O Pacificador – Na segunda história
do último encadernado (Número #32 na numeração original) da série O Questão
acompanhamos o segundo tenente reformado do exército e herói de na guerra do
Vietnã, William Palmer, ser convidado a comandar o grupo civil de policiamento,
a “guarda da vizinhança” (qualquer semelhança com as ideias de político Moroni
Torgan do DEM é mera coincidência) que tem a intenção de ajudar o pouco efetivo
policial de Hub City a manter a ordem na cidade. A mais nova iniciativa da
prefeita para reorganizar a cidade pode ser um barril de pólvora pronto a
explodir uma vez que civis destreinados e armados são um perigo para si e para
os outros. O que podemos dizer de um ex combatente do Vietnã cheio de
neuras e traumas? E o que o Questão acha de tudo isto? Hub City parece mesmo um
lugar sem redenção ou ainda podemos ter esperança de ver esta cidade ressurgir
do estado caótico em que está afundada?
“De boas intenções o inferno está
cheio” diz o ditado. E Myra Fermin parece que nasceu no inferno, tamanha sua
vocação em transformar boas intenções em tragédias potenciais. Sua proposta de
criar uma guarda civil de vigilância dos bairros tem tudo pra dar tão errado
quanto sua ideia anterior de convocar gangues para policiar as ruas da cidade.
Os grupos formados são os mais heterogêneos possíveis, um ponto em comum:
amadorismo. É claro que o repórter Vic Sage parte para entrevistar a prefeita
sobre esse plano. Myra que não é tola sabe dos riscos que corre, mas não
encontra uma saída imediata para o baixo número de policiais no distrito de Hub
City. E enquanto o Questão continua fazendo suas rondas solitárias, um
dos grupos de vigilância parte em busca de aventura…Ou algo mais.
Eis uma história que afirma a aura
cult em torno desta série. Temos aqui um Dennis O’Neil que costura
conversas afiadas e uma boa construção de enredo como tanto lhe é habitual. A
aventura começa trazendo um flashback do tenente W. Palmer no Vietnã e como
perdeu vidas do pelotão que comandava por não dar ouvidos a um de seus soldados
que avisara momentos antes de uma saraivada de balas atingirem-nos, que tinha
avistado um homem na mata. Um homem de roupa vermelha.
Palmer vira um herói de guerra ao
matar a partir daquele momento o máximo de inimigos possíveis, mas nunca
encontrou o tal de roupa vermelha e isso o persegue até os dias de hoje.
O Questão nesta aventura é quase um
coadjuvante de luxo pois o foco são os traumas de guerra e como certas
condições podem reacende-los. E é exatamente isto que ocorre no ponto crucial
desta boa história auto contida. Ao ser “convocado” por um grupo de
moradores de seu prédio para comanda-los em rondas pelo bairro William Palmer
sucumbe a pressão de ter outro “soldado” alvejado por um “fantasma” de
vermelho. Palmer surta durante a ronda e vê tiros vindo de um prédio que só ele
enxerga. Os colegas ficam atônitos e amadores que são permanecem paralisados
diante do delírio de Palmer que apenas balbucia “desta vez será diferente,
desta vez pegarei o homem de vermelho”.
O’Neil transforma as páginas finais
deste número num sufocante conto de horror pós guerra. Tudo acompanhado pela
bela arte da dupla D. Cowan e M. Jones III. No fim o transtornado Palmer
invade o prédio. Procura por um atirador que não existe. Encontra um garoto
desarmado. O mata. Perturbado procura por uma arma que nunca existiu, percebe o
trágico erro, pega sua arma, coloca-a em sua cabeça e diz: “Sim, hoje será diferente”.
Bam!
Nenhum inimigo de vermelho.
Parabéns Mister O’Neil por uma
história adulta como elas deveriam ser. Sem firulas, densas, fortes e
sufocantes.
Fonte: O Santuário
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