Certa vez tive contato com seres
fascinantes, que embora marginalizados, era donos de um senso de moral
inabalável, nunca desistiam dos seus amigos e eram capazes até mesmo de
sacrificar as próprias vidas em prol dos ideais em que acreditavam. Eles eram
mutantes. Eram X-men. E eu, um jovem de leitor de quadrinhos, ainda descobrindo
todo aquele universo.
Naqueles tempos em que a informação
não era tão difundida, ficávamos meio que nas mãos das editoras e de fato não
sabíamos o que esperar das próximas edições, não fazíamos ideia de quando um
escritor ou desenhista deixaria ou adotaria um título, a não ser que isso fosse
mencionado nas seções de cartas pelo editor ou algum (raro) leitor que
acompanhasse as edições originais americanas.
Nessa época de descobertas, eu
devorava todos os gibis que podia comprar. De todas as editoras e todos os
estilos. Com o tempo, meu gosto foi se afunilando (que palavra feia) e tendendo
mais aos quadrinhos de super-heróis, de modo que em certa época, eu era o feliz
colecionador de um razoável acervo de gibis Marvel e DC publicados em
formatinho pela editora Abril.
Eu poderia falar sobre centenas de
personagens aqui, mas hoje escolhi voltar meu pensamento para esses
desajustados heroicos que mexeram tanto com a minha mente, e que contribuíram
de alguma forma para definir o caráter que eu viria a ter quando adulto. Os
excluídos mutantes pupilos do professor Xavier.
E esse vai ser o meu desafio, a
minha retirada voluntária da confortável poltrona acolchoada, e meu caminho
pela tortuosa estrada do desconhecido. Porque, depois de tantos anos afastado,
pegando apenas algumas referências da mídia e assistindo os filmes, mas
completamente alheio a tudo o que têm acontecido nos quadrinhos dos mutantes, o
que eu ainda sei sobre os X-Men? Será uma visão que corresponde a alguma coisa
ainda existente hoje ou são conceitos envelhecidos e há muito tempo abandonados?
Os X-Men que conheci era odiados mas não pregavam o ódio. Estavam em
constante conflito com seus poderes – são maldições ou bênçãos? Havia Ororo
Munroe, que não tinha poderes, mas era uma guerreira implacável, linda,
ostentava seu penteado moicano com orgulho. Ela tinha sido uma mutante
poderosa, capaz de controlar os elementos. Mas eu nunca a tinha visto fazer
nada assim. Eu já a conheci como a líder dos X-men, cargo obtido após derrotar
Scott Summers em combate, provando que habilidade e perícia estão acima de
poderes. Ororo tinha uma forte relação com um cara chamado Logan, que alguns
conheciam como Wolverine. Ele era uma máquina de combate, mas desacelerava
perto dela, baixava a guarda e se deixava levar. O professor Xavier era
constantemente mencionado, mas estava desaparecido, perdido nas estrelas. O
diretor da escola era um homem chamado Eric que jurou a Charles que cuidaria
dos seus alunos. Além da equipe principal, havia um grupo de novos mutantes, e
ele os treinava com afinco em situações de combate simulados num ambiente
conhecido como “sala do perigo”, e seguidamente os derrotava. Certa vez um dos
alunos mencionou algo como: “É impossível lutar com esse cara! Como os X-Men
originais conseguiam vencer ele”? Foi então que descobri duas coisas: houveram
outros X-men antes daqueles, e Eric foi um inimigo mortal deles, quando era
chamado de Magneto.
Os Novos Mutantes tinham suas
próprias histórias e eram a nova geração dos X-Men. Entre eles estavam, Míssil
– que podia voar protegido por uma energia propulsora, Mancha Solar, que
retirava seus poderes do sol, era superforte, mas não invulnerável, Karma, com
o dom de dominar mentes, Miragem que criava ilusões, Magia que podia gerar
discos de teleporte e tinha conexão com uma dimensão infernal, Cifra, com o dom
de falar e compreender todas as línguas e um alienígena tecnorgânico chamado de
Warlock.
Foi nessa
época que conheci então a personagem chamada Rachel Summers, caminhando pelas ruas escuras da cidade. Ela
tinha poderes telepáticos e telecinéticos, alegava ter vindo do futuro, e
era a filha de dois dos X-Men originais: Scott Summers e Jean Grey. Scott era o
Ciclope, mas e essa tal de Jean Grey? Eu nunca a tinha visto, mas fiquei
sabendo que ela foi a Garota Marvel, e morreu depois de se tornar uma entidade
poderosa chamada de Fênix. Rachel já era parte dos X-Men, era amiga da confusa
Vampira, que tinha o dom de absorver os poderes e memórias dos outros
temporariamente, mas isso sempre causava problemas a sua própria personalidade;
ela podia voar e tinha superforça, mas esses dons foram roubados de forma
permanente de outra mulher, a Miss Marvel. Por algum motivo os poderes dela
permaneceram com a Vampira, assim como boa parte de suas lembranças, ocultas na
mente dela. Além disso, boa parte do passado da moça se tornou uma página em
branco em sua mente, não sendo desvendada nem pelos telepatas. Os outros
amigos de Rachel eram o elfo alemão Kurt Wagner, que podia se teleportar e era
um ótimo espadachim, Peter Rasputin, um russo que tinha o dom de blindar o
próprio corpo, e Kitty Pryde (que tinha uma queda por Peter), podia ficar
intangível e caminhar no ar.
Tempestade, Ciclope, Colossus,
Noturno, Wolverine, Rachel Summers, Vampira, Magneto e Lince Negra. Esses são os X-Men que tenho
guardados na mente, o meu primeiro contato com a equipe, e a formação que
sempre vou considerar a mais querida.
Como esquecer as guerras Asgardianas, quando eles entram em contato com
os conterrâneos de Thor? Como esquecer o perverso Loki seduzindo Ororo com a
promessa de poder, oferecendo a ela um martelo como o de seu meio irmão e o
título de deusa da tempestade? Claro, dominando sua mente para servir aos seus
propósitos… ele a obrigou a atacar seus próprios amigos, mas Logan foi até as
últimas consequências para trazê-la de volta, mesma sendo irradiado pela
energia do martelo dela, tendo sua pele queimada ao mesmo tempo que o fator de
cura a regenerava, ele continuou avançado… até alcançar, Ororo, até trazê-la de
volta…
Tenho muito vívida em minhas
memórias o momento em que
Rachel desiste de andar por aí usando colant de aeróbica e
vai até a casa dos pais de sua falecida mãe Jean Grey, e encontra uma esfera
que contém a essência dela… e reclama naquele momento para ela o poder e o nome
de Fênix! Ela então assume a alcunha de sua mãe, para surpresa e desconfiança
de Scott, que até então não sabia que Rachel era sua filha do futuro…
Falando de futuro, tive a
oportunidade de ler algum tempo depois a saga “Dias de um futuro esquecido”,
onde num amanhã onde os mutantes são aprisionados e obrigados a usar colares
bloqueadores de poderes, e constantemente vigiados pelos imensos robôs
sentinelas, Rachel consegue transferir a consciência de Kitty Pryde para o seu
corpo no passado a fim de tentar evitar a catástrofe; ao mesmo tempo, as
versões mais velhas dos mutantes remanescentes (inclusive um Magneto numa
cadeira de rodas) travam uma batalha desesperada contra os sentinelas, o que
resulta em mortes e mais tragédias… um verdadeiro épico produzido por Chris
Claremont e Jonh Byrne, dupla que fez enorme sucesso com os X-Men, mas cujo
trabalho acompanhei muito pouco, tendo pego a fase de Claremont com o
desenhista John Romita Jr, que continua sendo a melhor de todas na minha
humilde e leiga opinião.
Enfim, o que eu sei sobre os X-Men?
Provavelmente algumas coisas a mais, escondidas na memória, misturadas com
elementos dos filmes e das animações… mas o que realmente importa para mim, o
que ficou de tudo, foi o que acabei de relatar. Essa foi a minha experiência
pessoal com os personagens. Obrigado aos que chegaram até esse ponto do texto.
Foi ótimo compartilhar isso com vocês.
Valeu a pena.
E depois dessa prolongada pausa,
acho que agora é um momento interessante para voltar a ler de novo as histórias
desses mutantes marginalizados que insistem em salvar o mundo…
Fonte: O Santuário
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