Era 1990 (no Brasil). Os tenebrosos anos da “Era Image” já batiam os calcanhares das majors dos
quadrinhos norte-americanos, mas para um leitor como eu estava tudo muito bom
(mesmo).
As histórias da DC Comics publicadas
pela Editora Abril tinham dois anos de atraso, mas estavam no auge do frescor e
criatividade. Eram tempos da Mulher Maravilha de George Pérez, do Batman
escrito por Alan Grant, do Superman de John Byrne (que mesmo com toda a
controvérsia era sim um sucesso de vendas) e do Flash Wally West já escrito por
Bill Messner-Loebs.
Vemos Wally West numa consulta com o
terapeuta e , aparentemente, como na fase de Mike Baron (antecessor de
Messner-Loebs) o que poderia ser uma choradeira do Flash novato é uma divertida
e honrosa menção ao recém-falecido Barry Allen. Falando de sua origem e
buscando a causa da perda de parte de seus poderes no final de “Crise Nas
Infinitas Terras” ele divaga para um psicólogo sonolento toda sua passagem como
Kid Flash, a Crise propriamente dita e como Allen foi um modelo a ser seguido.
Tudo termina com uma bela poesia de Rudyard Kipling.
Colada com a origem de Wally vemos
Carmine Infantino (um dos criadores do Flash Barry Allen) revitalizar de forma
poética a origem do herói feita pelo mesmo Infantino juntamente com Robert
Kanigher e Julius Schwartz. Vemos o acidente, seus inimigos, seus amores, o
jovem Wally West, o Anti-Monitor e de forma muito singela o vemos definhar na
clássica cena de “Crise Nas Infinitas Terras” até desaparecer e se tornar o
raio que o transformou em Flash, iniciando um vórtice sem fim. Emocionante.
A terceira história é uma nova
versão da origem clássica da Liga da Justiça feita por Gardner Fox. Com
argumento de Keith Giffen, diálogos por Peter David e arte de Eric Shanower
vemos os então novatos Lanterna Verde Hal Jordan, Ajax, Canário Negro, Aquaman
e Flash lutando separadamente contra os appelaxianos (raça alienígena invasora)
e que percebem que unidos fariam tudo de forma mais fácil. O tom é leve e
engraçado (herança da fase engraçada da Liga encabeçada por Giffen) e retira de
forma retroativa a participação do Batman, Mulher Maravilha e Superman. Isso
também seria revisto dezenas de vezes. Nada demais, mas divertido.
A quarta, quinta e sexta histórias
falam de forma curta de Gladiador Dourado, Senhor Milagre e Capitão Átomo
(todos membros da Liga na época).
Dan Jurgens escreve e desenha o
surgimento de sua cria , o Gladiador. Ele era um jogador de futebol famoso no
século XXX e que por péssimas escolhas foi para a cadeia, perdeu tudo e ficou
na miséria. Após sair da cadeia ele consegue um emprego como faxineiro de um
museu. Lá ele decide roubar um uniforme alienígena e um anel de voo da Legião
dos Super-Heróis indo de volta ao passado, nos anos 80, para usar seu
conhecimento do futuro e enriquecer. Claro isso não deu certo e pouco depois
ele entra para a Liga da Justiça Internacional.
O mestre Don Heck pega o Senhor
Milagre de Jack Kirby e nos fala um pouco de seu passado em Apokolips como
filho adotivo de Darkseid. Paralelamente vemos a origem de Oberon, seu eterno
amigo. Enquanto Scott Free passa por todo o duro treinamento de guerra somos
apresentados para a juventude de Oberon, sua vida miserável no circo até
encontrar Thaddeus Brown, um especialista em fugas. A história corre em
paralelo e culmina na chegada do Senhor Milagre à Terra (fugindo de Darkseid) e
encontrando Thaddeus Brown morto após um confronto com mafiosos que haviam
raptado seu filho. Por algum motivo Free ajuda o pequeno homem e assume a
alcunha de Senhor Milagre usando o uniforme de Brown. Logo em seguida ele traz
Barda, seu grande amor de volta. Ótima história.
Cary Bates, Greg Weisman e Alan
Weiss usam a fase conspiratória das histórias solo do Capitão Átomo e nos
apresentam uma reunião em Las Vegas de fãs do Capitão Átomo. Vemos o acidente
nuclear que o criou, uma criança doente que conseguiu a cura após um passeio
cósmico com o Capitão, um casal salvo de outro teste nuclear no Pacífico e um
cosmonauta russo salvo de um acidente na re-entrada. Tudo bem vai muito até
percebermos que era tudo um ensaio de atores para um evento público que iria
engrandecer o herói prateado. Tudo uma farsa…
Começa então a sequência dos
personagens da galeria do Batman.
Jan Strnad (roteiro) e Kevin Nowlan
(arte) tiveram a difícil tarefa de recontar a origem do Morcego Humano. Superar
a clássica história de Frank Robbins e do mestre Neal Adams seria difícil mas a
dupla se dá muito bem ao contar o drama de Kirk Langstrom um cientista que
procurava um soro capaz de criar um radar semelhantes ao dos morcegos e que
ajudaria deficientes físicos no dia-a-dia. Mas algo dá errado e ele se torna um
ser monstruoso que na verdade causa mais compaixão por seu sofrimento que
repulsa. Batman tenta ajudá-lo, mas tudo dá errado e nascia o personagem mais
trágico da galeria do homem morcego.
Neil Gaiman conduz uma história que
ligará as origens de Charada, Pinguim e Duas Caras.
Vemos mais perguntas que respostas
na origem de Edward Nigma, a infância de abusos e maus tratos do Pinguim e a
também trágica origem do Duas-Caras onde Harvey Dent tem seu rosto atingido por
ácido arremessado por um mafioso. Os artistas são muitos bons: Alan Grant e Sam
Keith recriam o Pinguim, Ben 89 e M. Wagner criam as maluquices de Gaiman para
(não)contar o Charada e Pat Broderick nos mostra a derrocada de Harvey Dent.
“Superalmanaque DC #1” é uma boa
coletânea de um período muito fértil da DC. Seus escritores e desenhistas
tinham liberdade para abordar temas mais soturnos, conspirações políticas,
terror hard, etc. E é um bom experimento no quesito “mix” praticado pela Abril.
Por Andy Nakamura
Fonte: Dínamo
Fonte: Dínamo
6 Comentários
Tem o Duas Caras,então vale a pena.Brincadeira.Mas parece bem interessante principalmente a do Flash e do Morcego Humano.
ResponderExcluirPs:O que é a "Era Image"?Algo relacionado a Image comics(aquela do Spawn)?Foi algo ruim?
Serio,eu fiquei realmente curioso.
Isso mesmo, tem o Spawn, Walking Dead e alguns dos personagens que a DC incluiu no universo dos Novos 52 como o Stormwatch, Bandoleiro, Vodu e alguns personagens dos Devastadores.
ExcluirAinda não li, mas ouvi falar muito bem de uma série chamada Sex Criminals, com o Ed Brubaker (o mesmo do Capitão América da fase do Soldado Invernal).
Mas o que é a "Era Image"?Fiquei com duvida.
ExcluirPs:A Dc comprou a Image?
A Image começou como uma editora fundada no começo dos anos 90 (92 ou 93) por desenhistas e roteiristas que estavam fazendo muito sucesso na Marvel (como o Todd McFarlane, Jim Lee, etc). Eles começaram criando seus próprios personagens (Spawn, Witchblade, Wildcats) e fizeram tanto sucesso que, durante um tempo, na década de 90, a Image chegou a ser a segunda maior editora em vendagem (deixou a DC em terceiro). Com o tempo, a coisa desandou, e hoje é a terceira maior editora tendo seus próprios heróis.
ExcluirSó que, dentro da Image, tinha um selo chamado Wildstorm (é parecido com a Vertigo dentro da DC). Esses personagens da Wildstorm (criado pelo Jim Lee) foram adquiridos pela DC (como o Stormwatch, Bandoleiro, Team 7, etc). E até mesmo alguns da Image como o Wildcats também foram comprados pela DC.
É chamado de "Era Image" justamente porque foi uma editora que fez tanto sucesso, que conseguiu, na década de 90, até mesmo ultrapassar a DC e quase ultrapassou a Marvel em vendas.
Valeu pela explicação.
ExcluirPs:A Darkhouse(que eu pessoalmente gosto mais do que a Image) já teve um "era" só dele?
Ps2:Engraçado a Marvel que é a numero 1 em vendas ter sido comprada enquanto a Dc que é a numero 2 compra,não acha?
Ps: Bom, a Dark Horse (do Conan, o Sombra, Sin City, vários mangás, etc), que eu saiba, sempre foi uma editora que se manteve bem em vendas, mas nunca chegou ao "estrelato". Só a Image mesmo é que teve seu momento de glória.
ExcluirPs2: Você se refere à compra pela Disney? Se for isso, eu também acho interessante essa comparação. Se bem que, no caso da Marvel, acho que ela se saiu melhor sendo comprada pela Disney, do que a DC comprar os direitos de personagens da Wildstorm (já que, na minha opinião, eles estão sendo mal utilizados no universo dos Novos 52). O Stormwatch é um bom exemplo. Eu estava gostando muito dessas histórias, e eles chegaram a ter uma fase muito boa com o Jim Starlin, mas o título foi cancelado (e as vendas nem eram tão baixas assim). Já o Bandoleiro (que tinha um grande potencial) foi largado nas mãos do Rob Liefeld que simplesmente estragou tudo.