Agent Carter estreou
no canal americano ABC no
último dia 6 com uma grande responsabilidade pela frente. Com total de oito
episódios e exibida durante o intervalo de Agents of S.H.I.E.L.D., a série traz de volta Peggy Carter,
personagem coadjuvante do filme Capitão América: O Primeiro Vingador. Será que a Agente Carter
tem potencial para ter sua própria série?
A aventura que abre a série mostra Howard Stark (pai
de Tony Stark) sendo acusado de vender armas no mercado negro
para os inimigos dos EUA, apesar de ter dado explicações ao Senado americano,
os agentes da justiça estão à sua caça quando Howard não comparece à última
sessão. Para provar sua inocência, ele busca ajuda com a agente Carter. Stark
apresenta Jarvis, seu mordomo, que estará ali à disposição de Peggy, que passa
a atuar como um agente duplo, enquanto dribla os agentes da SSR que caçam
Stark, ela busca tentar inocentar o amigo. Jarvis tem o papel de ser o parceiro
da agente Carter e lhe possibilitar a logística para realizar suas missões. A
agente tem que atuar em segredo. Seus colegas da agência não se sentem
confortáveis com sua presença.
Os dois episódios trabalham de forma
orgânica, o que nos dá a impressão que a série ficará longe de ser um
procedural (séries onde cada semana é um caso diferente), tanto no primeiro
episódio quanto no segundo, Carter e Jarvis terão que recuperar umas espécies
de bombas incandescentes e, aliado a isso, descobrir também quem ou o que é
responsável por roubar as armas de Howard Stark. O nome “Leviatã”
é o máximo que a agente Carter consegue como pista de quem está interessado
pelas bombas. A ameaça, meio fraca nesses dois primeiros episódios, deve ganhar
mais forma no decorrer da série. Nos quadrinhos, o Leviatã é uma organização
comunista forte, assim como a HIDRA.
Dessa forma a série deve – como desconfiei – tratar do surgimento da Guerra Fria.
Visualmente falando, a série está
ótima. A estética procura assemelhar-se ao aspecto noir e todo clima
de época tem uma grande presença nas cores, nos figurinos e nas músicas. Agent
Carter acerta na produção de arte.
“E o Capitão América?” Você
pode me perguntar, pois bem, ele aparece na série. A primeira cena é justamente
do Capitão, mas não se trata de nenhuma cena inédita gravada por Chris Evans.
São cenas do filme Capitão América: O Primeiro Vingador. A série faz um
gancho direto com o final do filme, como se nos quisesse dizer: “agora
vamos contar o que aconteceu com a agente Carter depois que o Capitão América
foi dado como morto” – dessa maneira, podemos situar a série entre o
primeiro filme do Capitão América e o curta-metragem One shot: Agent
Carter.
“Oh, e agora? Quem poderá me
defender?”
Além das cenas de introdução, o
Capitão América estará presente na série através do programa radiofônico “The
Captain America Adventure Hour”. Um programa que irrita Carter, pois nas
histórias narradas, a enfermeira Betty Carver a todo o momento está em perigo,
e deseja ser salva das mãos dos nazistas pelo
Capitão América. Esse jogo narrativo é muito interessante. Perceba que o rádio
vende a imagem do papel que as mulheres deveriam desempenhar, sempre indefesas
e dependentes da força masculina. Enquanto a rádio-novela passa essa ideia, na
ação real, Carter se comporta ao contrário, é independente, sabe se defender e
não foge da ação. Fica estabelecido aí um comparativo entre um personagem ideal
de uma época, e um personagem que procura fugir dessa idealização. Carter não é
nenhuma donzela em perigo, e se irrita bastante enquanto outros aplaudem o
programa radiofônico.
Abordar o sexismo é um dos pontos
mais interessantes dos episódios. Perceber como a agente Carter está inserida
nesse contexto, e vê-la driblar de maneira inteligente o padrão que é lhe
imposto, foi um acerto grande. Essa visão de comportamento não é um discurso
apenas de seus colegas homens, mas também de outras mulheres. Repare na
cena onde Peggy convence uma senhora a lhe permitir morar no prédio, ela tem
que dizer que pretende casar para ganhar a simpatia da recatada mulher. É
sofrível ver as situações pelas quais Peggy tem que passar, mas se lembrarmos
que se trata de uma série de época, Agent Carter nos possibilita
discutir o sexismo, e de que maneira o tema se desenvolveu nas décadas seguintes.
Agente Carter é uma personagem
feminina, que foge à regra de clichês que representam heroínas masculinizadas. Hayley Atwell nos
apresenta uma personagem que aceita sua feminilidade, e faz uso das suas
habilidades enquanto mulher, nos convence com sua força e determinação,
mas sem deixar de lado sua sensibilidade e fragilidade. O casamento entre esses
extremos garante a humanidade necessária à agente.
Ainda sobre Hayley Atwell, a atriz
está mais uma vez à vontade no personagem. Mesmo estando a sós com suas
lembranças de Steve Rogers, ou na presença de seus colegas de agência, Atwell
consegue oscilar entre a fragilidade e a força que a agente Carter deve
expressar. Em cenas que usa disfarces a atriz também brilha, seja como a loira
sedutora, ou como uma fiscal durona (as caras e bocas da atriz são hilárias).
No mesmo sentido, James D’Arcy, o intérprete de Jarvis, está ótimo no papel.
Nos quadrinhos, Jarvis é o mordomo de Tony Stark e dos Vingadores.
No universo cinematográfico, foi transformado numa inteligência artificial criada por Tony, mas agora, no
passado, o vemos em carne e osso.
Infelizmente nem tudo na série é tão
bom. Alguns diálogos são bobinhos e algumas situações meio forçadas. Por que
Peggy e Jarvis fingem que não estão conversando numa cafeteria quase vazia,
quando quem está ali percebe claramente que os dois estão interagindo? Sendo
uma produção televisiva, a série não conta com a mesma verba de um grande filme
da Marvel, o que acaba limitando muitos aspectos da série, inclusive em cenas
de ação mais elaboradas.
Numa análise final, Agent
Carter vale à pena. É uma divertida e elegante surpresa. Uma série de
época sobre espionagem, com uma heroína num papel bem escrito. Logo de começo, Agent
Carter acerta onde Agents of S.H.I.E.L.D. falhou, conquista o
público com o carisma da sua personagem, estabelece seu desenvolvimento, e nos
instiga a querer continuar acompanhando.
Agente Carter sai das sombras do
Capitão América para se tornar uma protagonista, diferente do que a sociedade e
o padrão imposto as mulheres na década de 1940 ditou, Peggy Carter não será a
donzela em perigo de uma radio novela, mas a heroína. Uma série como Agent
Carter fazia-se necessária há muito tempo, que tenha sucesso.
Por Luiz Alexandre Andrade
Fonte: Nerd Geek Feelings
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