Em sua estreia no título mensal do Morcego, Grant
Morrison optou
por uma breve história em quatro partes, seguindo um recurso tradicional de
suas obras: o resgate do passado por meio de releituras contemporâneas ou da
reintrodução de personagens. Batman e Filho, desenhado por Andy
Kubert, apresenta um novo herdeiro ao manto do morcego.
Diferentemente dos parceiros e filhos adotivos de Bruce Wayne, este nasceu de
noites de amor com Talia Al Ghul e, por muito tempo – desde O Filho do
Demônio, de 1989 –, permaneceu
fora da cronologia.
Refletindo o desfecho da Crise Infinita, em que os grandes
super-heróis ficam fora de ação por um ano – espaço justificado para a
megassaga 52, que tem Grant Morrison como um dos quatro roteiristas –,
Batman voltou com energia total e conseguiu erradicar boa parte do crime em
Gotham. Durante seu ano sabático – visto na megassaga –, o Morcego refez a
trilha inicial de sua formação como herói e, entre descobertas e meditações,
novamente encontrou o equilíbrio, uma força demonstrada ao combater o crime com
afinco.
A primeira página da trama apresenta um Comissário Gordon
enlouquecido com um novo gás do Coringa e com um Batman falso tentando
combater o vilão. Após levar um tiro deste falso Batman, o verdadeiro cavaleiro
surge e deixa o Palhaço do Crime nas mãos dos policiais. Neste resgate interior
de seu equilíbrio, Bruce Wayne decide dedicar um tempo como bon
vivant e parte a
Londres para visitar uma exposição artística, interrompida por uma horda de
capanga que utiliza o soro do Morcego Humano do Dr. Robert Kirkland Langstrom.
No meio da luta, é apresentado ao seu filho por Talia.
Morrison parece mais preocupado em inserir um personagem,
que pode render no futuro boas histórias, do que realizar uma adequada
introdução ao universo do Morcego. Normalmente, quando um novo roteirista
assina uma revista, há a natural fundamentação de parâmetros para tramas que
virão; o autor utiliza este recurso com Damian e o Coringa aprisionado. Mas,
com boa execução em metade da história, a outra parte falha e torna-se
apressada no final, com um dos recursos mais bobos utilizados por narrativas de
qualquer estilo: uma explosão em que bandidos desaparecem, resultando em um
desfecho inacabado. Em linhas gerais, também nota-se a intenção de fugir
levemente do realismo noturno da personagem, dando maior dimensão ao seu
arsenal como super-herói: Batman e Damian viajam em um foguete e a persona de
Wayne parece mais crítica e cômica nas falas.
O encadernado lançado pela Editora Panini apresenta este primeiro arco
(publicado originalmente em Batman #655 a #658 e, no Brasil, Batman nº 58 a 61)
e mais três histórias posteriores, lançadas após uma história dividida em
quatro partes intitulada Grotesco. Em O
Palhaço à Meia-Noite, Morrison demonstra sua loucura
característica ao apresentar um conto dentro da revista. Há pequenas
ilustrações irregulares de John Van Fleet, mas o destaque é
o conto literário sobre o Morcego e seu arqui-inimigo. É inegável a vontade do
roteirista em quebrar paradigmas. Imagine o choque do público ao abrir a
revista à procura de uma costumeira história em quadrinhos e se deparar com um
conto que flui de maneira muito diferente da de uma obra desenhada. No conto,
mesmo preso no Arkham, Coringa arquiteta um plano para matar sua cadeia de
contatos. Uma narrativa muito bem delineada que depende da inventividade do
leitor devido às metáforas visuais. Além disso, a trama traz um gancho que
envolve o Palhaço do Crime e Arlequina.
As três histórias seguintes compõem um mesmo enredo. Em Os
Três Fantasmas de Batman, Bruce Wayne ainda está viajando
quando recebe a informação de que há uma ameaça em Gotham City, e o responsável
por matar policiais é visto trajando um manto híbrido composto pelos uniformes
do Morcego e do vilão Bane. O título inegavelmente cita Charles Dickens e os três espíritos do Natal que
visitam o personagem principal do livro Um Conto de Natal. Os fantasmas de Bruce Wayne são
elementos traumáticos de sua vida. O primeiro deles apresenta-se na primeira
parte de Batman e Filho e é retomado nesta aventura: um Batman
que utiliza armas de fogo para matar, símbolo que não só representa a morte de
seus pais, mas também a mudança da filosofia da personagem, a de nunca utilizar
armas fatais. Em seguida, o policial truculento com o uniforme meio Batman meio
Bane dialoga com A Queda do Morcego. A primeira parte termina com uma
cena semelhante, com Batman agonizando no chão após levar um chute nas costas.
Em Casos Inexplicáveis,
um Wayne alucinado e acamado vive um pesadelo e menciona os casos não
solucionados durante sua carreira. Trata-se de outra retomada do roteirista a
uma série de histórias antigas do Batman que não se encaixam mais em sua
cronologia por serem diferentes demais do habitual. Tais narrativas foram a
base para compor A Luva Negra. Mais um mistério que
Morrison deixa para os fãs (um compilado com os casos citados também foram
lançados pela editora).
Por fim, Belém é uma história sobre um futuro
apocalíptico. Na edição original, foi publicada no número 666 de Batman e apresenta Damian assumindo o manto
do pai, modificando a filosofia de Batman ao tornar-se um herói que mata os
vilões, elemento que evidencia o terceiro temor do Morcego, o de um
futuro em que estará morto e seus sucessores não seguirão a base moral rígida
de sua carreira. Este argumento será utilizado em referências futuras,
demonstrando que, como sempre, a composição de uma história de Grant
Morrison nunca
possui o objetivo de ser uma mera leitura, mas também de um jogo de pistas e
inferências que somente o bom leitor poderá elucidá-las por completo.
Por Thiago Augusto Corrêa
Fonte: Vortex Cultural
Fonte: Vortex Cultural
2 Comentários
Batman pela imaginação bizarra de Morrison descobre que seu filho tem um Fetiche por usar Luvas Negras e que pra "descabelar o Palhaço" ele vira um Palhaço Gótico que fala com Fantasmas Pornôs a Meia-noite!! esse caso Inexplicavel de Damian, Batman descobre só pode ser resolvido pelo analista Grant 'Careca Dickens"!! minha cidade foi "representada" por Morrison quanta Honra!! Ah.. foi onde Jesus Nasceu!! ...Morrison me "enganou" com seu Jogo de Pistas!! Marcos Punch.
ResponderExcluirMais uma resenha por Marcos Punch!!!
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