[o artigo abaixo contém spoilers]
Roteiro de Sam Humphries
Desenhos de Ron Garney
Arte-final de Danny Miki
Cores de Marte Gracia com Israel Gonzalez
Desenhos de Ron Garney
Arte-final de Danny Miki
Cores de Marte Gracia com Israel Gonzalez
Depois de uma fase
escrita por Rick Remender que fez sucesso entre os leitores e foi
muito elogiada pela crítica especializada, a X-Force tornou-se uma marca com a qual a Marvel
deveria lidar com muito cuidado para evitar que enfraquecesse. A solução que
encontrou: dividi-la em dois títulos. O primeiro deles, Cable and X-Force, já estreou em novembro do ano
passado, e trabalha com a ideia de membros da primeira formação da equipe
criando uma nova versão do grupo, que agora é vista como uma célula terrorista
mutante, graças a circunstâncias até o momento não totalmente esclarecidas.
Seja como for, está sendo um bom reinício. A outra série da X-Force demorou um
pouco mais pra sair, e é talvez a que carrega mais expectativas, pois é a que
possui o título de sua antecessora. Esta nova encarnação promete muitas
mudanças, tanto no que diz respeito a seus integrantes quanto no teor das
histórias.
A capa não deixa espaço para que o leitor se
surpreenda com as próximas edições, pois fica claro que Espiral será forçada a
fazer parte da equipe, e que em algum momento Cluster também se tornará uma
integrante, restando apenas saber sob quais circunstâncias suas entradas
ocorrerão.
Outra
informação que podemos tirar da capa, algo que também é sugerido por esta
primeira história, é que estamos diante da formação mais feminina da X-Force. E
vale destacar que este é apenas um de mais dois títulos da Marvel Now com
equipes formadas, em sua maioria, se não totalmente, por mulheres, sendo os
próximos Fearless Defenders e X-Men, sendo este último mais um que será zerado e
passará por uma repaginada. Tudo isto demonstra quão pesado a Marvel está
investindo em séries que tenham apelo a um número mais variado de leitores (Young Avengers é outra prova disto). Resta
saber se os três serão apenas um agrado a mais para os já predominantes
leitores masculinos das HQs da editora, ou se a abordagem de algum(ns) será
diferenciada o suficiente para atrair possíveis novas leitoras.
Mas, falemos da
história. A trama desta edição ocorre seis meses depois do fim da antiga
equipe. Psylocke está
passando por uma fase problemática de sua vida em que tudo a irrita com
facilidade por sentir-se perdida e sem lugar, o que a revolta. Nunca a
personagem xingou tanto em uma só história (o que neste caso significa muitos
trechos de suas falas censurados por tarjas pretas). Tudo isto tem relação com
a experiência que teve ao lado da X-Force anterior, que foi bem traumática (na
edição vemos flashs rápidos relacionando alguns deles, mas isto não impede que
o leitor que está começando agora entenda o essencial), com destaque para a
relação atribulada que teve com Fantomex, um mutante com três
cérebros (!) que
foi morto e ressuscitado por um processo de clonagem que deu a cada um dos
cérebros um corpo independente, sendo um deles o de uma
mulher (!!). Resumindo,
ela está mais impulsiva, mais disposta a se meter em situações perigosas, e
pronta para atacar inimigos com a intenção de matar.
Ao lado dela se
encontra Tempestade, agora usando um moicano, visual que
ela já usou durante uma fase mais rebelde de sua vida, e que agora retorna para
refletir seu estado interior tormentoso, depois do fim do
casamento com o Pantera Negra. Ela ainda está tentando lidar com
os sentimentos conflitantes de deixar de ser a rainha
de uma nação africana para
tornar-se diretora da Escola Jean Grey de Estudos Avançados.
A dupla funciona
bem, e boa parte da edição é sobre duas mulheres conversando sobre seus
problemas enquanto vivem perigosamente destruindo robôs de segurança da S.H.I.E.L.D. e
fazendo manobras arriscadas com seu hoverboard cyber-steampunk envenenado.
Mais tarde na edição entra o Pigmeu, ex-membro da Tropa Alfa, que como o próprio nome já aponta é um anão. Tudo que você
precisa saber sobre ele é que é um mulherengo, morreu uns anos atrás junto com
toda a sua equipe, foi pro Inferno (!), onde chegou a ajudar o Wolverine durante uma fase em que ele também foi mandado
pra lá (créditos a Jason Aaron por esta), e de alguma forma (que eu
desconheço) ressuscitou. Agora ele é o contato do Prof. Logan no submundo (pra
quem ainda não sabe, o Wolverine atualmente é diretor da Escola Jean Grey Para
Estudos Avançados, a mesma em
que Tempestade é diretora, que por sua vez parece estar tendo
um caso com ele). Ou seja, mais um que está se adaptando a uma nova fase de sua
vida, embora, a julgar por suas companhias na casa noturna onde se encontra com
Tempestade e Psylocke, ele não parece estar tão mal quanto suas companheiras de
equipe.
Daí entra a ironia
da droga vendida por Espiral, que dá ao usuário a sensação de pertencer
a um grupo, a uma unidade, enquanto Tempestade e Psylocke estão
justamente em busca de um capaz de acolhê-las e fazê-las sentirem-se bem
consigo mesmas.
Também não ajuda
muito o fato de Psylocke ter um assunto não resolvido com Espiral. Anos atrás a vilã, que é habitante do Mojoverso, uma dimensão comandada pelo repulsivo Mojo que é basicamente uma mistura de ditador
com showrunner de uma versão interdimensional do Big Brother – transformou
Psylocke numa câmera viva. Na época a
mutante com poderes psiônicos era cega, o que veio a calhar para Espiral, que
tinha uma loja onde vendia próteses cibernéticas de vários membros e órgãos do corpo,
incluindo olhos. Assim a vilã substituiu os olhos originais de Psylocke por olhos
artificiais que também
funcionavam como câmeras, 24 horas transmitindo para o Mojoverso tudo que ela
enxergava, o que transformou suas aventuras vividas ao lado dos X-Men num
sucesso de audiência naquela dimensão. Por isto o ataque exaltado e mortífero
que Psylocke lança pra cima da vilã nesta edição.
E o futuro promete
ser ainda mais ingrato pra ninja psiônica, pois no final deste número
descobrimos que seu ex-amante, Fantomex, está tendo um caso amoroso pra lá de
peculiar (pra não dizer totalmente incestuoso e egocêntrico).
Os desenhos de Ron Garney tem
uma estética bem anos 90, e a presença de Espiral, cujo visual é muito
reminiscente daquela década, reforça essa sensação nostálgica para leitores
como eu, que começaram a ler quadrinhos de super-heróis naquela época. Porém,
há uma oscilação na qualidade da arte que prejudica parte do prazer da leitura.
Enquanto em umas páginas o visual é arrojado, dinâmico e detalhado, em outras
falta mais capricho, tornando o todo inconsistente. Isto não deveria acontecer,
principalmente num título que é a nova encarnação de outro que estreou sendo
desenhado pelo excelente Jerome Opeña (atual
desenhista de Avengers).
Já Sam Humphries não
abre mão dos velhos recordatórios para fazer uma apresentação rápida dos
personagens, decisão que, ao lado da arte de Garney, faz com que a narrativa
soe pouco inventiva e um tanto datada. Felizmente ele é bem econômico ao
usá-los, e não os torna redundantes, mas informativos para novos leitores.
Paralelo a isto as cores de Marte Gracia e
Israel Gonzalez salvam algumas páginas que Garney
parece ter feito às pressas.
Avaliação final: boa edição de estreia, mas longe de
ser memorável. Os membros podem render boas histórias e conflitos internos com
força o suficiente para aumentar o interesse do leitor, mas tudo vai depender
se as próximas edições farão a trama decolar. Aqui ela pouco empolga.
Fonte: Nerd GeekFeelings
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