[o artigo abaixo contém spoilers]
Roteiro de Kieron Gillen
Desenhos de Steve McKelvie
Arte-final de Mike Norton
Cores de Matthew Wilson
Desenhos de Steve McKelvie
Arte-final de Mike Norton
Cores de Matthew Wilson
Os Jovens Vingadores começou como um grupo formado em sua
maioria por filhos de heróis que fizeram parte dos Vingadores, e herdeiros de títulos que suas
versões mais velhas e conhecidas usavam. Sua série anterior durou apenas 12
edições, e foi um sucesso de vendas, tendo como roteirista Allan Heinberg, mais conhecido por seu trabalho como
produtor e escritor de episódios de séries como The O.C., Grey’s Anatomy e Gilmore Girls. Sua abordagem chamou a atenção não
apenas por conseguir criar relações nada forçadas entre estes novos personagens
e outros já estabelecidos no Universo Marvel, mas principalmente pela inclusão
de um casal gay no grupo.
Depois desta
primeira série os Jovens Vingadores tiveram participações pequenas em algumas
das grandes sagas da editora, histórias que não estiveram sob o comando de
Heinberg, que só voltou a trabalhar com os personagens em Os Vingadores – A Cruzada das Crianças, mini-série
que serviu para esclarecer alguns dos mistérios relacionados à origem dos irmãos
Wiccano e Célere, e revelar o paradeiro de sua mãe, a Feiticeira Escarlate, que desde o final da saga Dinastia M estava desaparecida, além de finalizar
os plots em aberto deixados por Heinberg em sua primeira fase com o grupo.
Na capa já é
possível notar um arranjo no uso das cores, na disposição dos quadrinhos e na
postura dos personagens que evoca um ritmo musical, que particularmente me
lembrou as músicas do Daft Punk (mais
especificamente as batidas iniciais de “One More Time” –
experimente olhar pra ela enquanto escuta o começo da música), antecipando a
narrativa experimental que será usada pela dupla.
Os primeiros membros
com quem temos contato são Noh-Varr (Marvel Boy) e Kate Bishop (Flechete). O primeiro um alienígena da raça Kree vindo
de um universo paralelo, a segunda uma garota especialista no uso de arco e
flecha, que por um tempo usou o codinome Gaviã Arqueira, até Clint Barton, dono do título, ressuscitar (ele
havia sido morto pela Feiticeira Escarlate uns anos atrás), quando foi
forçada a bolar um outro. Aparentemente os dois se conheceram em uma balada, e
terminaram na cama do rapaz, que atualmente vive numa nave orbitando a Terra,
após ter sido expulso dos Vingadores por
uma besteira que fez durante a crise Vingadores vs. X-Men.
Vale a pena prestar muita atenção nos “objetos
cenográficos” das três primeiras páginas, com pôsteres de filmes, aparelhos de
som e mobília que acusam o (bom) gosto do rapaz alienígena, e seu fascínio por
relíquias da cultura de nosso planeta.
O aspecto
musical da narrativa começa já na terceira página, embora, para ser plenamente
apreciada pelo leitor, ele deva avançar para as páginas de créditos, onde
Gillen indica a trilha sonora da cena em que Noh-Varr aparece
dançando (único detalhe que julguei falho nesta edição, pois o escritor poderia
ter usado uma nota de rodapé na cena pra evitar que ela fosse revisitada logo
após a primeira leitura). E a música casa perfeitamente! Se você bota “Be My Baby” d’As Ronettes pra
tocar exatamente no quadrinho em que Noh-Varr põe o LP (!) no toca disco, o refrão
entra quando você chega no último quadrinho da página, que tem tudo a ver com o
monólogo interno de Kate. É uma sincronia entre duas mídias distintas como
poucas vezes se viu!
A sequência do ataque skrull vem logo depois da cena
descrita no parágrafo anterior, e no embalo da música que a pontua. Ela foi a
primeira a ser divulgada antes do lançamento para exemplificar o ritmo de
videoclipe que a dupla usará nas sequências de ação da HQ. Mesmo não sendo
inédita para quem acompanhou as notícias sobre o título, é necessário apontar
quão brilhante ela é na disposição dos quadrinhos, na economia da execução, e
na maneira como ela conduz o leitor de maneira ágil e sem prejuízos. É tudo
muito rápido e intenso e feito pra ser lida com o entusiasmo juvenil
impulsionado pela música sugerida por Gillen, que é sua principal força motriz.
É uma sequência feita para empolgar o leitor com o potencial do título que tem
em mãos (ou na tela do notebook, como é o meu caso). É explosiva e linda de se
ver, e você vai querer revê-la várias vezes, até mesmo testando novas
combinações com outras músicas que julgar em sintonia com o ritmo das imagens.
Após esta abertura
que já fisga o leitor, entramos em contato com outros dois integrantes da atual
formação da equipe, aqueles que receberão mais atenção nesta primeira história: Hulkling e Wiccano, o casal gay do grupo. Hulkling é
um mestiço transmorfo, filho do Capitão Marvel original,
da raça Kree (sim, a mesma de Noh-Varr, só que originária deste universo), com
a Princesa Anelle, filha do Imperador Skrull, ou
seja, ele é o fruto da união entre duas raças alienígenas inimigas (pra quem
não sabe, uma das sagas mais famosas da Marvel trata justamente dessa
rivalidade entre elas, a famosa Guerra Kree-Skrull).
Já Wiccano é
um dos dois filhos que a Feiticeira Escarlate criou com seus poderes mágicos (!)
quando foi casada com o sintozóide Visão. Enquanto seu irmão Célere é
superveloz como seu tio Mercúrio (irmão
da Feiticeira e, assim como ela, filho do ex-terrorista mutante e atual x-men Magneto), Wiccano controla magia como sua mãe.
Acompanhamos uma sincera e bem escrita discussão de relacionamento entre os
dois heróis, que além de trazer algumas referências culturais perfeitas para
criar identificação entre os personagens e os jovens leitores, ainda serve
para apresentá-los com naturalidade a quem não os conhece.
Julguei sábia a decisão do autor em dar mais atenção
para os homossexuais do grupo, pois desta forma ele já deu aos possíveis
leitores preconceituosos a chance de abandonarem o título logo no início,
enquanto ofereceu aos de mente mais aberta uma abordagem autêntica da questão,
sem fazer rodeios para contornar a sexualidade dos personagens criando cenas
sugestivas.
Neste número ainda
temos rápidas aparições de outros dois futuros membros dos Jovens Vingadores. O
primeiro é Loki, a atual encarnação adolescente do Deus da
Trapaça, com quem Gillen trabalhou brilhantemente em Journey Into Mystery, que promete ser a grande e
bem vinda novidade da equipe. Ao lado dele é (re)introduzida a Miss América Chavez, que é basicamente uma latina com
super-força e poder de vôo que usa um uniforme com temática patriótica (mais
uma variação da bandeira dos Estados Unidos). Desconhecia o fato de ela ter
aparecido antes deste número de estreia, mas Gillen a escreve como se fosse sua
primeira aparição, evitando qualquer estranheza. Além disto, ajuda muito o fato
de ela protagonizar, ao lado de Loki, outra sequência de ação estilosa em que
acompanhamos três ações ocorrendo paralelamente até que seus efeitos se cruzem
nas páginas finais da edição.
Mas tudo isto não
funcionaria tão bem se não contasse com os desenhos muito expressivos e limpos
de Steve McKelvie. Seu traço lembra o de George Pérez, só que menos “poluído” de detalhes e,
portanto, mais arejado, o que tem tudo a ver com uma história com jovens
protagonistas, que precisam de espaço pra se expressar, mover, lutar e se fazer
notar pelo leitor. Young Avengers é sobre tudo isto e também sobre quão
espetacular é ser um jovem super-herói, e porque todos deveriam tentar,
metaforicamente falando (a não ser que você tenha um superpoder ou seja o
Batman). Grande estreia de um título que já nasceu como um dos melhores da
temporada.
Fonte: Nerd GeekFeelings
2 Comentários
Valeu! Perdi os primeiros numeros quando veio no Mix do Brasil!
ResponderExcluirSe não me engano, veio no mix do Homem do Ferro e Thor não é isso? Espero que você possa conseguir as que faltam futuramente. Eu que agradeço seu comentário Rodrigo!
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