Há 34 anos, a Editora Abril timidamente lançou um gibizinho que seria o
início da mais espetacular fase dos quadrinhos de heróis e dos quadrinhos
adultos no Brasil.
CAPITÃO AMÉRICA, um gibi
O lançamento era inusitado porque, primeiro, a árvore da Abril nunca havia estampado a capa de um gibi de super-herói. Segundo, porque os direitos de publicação da Marvel no Brasil eram da arquirrival RGE, que naquela época punha nas bancas HOMEM-ARANHA e INCRÍVEL HULK, entre outros.
Coube à Abril, assim, contentar-se com um suposto "segundo escalão" da Marvel, desprezado pela editora concorrente.
E como a editora soube aproveitar essa oportunidade. Quatro anos depois, obteria a preferência de publicação de todos os títulos Marvel. Numa situação ímpar, um gibi de super-herói teve pela primeira vez tiragem equiparável a de títulos Disney, MÔNICA e LULUZINHA: HOMEM-ARANHA atingia tiragens de 250 mil exemplares.
Nos 22 anos de Marvel na Abril, mais de 2300 edições de gibis periódicos e de edições especiais chegaram às bancas, em títulos como HERÓIS DA TV, SUPERAVENTURAS MARVEL e TEIA DO ARANHA, entre dezenas de outros, além de meia centena de minisséries, com destaque para o impressionante trabalho gráfico emMARVELS.
O sucesso da Marvel na Abril escancarou as portas para uma profusão de outras publicações, e influenciou também outras editoras e outros gêneros.
Em 1984, a arvorezinha passaria a estampar as capas de BATMAN, SUPER-HOMEM e HERÓIS EM AÇÃO, da DC Comics. A partir daí, dezenas de títulos e de minisséries da DC inundaram as bancas nos anos seguintes.
Para resumir o que foi a passagem dessa casa pela Abril: um colecionador de Batman que não fosse abonado entraria
A editora teve a oportunidade de publicar, pela primeira vez no Brasil, obras influentes como CAVALEIRO DAS TREVAS, A PIADA MORTAL e WATCHMEN, nada menos.
Em 1988, outro marco: na esteira de todo esse sucesso, a Abril lançaria a série GRAPHIC NOVEL. Com qualidade gráfica invejável, a coleção abarcou estilos díspares, indo de decantados heróis Marvel e DC a Will Eisner, Aragonés e Jano.
A recepção às graphic novels foi tão boa que logo viriam outras duas séries: GRAPHIC MARVEL e GRAPHIC ÁLBUM. E gerou graphic novels da Disney, dos Trapalhões... Parece brincadeira, não? Mas não era.
O mercado estava tão aquecido que havia espaço para todo mundo, todos os gêneros. Até o pessoal da Casseta & Planeta se aventurou, na época, a lançar uma minissérie, a BLACK KISS, por sua editora Toviassu.
A Editora Globo, ainda em 1988, lançaria sua GRAPHIC GLOBO. No ano seguinte, iniciaria a saga do hoje cultuado SANDMAN e publicaria as minisséries V DE VINGANÇA e ORQUÍDEA NEGRA, entre outras.
No final de 1990, a Globo colocaria nas bancas, pela primeira e única vez no Brasil, o mangá AKIRA.
Nos jornais, páginas semanais inteiras dedicadas aos lançamentos em quadrinhos — lançamentos nas bancas, bem entendido, e não nas livrarias, como hoje. E com distribuição nacional.
Havia espaço tanto para se falar de Batman como do gibi da Margarida, numa democracia editorial nunca mais vista, infelizmente.
Toda essa febre começou a ser debelada nos idos do Plano Collor. E baixou de vez entre 1993 e 1994, quando se tirou o pé do acelerador e dezenas de títulos foram cancelados. Mas isso já é outro capítulo desta história.
Este post não se pretende exaustivo (nem poderia, neste espaço exíguo). A intenção é dar uma faísca de ideia de como foi bom frequentar as bancas nos anos 1980 e início dos 90! Claro que coisas ruins também foram publicadas, assim como houve equívocos editoriais aqui e ali. Mas quem teve a oportunidade de estar lá e ver tudo isso se formar, tenho certeza, considera o saldo mais do que positivo.
Fonte: Planeta Gibi
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