Bilhões de anos atrás os seres
conhecidos como “Celestiais” visitaram a Terra e fizeram dela seu tubo de
ensaio, manipulando a estrutura genética dos habitantes, concebendo assim seu
projeto de ciências cósmico. Como resultado disso eles criaram novas raças: Os
Deviantes, os Humanos e os Eternos.
E por “grande máquina”, entenda-se o
planeta Terra.
Os Eternos são fruto da imaginação
incomparável de Jack Kirby, mestre criador de alguns dos mais importantes
super-heróis que conhecemos. Curiosamente, podemos supor que os Eternos por
pouco não foram criados dentro da concorrente DC Comics. É que Kirby havia
saído da Marvel e ido de malas, cuia e genialidade para a editora do Superman,
onde trabalhou por cinco anos, o que foi suficiente para ele criar uma
mitologia própria dentro daquele universo, dando vida a personagens como Os
Novos Deuses (e o vilão mais emblemático da DC até hoje, Darkseid), além de
Etrigan, o demônio, Kamandi, Omac, etc. Após esse período, ele regressou para a
editora do Homem Aranha, onde voltou a trabalhar com os personagens da Marvel e
criou os Eternos.
A série original durou apenas 19
números, e embora tivesse uma premissa poderosa, não se refletiu em boas
vendas. Os personagens ficaram à margem dos acontecimentos do restante do
Universo Marvel durante muitos anos, tendo até reaparecido em outras HQs na
tentativa de fazê-los relevantes, mas sem muito sucesso, até que foram
revitalizados nessa minissérie de Neil Gaiman e John Romita Jr.
Escolher Gaiman para trabalhar nessa
série pareceu ser a decisão mais acertada possível, uma vez que o autor já
consagrado pelo seu trabalho na série Sandman da Vertigo dificilmente erraria a
mão com um conceito tão rico como esse. Mas o fato é que se os fãs de Sandman
lerem a minissérie esperando encontrar algo dos Perpétuos nos Eternos ficarão
decepcionados.
Tanto na sua própria essência quanto
no aprofundamento da história, temos trabalhos distintos… e é assim que deveria
ser mesmo. Não que o texto não seja profundo, não que os personagens não sejam
bem explorados… muito pelo contrário. O que vemos é uma preocupação enorme do
autor com o “elenco” da HQ, trabalhando habilidosamente seu cotidiano com o
cuidado de um pai. A essa altura, Neil Gaiman não seria um escritor capaz de
escrever diálogos rasos, ainda que não alcance o nível de complexidade já visto
anteriormente. Entretanto, mesmo escrevendo abaixo do padrão de seus outros
trabalhos, Gaiman possui um texto acima da média, fora dos parâmetros
tradicionais de um gibi de super-heróis, o que é muito bom pela sua abordagem
diferenciada, mas pode desanimar aqueles que esperam grandes batalhas ou cenas
de lutas épicas. Calma, as batalhas existem, mas nunca são o foco da trama.
John Romita Jr. está inspiradíssimo,
numa das suas melhores performances. Ele recria à sua maneira os grandes seres
cósmicos imaginados por Jack Kirby e entrega belos painéis com os gigantescos
Celestiais, invocando em sua arte toda a grandiosidade do traço do criador dos
personagens.
A minissérie termina com a promessa
de um novo começo, deixa um gosto de quero mais, e estabelece o ponto de
partida para que os Eternos repovoem o Universo Marvel.
Por Rodrigo Garrit
Fonte: O Santuário
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