dos principais desenhistas do
Superman da Era de Prata.
O garoto
cresceu escrevendo as histórias da Legião e permaneceu na DC até o convite da
Marvel a esse precoce talento, onde acabou por se tornar o principal editor.
Herói mirim ou vilão temido, a marca de Jim Shooter segue até os dias de hoje,
mesmo que, profissionalmente ele esteja afastado dos holofotes. Mas, como todo bom
vilão (e todo bom vilão tem uma origem fantástica), Shooter surge hora ou outra
das trevas para tentar balançar o mercado novamente.
Fonte: Impulso HQ
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