[o artigo abaixo contém spoilers]
Roteiros de Brian Michael Bendis
Desenhos e cores de Chris Bachalo
Arte-final de Tim Townsend, Jaime Mendoza e Al Vey
Desenhos e cores de Chris Bachalo
Arte-final de Tim Townsend, Jaime Mendoza e Al Vey
Uncanny X-Men é o
título mais antigo protagonizado pelos X-Men. Com esta ele já teve três
versões. A primeira, iniciada em setembro de 1963, marcou a primeira aparição
do grupo de heróis mutantes e terminou com 544 edições em outubro de 2011. O
término da primeira coincidiu com o final da saga O Cisma (publicada recentemente no Brasil pela
Panini em X-Men #131 e 132),
que justificou a estratégia da Marvel em dividir o principal título dos X-Men
em dois, sendo o outro Wolverine and the X-Men,
comandado por Jason Aaron. Esta
segunda versão teve 20 edições publicadas entre novembro de 2011 e outubro de
2012, quando foi concluída ao mesmo tempo que a saga Vingadores vs. X-Men, marcando o término de mais uma
fase dos mutantes da Marvel.
A qualidade
da maioria dos títulos ligados à marca X-Men oscilou muito na última década,
mesmo contando com a colaboração de autores respeitados como Ed Brubaker, Matt Fraction e Kieron Gillen. Cada
um deles contribuiu para que os X-Men não caíssem no completo marasmo, e
pavimentaram o caminho que levou a Vingadores vs. X-Men encabeçando sagas como Complexo de Messias, Segundo Advento e O Cisma, mas, salvo estas, e alguns arcos escritos
por eles, no geral a qualidade foi bem irregular.
Há uma ironia no
fato de Brian Michael Bendis,
o escritor responsável pela quase extinção dos mutantes no desfecho da saga Dinastia M, ser agora o cabeça da Revolução
Mutante (que é tanto o movimento de apoio crescente às atuações de Ciclope,
apresentado neste primeiro número de Uncanny X-Men, como também é a nova
estratégia da Marvel para fortalecer a marca X-Men a partir de Marvel NOW).
Portanto, faz sentido que o autor aproveite o momento para anunciar, tanto no
contexto dos títulos que está comandando, quanto no mercado de quadrinhos, que
sua intenção é revolucionar as HQs mutantes, e é muito adequado que uma das
séries seja sobre um grupo de mutantes revolucionários.
Um dos pontos
estabelecidos pelo autor neste primeiro número é que Ciclope virou um ídolo de
toda uma parcela da sociedade que se sente excluída por ela e pelas
autoridades. Com isto Bendis trouxe de volta o apelo original que os X-Men
tinham quando suas histórias funcionavam como metáforas fantasiosas de uma
grande variedade de problemas sociais relacionados a divisão de classes,
castas, etnias, e todo o preconceito e segregação que deram origem e
sustentação a eles. Ser mutante no Universo Marvel atual é mais do que ser uma
pessoa nascida com poderes especiais, mas também alguém disposto a abraçar uma
causa que desafie as ações das autoridades destinadas a perpetuar sua condição
de excluídos da sociedade. Os mutantes são o ápice destes párias sociais, pois
nasceram com poderes realmente capazes de desafiar e derrubar “O Sistema”.
Claro que uma
revolução num quadrinho de super-heróis nunca está completa sem que os
personagens ganhem um novo visual. Por isto toda a equipe de Ciclope já aparece
vestindo novos uniformes e usando novos cortes de cabelo. A quase onipresença
de cores escuras, couro e elementos levemente sadomasoquistas dão um ar de
ambiguidade ao grupo. E reparem na dica que Bendis dá sobre o posicionamento de
um dos integrantes com relação ao grupo ao fazer com que ele use uma cor
que o destaca dos demais, algo que se confirmará no final da edição.
Como escritor de
quadrinhos experiente que é, Bendis faz o que se espera da primeira edição de
um título zerado para atrair novos leitores: uma rápida e eficaz reapresentação
dos X-Men quando eles se apresentam pela primeira vez com o novo visual durante
uma crise em San Diego
provocada pelo surgimento de um novo mutante. É neste ponto que também somos
informados que quatro dias se passaram desde a primeira aparição de Tempus, a garota que pode parar o tempo, em All-New X-Men #1. Nota-se que ela ainda está insegura
quanto ao uso de seus poderes, e também chama a atenção quanta confiança ela e Christopher Muse, outro novo integrante dos
X-Men, demonstram sentir por Ciclope e os demais.
Outra ótima sacada
visual desta primeira história é a forma usada por Chris Bachalo para
representar o impacto causado pela chegada dos Sentinelas. Os quadrinhos de toda a sequência de
combate entre os X-Men e os robôs gigantes aparecem inclinados como se o peso
deles afetasse o equilíbrio das páginas. Não é um recurso inédito e genial, mas
funciona muito bem e torna as cenas de ação ainda mais dinâmicas.
Neste número
de estreia Bendis deu prosseguimento à ideia de que os poderes de Ciclope, Magneto e Emma Frost estão desregulados. Emma parece
“travada” no modo pele de diamante, aparentemente impossibilitada de usar sua
telepatia. Magneto não consegue usar seu controle sobre o
magnetismo na potência máxima, sendo forçado a atacar os Sentinelas com
disparos precisos, ao invés de esmagá-los como faria no auge de seus poderes (e
ainda assim ele sofre para conseguir moldar pistolas na forma de flechas e
dispará-las contra os robôs). Já as rajadas de Ciclope agora
explodem para todos os lados (algo já visto em All-New X-Men #4), e lembram um pouco fogo da Fênix, que pode, em parte, explicar o aspecto de
seus poderes agora.
A jogada que o
Bendis faz com a identidade do informante misterioso da S.H.I.E.L.D. é
outra ideia muito bem executada, pois consegue deixar o leitor em dúvida
durante a maior parte da história. Foi uma ótima sacada a careca e as falas
ambíguas. Uma mistura de orgulho ferido e inveja aparentemente são os
principais motivos da decisão tomada pelo personagem. E Bendis parece sugerir
que ele voltará à sua inclinação original, embora por um caminho pouco
esperado.
E a sofisticação da
arte de Chris Bachalo combina muito bem com a proposta do
título. O desenhista possui um estilo que foi “depurado” com o passar dos anos.
No início de sua carreira seus desenhos eram mais rebuscados – eu diria até que
mais poluídos visualmente – e de difícil
leitura. Hoje seus traços são mais limpos e arrojados, e bem mais agradáveis
aos olhos, e se beneficiaram muito quando o desenhista passou a cuidar da
colorização de suas páginas, que é bem caprichada.
Se é o início de uma fase revolucionária dos X-Men só
as próximas edições dirão, mas sem dúvida é um solo fértil o preparado por
Brian Bendis neste primeiro capítulo.
Fonte: Nerd Geek Feelings
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