Postado por Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador do Planeta Marvel/DC
A edição encadernada da
primeira parte da minissérie do Senhor Milagre demorou um tempo para chegar às
bancas. Depois de um episódio ainda nebuloso sobre ela ter sido, ou não, uma
tentativa da Panini de iniciar vendas somente pela sua loja virtual sem enviar
para os pontos de venda físicos. Polêmicas à parte a edição acabou indo para as
bancas, mas em uma tiragem bem limitada pelo que pude apurar pelos vários
comentários enviados por leitores, que procuraram por esse lançamento em
diversos estados do país.
O importante é que consegui a
edição praticamente em uma corrida do tipo “cheguei primeiro!”, sorte a minha
pois é um material muito bom, escrito pelo atual roteirista-sensação dos
quadrinhos: Tom King e ilustrada pelo artista Mitch Gerads, ambos foram
responsáveis por “O Xerife da Babilônia”
para o selo Vertigo. Além de roteirista, King foi também agente
contraterrorismo da CIA durante sete anos, logo após o 11 de setembro, e
podemos sentir o tom das suas experiências de vida através dos seus trabalhos,
que inclui uma breve e elogiada passagem pelo Visão na Marvel e lhe rendeu um
contrato de exclusividade na DC assumindo o título do Batman.
Mas o objetivo desse texto é a
reformulação de um dos mais antigos e queridos personagens da DC para os novos
tempos: Senhor Milagre. Scott Free é filho do Pai Celestial de Nova Gênese e
foi mandado para Apokolips ainda bebê devido a um acordo feito entre seu pai e
Darkseid, eles trocaram de filhos para dar fim a um conflito que se arrastava
por gerações. Assim Órion, filho de Darkseid, foi para Nova Gênese crescer no
paraíso e Scott foi mandado para um lugar que se não é o inferno nas estrelas,
é algo bem próximo conhecido como o Mundo de Darkseid. Chegando lá foi enviado
para o Orfanato da Vovó Bondade (nome mais irônico do que esse é difícil) e
cresceu debaixo das piores situações possíveis, o que lhe aprimorou mente e
espírito para se tornar um especialista em fugas. Com o tempo conseguiu chegar
a Terra acompanhado da Grande Barda, uma das Fúrias Femininas da Vovó, bela e
feroz guerreira de impor respeito até a Mulher Maravilha e sua atual esposa.
Aqui conheceu Thaddeus Brown, escapista à moda Harry Houndini (um dos mais
famosos ilusionistas da história dos espetáculos), e seu ajudante Oberon;
Thaddeus se tornou um mentor e uma espécie de segundo pai para Scott, tanto que
ele adotou a alcunha de Senhor Milagre após a morte do seu amigo ficando com o
nome, uniforme e show sendo sempre acompanhado por Barda e Oberon.
Aqui termina a origem clássica do
personagem que todos conhecemos. Nessa saga escrita por King vemos que as
coisas não são tão preto no branco assim e algo muito sombrio está acontecendo
na vida de Scott. Darkseid É. Tudo começa com uma chocante tentativa de
suicídio de Scott, ele vai parar em um hospital às portas da morte após cortar
os pulsos, para desespero de Barda e apreensão dos milhares de fãs que
acompanham seu mundialmente famoso show de fugas. O que levou o herói a cometer
um ato tão desesperado assim? Depressão, tormento? Um mistério que fica mais
complicado a medida que a história avança e ficamos com a impressão de estar
vendo algo nas entrelinhas, parecendo uma manipulação.


Como se não bastasse explode uma
guerra em Nova Gênese, Darkseid enfim consegue os segredos da Equação Antivida,
o Pai Celestial morre e Órion assume o comando. Scott e Barda são convocados
imediatamente para a batalha, o problema para o herói é que ele precisa
entender o que está acontecendo com a sua realidade enquanto precisa lutar para
defender seu mundo natal contra a ameaça do mundo que o criou. Darkseid É. A
situação se desenrola entre momentos da vida do casal na Terra, sua rotina de
shows e a necessidade de tomar uma posição sobre o grande conflito que está
acontecendo no espaço, as batalhas são viscerais, sangrentas, vemos porque
Barda é considerada uma das melhores Fúrias e Scott se sai bem como um
comandante das forças de Nova Gênese. Temos até um embate sinistro entre eles e
a famigerada Vovó Bondade cujo desfecho é, no mínimo, chocante e mostra que a
situação não está para brincadeira, é guerra. Entremeado a isso ainda tem um
problema sobre o fato de Órion se tornar o sucessor do Pai Celestial levando em
consideração o feroz guerreiro que ele é, situação que leva o Senhor Milagre a
constantes e violentos embates contra seu, por assim dizer, irmão e novo
governante.

Por todos esses méritos a HQ foi
considerada a melhor de 2017, marcando o nome de Tom King no mundo dos
quadrinhos. Lendo o material fica muito fácil de entender o motivo e é uma
leitura altamente recomendada não só para os fãs do personagem como para os
apreciadores de uma boa história em quadrinhos de heróis, mistério e suspense.
A Panini programou para julho/2019 o lançamento da segunda parte que promete
maiores esclarecimentos na continuação, o final do primeiro encadernado é
enigmático e sensacional.
E se ficou curioso com o termo
“Darkseid É” que apareceu durante o texto, eu não posso explicar, somente lendo
a história para entender. Me perdoem o enigma para quem não leu, mas não
resisti à tentação. Até a continuação após o lançamento do segundo volume.