Em comemoração aos 80 anos do Superman em 2018, nosso colaborador Giulianno de Lima Liberalli deixa suas impressões e experiências com o Homem de Aço e muito mais.
O
ano era 1978, como criança na época adorava qualquer coisa relacionada a
super-heróis, quando digo qualquer coisa era isso mesmo: desenhos, séries, gibis,
apesar de estar começando a ler naqueles tempos, e entre várias coisas que as
indústrias poderiam empurrar para crianças ávidas por material que estampasse
seus coloridos heróis e significassem o gasto de um dinheiro suado dos seus
pais, para desespero deles. Desde cedo fascinado pelo mundo heroico do
Homem-Aranha, Hulk, Batman, Aquaman e afins nada poderia ter me preparado para
o absoluto assombro de ir ao cinema e assistir ao que, até hoje para mim, é a
melhor e mais fiel produção do cinema sobre um super-herói: Superman – O Filme.
Mesmo
mais de 40 anos depois, o brilho e a sua importância não diminuíram com o
passar dos anos, sendo considerado um marco e um divisor de águas nas produções
de filmes de heróis, sua influência ainda é sentida, um exemplo é a arte de
Gary Frank quando ele desenha o Superman, sempre retrata a aparência de
Christopher Reeve como base para o semblante do personagem, ele que foi
selecionado dentre mais de 200 atores para interpretar o Homem de Aço no cinema
é considerado o melhor Superman do cinema pela maioria dos fãs, incluindo eu,
óbvio. O personagem completou 80 anos de criação, oito décadas de uma evolução
constante que passou tanto por momentos marcantes como constrangedores também,
um evento como esse merecia grandes homenagens e, infelizmente, a Panini meio
que deixou passar batido com a simplória publicação de Action Comics Especial
dos 80 anos de Superman.
Digo
simplória porque a revista, apesar das boas histórias que ela trás, fica por
isso mesmo: apenas histórias e reproduções de capas comemorativas na versão
mais simples da original estadunidense, nem mesmo um texto editorial sobre a
importância do Homem de Aço para o mundo das HQs ou um pôster comemorativo como
fizeram em Os Novos 52, afinal se hoje temos um vasto universo com heróis
fantásticos de sobra, pode ter certeza de que o big bang dessa realidade se deu
justamente com o lançamento de Action Comics # 1 em 1938, atingido a notória e
invejável marca de 1000 edições publicadas tendo sempre o Superman como protagonista,
seu companheiro de editora, Batman, também atingirá essa marca em maio de 2019
com direito a homenagem semelhante na sua revista original: Detective Comics.
A
publicação abre com a reprodução costumeira de Action Comics # 1 com a primeira
história do Superman mostrando sua origem bem resumida como sendo um alienígena
vindo ainda criança de um mundo moribundo para adquirir superforça e poderes
milagrosos na atmosfera do planeta Terra e passar a lutar pela justiça,
liberdade e modo de vida americano. Curioso perceber que o visual do personagem
mudou enormemente desde aquela época, porém seu rosto mantém os traços
característicos até os dias atuais, pena que seus criadores, Jerry Siegel e Joe
Shuster, não imaginaram o sucesso que ele teria e o venderam baratíssimo para a
editora sem se preocuparem em resguardar direitos de publicação, acredito que
devido a serem muito jovens e inexperientes em lidar com lobos de gravata os
levou a essa decisão infeliz, situação essa que suas famílias correram atrás de
corrigir nos tribunais e conseguiram, em 1976, o direito de passarem a ser
creditados e a receber por licenciamento de publicação do personagem.
Voltando
ao especial da Panini, apesar do tratamento especial dado a publicação, ficou
faltando, como disse antes, um texto introdutório não para apresentar o
personagem, o que não é tão necessário, só que uma reflexão sobre sua
importância cultural e relevância para o mundo dos HQs, cinema e afins cairia
muito bem para ilustrar que uma marca de 80 anos de publicação praticamente
ininterrupta, atingindo 1000 edições, não é algo que se deva deixar passar em
branco, veja bem: dezenas de heróis que conhecemos já passaram da marca de 50,
60 e quase 70 anos de criação como Flash, Aquaman, Lanterna Verde e Arqueiro Verde,
o que os diferencia do Superman é que passaram por momentos de limbo, ficando
como coadjuvantes especiais em revistas como Liga da Justiça e quase indo para
o esquecimento, quando o Homem de Aço passou por situação semelhante?
A
primeira história após Action Comics # 1 mostra um dia de homenagem ao Superman
feito pela cidade de Metrópolis escrita por Dan Jurgens, um dos mais conhecidos
roteiristas do personagem e um dos responsáveis pela clássica “Morte do
Superman”, onde vemos o herói mais preocupado com um perigo iminente do que em
ser homenageado pela família, amigos e conhecidos e também por pessoas que
tiveram suas vidas transformadas pela sua passagem. Logo depois seguem uma
série de contos curtos escritos e desenhados por diversos autores retratando
situações diversas como um dia na vida do Superman tendo que enfrentar Vandal Savage
no dia do seu aniversário, uma situação de estresse com reféns em Metrópolis
sem a sua participação direta mostrando que, apesar dos seus poderes, não tem
como estar em todos os lugares ao mesmo tempo e a sua fé de que a humanidade
consegue caminhar sem ter que contar com sua presença a todo instante.
Uma
história interessante sobre o dono do carro que ele levanta e destrói na capa
de Action Comics # 1 e como sua vida mudou depois, um breve encontro com Lex
Luthor relembrando uma passagem de suas infâncias em Smallville, uma visita do
Superman ao planeta Terra milênios depois que a humanidade o deixou antes do
nosso Sol entrar em supernova, um momento na correria do trabalho de Clark Kent
como repórter enquanto tenta solucionar crises como Superman ao mesmo tempo, um
conto sobre como ele é importante até para um vilão como o Sr. Mxyzptlkter
sentido em sua existência e um intitulado “Mais Rápido do que Uma Bala”, uma
bela homenagem a Christopher Reeve e o melhor da edição, a minha opinião.
Encerrando
tem uma prévia da estreia de Brian Michael Bendis no título do Homem de Aço com
a arte de Jim Lee eparte das capas comemorativas das 1000 edições desenhadas
por grandes mestres como John Romita Jr, Neal Adams, Curt Swan, Jock, Patrick
Gleason, George Pérez, Kaare Andrews, Dave Gibbons entre muitos mais. Os
roteiros também foram assinados por feras como Dan Jurgens, MarvWolfman,
GeoffJohns, Tom King, Louise Simonson e Brad Meltzer. Uma ausência sentida foi
a de John Byrne nesse especial, com certeza foi pelo fato da sua saída não ter
sido das melhores da DC, responsável pela grande revitalização do personagem na
época pós-Crise nas Infinitas Terras o autor e desenhista é conhecido pelo
gênio difícil e o temperamento meio “egoísta”, que foi um dos principais
motivos do fim de sua parceria com Chris Claremont nos tempos dos X-Men na
Marvel, certamente isso o deixou de fora dessa comemoração.
Nesse
especial ficou a sensação de que o aniversário de 80 anos é mais um dos eventos
que acontecem durante o ano, como uma saga ou uma edição especial aleatória
comemorando mais um aniversário de criação. O medalhão da editora e o maior
herói das HQs merecia um tratamento melhor nas nossas terras brasileiras em
homenagem a uma contribuição enorme para o mundo das artes, do cinema e dos
quadrinhos, com uma influência que vai superar um século em pouco tempo com
tranquilidade, influenciando sempre uma nova geração de artistas e sonhadores.
Para
o alto e avante.
Artigo publicado por Giulianno de
Lima Liberalli
Colaborador do Planeta Marvel/DC