Apostando todas as fichas nos
sucessos indiscutíveis de suas recentes adaptações cinematográficas e em um
esforço notável para integrar os quadrinhos com seus filmes e séries a Marvel
lançou o mais novo título protagonizado pelo atual Homem-Formiga,
Scott Lang.
O principal problema do título é que
se por um lado Homem-Formiga é uma leitura perfeita para novos
leitores interessados no protagonista, a HQ descaracteriza um pouco a mais
recente encarnação do personagem como líder da Fundação Futuro. Em Homem-Formiga Scott
Lang é o perdedor que todos nós amamos – Um cara comum, não muito jovem e não
muito velho, cheio de problemas pessoais, financeiros, com uma bagagem de vida
recheada de arrependimentos e que geralmente toma as decisões erradas. Ok, isso
faz dele um protagonista muito interessante e cheio de nuances, no entanto se
lembrarmos sua atuação recente como líder do novo Quarteto Fantástico e como
responsável pela Fundação Futuro veremos que este Lang aqui tem muito pouco a
ver com o outro. Todo o amadurecimento, modo de operar, motivação e até muitas
das habilidades mostradas durante o período em que o Homem-Formiga esteve no
Quarteto Fantástico (substituindo Reed Richards, diga-se de passagem) são
jogados no lixo em benefício de uma persona que se alinhe mais aos interesses
da editora em aproximar o personagem de sua versão cinematográfica. Isso pode
ser difícil de engolir para alguns leitores que acompanham o personagem há
alguns anos.
De qualquer forma não se pode dizer
que o roteiro de Homem-Formiga é ruim, chato ou mal feito. Muito pelo
contrário, tirando a evidente descaracterização do personagem (e de sua filha,
Cassie) a história é muito boa de ler. Temos um protagonista imprevisível, bem
humorado na medida certa (sem os habituais exageros em piadinhas) e sobretudo
muito humano. Os diálogos de Nick Spencer entre Scott e sua filha Cassie são
maravilhosos e o autor conta em algumas páginas basicamente o roteiro do filme
que estreia esse ano em forma de um flashback bem instrutivo. Além
disso, a primeira edição tem a dose certa de ação e comédia necessária para
divertir qualquer tipo de leitor de quadrinhos.
A arte de Ramon Rosanas em Homem-Formiga é
simples, limpa e muito dinâmica lembrando bastante o trabalho de Paolo Rivera e
Chris Samnee em Demolidor. Se você curte esse estilo de desenhos um pouco
menos épicos e que dão mais foco no roteiro do que nas splash pages megalomaníacas
deve gostar do trabalho do ilustrador que tem muita personalidade e representa
com perfeição seja o próprio Lang e o elenco de apoio ou Tony Stark (que faz
uma ponta). As cenas de ação são soberbas e a miniaturização e relação do
personagem com os insetos são retratadas de forma perfeita pela equipe de arte.
Não há realmente o que reclamar desses desenhos na estreia. Um trabalho
excelente.
Homem-Formiga é perfeita para
novos leitores. Se você nunca leu nada do personagem vai adorar conhecê-lo e
vai se apaixonar pela história de vida mostrada nestas 33 páginas. Tudo que
você precisa saber sobre o Scott Lang atual já está aqui. Entretanto se você
for pesquisar a história do personagem (não precisa ir muito lá atrás não) é
bem provável que vá se decepcionar com algumas coisas feitas pela Marvel e pelo
roteirista neste novo título. Se você é fã do personagem e tem acompanhado sua
carreira ao longo dos anos também vai notar algumas diferenças entre esta
versão de Scott e as anteriores. Tirando isso temos uma leitura divertidíssima
e cheia de personalidade com uma arte de alto nível e um protagonista tão
humano quanto você ou eu. Uma estreia muito interessante com um final
totalmente inesperado para esta primeira edição. Desrespeitando o legado do
personagem ou não a HQ é uma ótima pedida e é fortíssima candidata e se tornar
um xodó dos fãs e da crítica especializada este ano.
Por Igor Tavares
Fonte: Proibido Ler
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