Logo criado por Jorge Luís

Planeta Resenha DC: Batman & Robin – Grant Morrison

Grant Morrison é um cara genial. Dedicado em fazer uma profunda pesquisa em todo roteiro que escreve, e enchendo a história de referências, o escocês careca é um dos melhores roteiristas que a indústria dos quadrinhos já conheceu.

BatmanRobinEdicaoDefinitiva


Porém, quando se trata da sua fase escrevendo a revista do Batman, há controvérsias. E fãs divididos.

Um grande fã confesso da era de ouro dos quadrinhos, Morrison sempre dá um jeito de inserir em seus roteiros homenagens ou situações que façam referência à essa época. Seja relembrando  acontecimentos que nem a cronologia da editora considera mais, ou trazendo de volta personagens já esquecidos, ele tem prazer em montar um quebra-cabeças onde tudo mostrado nos primórdios de um personagem possa ser encaixado e considerado na atualidade. E foi isso que ele tentou fazer (e fez) com o Batman.

Mas como inserir nas histórias de um personagem que desde a década de 80 é taciturno e sombrio, elementos de quando ele era sorridente e bem humorado? Particularmente gosto muito do que Morrison fez enquanto escreveu Batman, e considero que todos os elementos que ele utilizou da Era de Ouro para construir seu roteiro teve sentido e foi bem trabalhado dentro da história. Mas para quem não gostou desse clima diferente nas histórias do Cavaleiro das Trevas, aqui está o momento em que o frescor da era de ouro permeia as páginas de forma completamente funcional transformando um Batman sorridente em algo incrível e coerente. A diferença? Esse Batman não é Bruce Wayne.

Dado como morto após os eventos da minissérie Crise Final (também escrita por Morrison), Gotham está sem o seu maior protetor: Batman. E boatos sobre a morte do herói já se espalham entre os criminosos nos becos da cidade, fazendo com que todo tipo de meliante comece a agir despreocupado sabendo que não será impedido. É a máxima de que Gotham precisa do Batman. Gotham precisa de um Batman.

E é isso que vamos ver em Batman & Robin: Edição Definitiva, lançamento recente da Panini Comicscompilando em 444 páginas essa fase incrível do personagem.

Aqui, temos no início da história Dick Grayson (o Asa Noturna e primeiro Robin) continuando o legado de Bruce Wayne, e vestindo o capuz de Batman para defender Gotham City. É a evolução natural. Aprendiz continua o legado do seu mentor. A premissa por si só já é ótima.
Mas o modo como Morrison trabalha essa passagem de bastão é que se faz digna de nota. Dick não passa a ser o Batman simplesmente por vestir uma roupa de morcego. Ele não é Bruce Wayne. E descobre isso da maneira mais difícil.

O legal aqui é que sentimos o peso do uniforme. O peso do legado. Dick sente esse peso e se pergunta como Bruce conseguia. O conflito do personagem é muito interessante pois lembra ao leitor constantemente que aquele ali não é o Batman que conhecemos, tornando uma narrativa muito agradável, pois realmente passa a sensação de estarmos vendo um substituto.

Não acontece como em outras histórias de substitutos nos quadrinhos, onde às vezes até esquecemos que é outro personagem utilizando o uniforme do herói. Aqui a diferença entre Bruce Wayne e Dick Grayson é muito bem trabalhada, desde a personalidade, os métodos utlizados, o fato de termos agora um Batman que sorri, e até mesmo o detalhe das cenas de luta (O Batman de Dick é muito mais acrobático, resultado de sua infância circense).

As dúvidas do personagem sobre estar ou não à altura do nome Batman, gera um dos diálogos mais legais da HQ, que é quando Dick conversa com o bom e velho Alfred a respeito de suas dúvidas. Aqui, Morrison usa muito bem um fato que a maioria dos autores esquecem, de que Alfred antes de ser mordomo da família Wayne já foi um ator; e utilizando uma explicação recheada de referências teatrais, ele diz a Dick que o Batman nada mais é do que uma ideia, um personagem. E assim como Hamlet ou James Bond, ele é eterno, e um novo ator sempre o interpretará. Chegou a sua vez, patrão Dick.

Outro personagem muito bem trabalhado aqui é Damian Wayne, que finalmente assume como Robin. Damian, inserido na cronologia pelo próprio Grant Morrison, é o filho de Bruce Wayne com Talia Al Ghul, e portanto herdeiro da Liga dos Assassinos. E o garoto faz jus às suas origens.

Tentando aprender a viver como o estilo de vida de seu pai, Damian decide ajudar Dick nessa nova tarefa (na verdade ele que queria ser o Batman, mas tudo bem), mas descobre que se encaixar nos padrões impostos pela Bat-Família pode ser mais difícil do que ele pensava.

Prepotente, arrogante e mimado, o moleque é o capeta.  E devido ao seu treinamento assassino, aliado à sua impulsividade, age com violência exacerbada para com os criminosos, desobedecendo várias vezes as ordens de Dick Grayson, a quem ele não respeita. Mais dor de cabeça para o novo Batman, que precisa lembrar constantemente para o Robin que há um código a seguir. O código de seu pai.

Apesar dos atritos iniciais, com o tempo Dick vai conquistando o respeito de Damian, que passa a entender como funciona a justiça segundo Bruce Wayne. É interessante o crescimento do personagem, pois Morrison nos mostra que mesmo com a sua personalidade arrogante herdada de uma criação completamente fora dos padrões normais, o garoto é muito parecido com o pai. É como se Damian fosse um mini Bruce Wayne ninja e assassino. E isso é sensacional.

O contraste entre os novos Batman e Robin aliás, é um dos pontos altos da HQ, mostrando algo completamente diferente do que estamos acostumados. Ao invés de termos um Batman sério com o Robin servindo como contraponto e quebra de seriedade, aqui temos o contrário: Um Robin focado e profissional, sem tempo para brincadeira; e um Batman sorridente, que faz piadas e age como o alívio cômico. E é muito divertido ver esse contraste que ao mesmo tempo é respeitoso à personalidade dos personagens. Estranho seria se Dick começasse a agir exatamente como Bruce só porque colocou um capuz de morcego.

Essa diferença é sentida também pelos personagens, principalmente pela polícia e pelo Comissário Gordon. Não é como se todo mundo simplesmente aceitasse que aquele é o Batman sem questionar as diferenças óbvias, como altura e voz diferentes; e a forma como Morrison mostra essa diferença vista pelas pessoas utilizando a polícia (que é quem tem mais acesso ao herói) é muito simples, direta e bem feita. Basicamente, o Batman está entre nós, e isso é o que importa. Sem perguntas.

No primeiro arco de Batman & Robin, que é a estreia de Dick Grayson como o Cavaleiro das Trevas e que conta com os desenhos do sempre talentoso Frank Quitely, Morrison brinca com os conceitos do universo Batman, e nos brinda com uma história onde os vilões são… do circo! Nada mais justo, dadas as origens circenses de Dick, filho órfão dos famosos acrobatas “Os Grayson Voadores”. O legal das histórias escritas pelo Morrison é justamente catar todas essas referências, que acabam dando uma experiência de leitura melhor ainda.

No segundo arco temos o retorno de um personagem que tem tudo a ver com Dick Grayson, Robins, e o legado do Batman. Sim, Jason Todd está de volta, e mais uma vez sob a alcunha de “Capuz Vermelho”, porém dessa vez com uma versão diferente de uniforme, com um design mais parecido com algo super-heróico. Jason, mais louco do que nunca, ressurge com o objetivo de punir e matar todos os criminosos de Gotham, mostrando que definitivamente o crime não compensa. Sua motivação, claro, é mostrar que Batman está obsoleto, e dessa forma se provar melhor do que Dick, de quem amarga a derrota de não ter conseguido o direito de se tornar o novo Batman na saga “Batalha pelo manto“. Um detalhe interessante nesse arco é uma estranha declaração de Jason, sobre Bruce obrigá-lo a pintar o cabelo quando ele era Robin para que se parecesse com Dick.

Estranho à primeira vista, mas plausível se considerarmos que Bruce não queria que as pessoas soubessem que ele estava com outro garoto no lugar do Robin.

Não vou falar a fundo sobre cada um dos arcos, pois são vários, cada um desenhado por um artista diferente. Só posso garantir que todos são muito bons, construindo aos poucos a relação desses novos Batman e Robin tão diferentes. As participações não se limitam a Jason Todd, e podemos encontrar também vários personagens importantes para a construção da história, como Talia Al Ghul, Exterminador, Batwoman e até Cavaleiro e escudeira, a versão de Batman e Robin da Inglaterra.

Mas a melhor participação de todas é dele. O palhaço, o joker, o bobo… o Coringa. Apesar de um grande fã da Piada Mortal e do Coringa de Alan Moore, eu considero que o roteirista que melhor escreve o personagem ainda é Grant Morrrison. Cada autor que escreve o Coringa dá a sua própria versão do vilão. Seja mais caótico e sério, mais brincalhão, algumas vezes completamente louco, outras absurdamente doente e pervertido, são muitas as personalidades dadas ao palhaço do crime durante os anos. E Morrison reúne tudo isso em um personagem só, utilizando a explicação de que a personalidade do Coringa é moldada de acordo com o ambiente. Sua mente simplesmente muda, se adequando às suas “necessidades”.

E aqui, com o seu Batman (como ele mesmo se refere) morto, o Coringa alega que isso o deixou… são. E realmente o que vemos é um Coringa muito mais no controle de si do que jamais foi visto, planejando, pensando, e em alguns momentos até mesmo ajudando. Seu diálogo com Damian dentro da sala de interrogatório (onde ele é espancado pelo moleque com um pé-de-cabra exatamente como fez anos atrás com Jason Todd) está entre um dos melhores momentos do personagem. 

Nesse encadernado temos também finalmente a resolução de um plot iniciado desde que Morrison colocou as mãos na revista do Batman: Dr Hurt e a Luva Negra. Aqui entendemos as motivações do vilão, e vemos o seu último grande plano para a dominação de Gotham.

Um final épico, envolvendo uma guerra pelas ruas de Gotham e uma pequena participação GENIAL do Coringa. Algo tão sensacional que só Grant Morrison poderia idealizar.

Um detalhe interessante e que pode fazer toda a diferença na leitura para entender essa parte final, é que esse encadernado precisa ser lido em paralelo a outro lançamento recente da Panini: Batman – O Retorno de Bruce Wayne.  Não que esse encadernado não funcione sozinho, ele funciona sim, e muito bem. Porém, a sequência final pode ficar um pouco confusa sem esse complemento.


Por Murilo Oliveira
Fonte: O Vício

Postar um comentário

4 Comentários

  1. Parece interesante,vou ler.
    Ps:I'm back!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se achar um pouco difícil de entender essa fase, recomendo que leia a fase do Morrison no Batman desde o começo (a partir do Batman #655) onde começa o arco Batman & Filho:
      http://planetamarveldc.blogspot.jp/2014/12/planeta-resenha-dc-batman-e-filho.html

      Excluir
  2. Acompanhei essa saga nos gibis mensais. Gostei bastante!

    http://gotasdexp.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir