Imaginar o
impacto do Superman no mundo onde vivemos, fora daquele espectro fantástico dos
quadrinhos, sempre rendeu grandes histórias para o personagem. E essa e as
próximas duas partes do especial tratarão disso em diferentes aspectos, aqui,
falo agora sobre o desejo de Clark Kent mudar o mundo através do símbolo de
Superman, e como isso reflete em sua vida. Afinal, O Homem de Aço chegou, filme
dirigido por Zack Snyder e produzido por Christopher Nolan, e esse é um dos
temas constantes do filme.
Clark, um
jovem garoto de Picketsville, no Kansas, teve a honra (ou azar para ele) de ter
nascido numa família com o sobrenome Kent, logo seus pais e familiares não
perdem a chance de reforçar essa coincidência ao compará-lo com um personagem
famoso dos quadrinhos chamado Superman. Em meio a um amontoado de presentes
referentes ao alienígena super-herói de vestimenta azul e vermelha, o rapaz
renega isso, e após zombarias na escola e em toda a cidade, considera o seu
nome uma maldição. Até que quando algo diferente acontece em sua vida e começa
a desenvolver, estranhamente, habilidades sobre-humanas idênticas ao personagem
para sua própria surpresa. Seria ele, então a maior coincidência da história?
O escritor
utiliza os diários que o rapaz escreve como uma forma de viabilizar o forte de
uso de recordatórios para expôr as angústias e felicidades do seu protagonista
através de sua vida.
Pode ser
interpretada então como um registro biográfico sobre um garoto ordinário que
conseguiu ser extraordinário. A arte de Stuart Immonen calca bastante numa
recriação fotográfica, como se víssemos um álbum de recordações, captando bem o
âmbito saudosista necessário.
Composta
por quatro capítulos, assim como O Homem de Aço e As Quatro Estações, cada um
se passa numa diferente época, mas aqui as elipses são mais ambiciosas ao
explorar toda o desenrolar da vida de seu personagem. Começa em sua
cidadezinha, realizando grandes feitos e começando a se tornar um mito popular,
até sua ida a Nova York, a Metropolis de nosso mundo, e a realização de ações
tão maiores ao redor do globo sobre o uniforme do Superman, pois agora se
orgulha dessa figura que tanto foi comparado. Clark aprende cada vez mais sobre
altruísmo e como pode inspirar a fazer as pessoas a construírem um futuro melhor.
Por outro
lado, as diversas reflexões sobre essa sua nova condição e seu hábito de
escrever diários acabam o levando a se tornar um repórter no New Yorker. Com
mais uma coincidência, sua história estreita ainda mais com a de Superman,
mesmo com mais brincadeiras constantes na redação do jornal em que trabalha,
Clark está se tornando um homem mais seguro e confiante a cada dia devido a
isso. Por causa duma “pegadinha” armada pelos seus colegas de trabalho, conhece
sua própria Lois, mulher que acaba tornando o amor de sua vida, poderia ser
algo forçado nas mãos dum escritor menos experiente, Busiek constrói a relação
deles com sobriedade e solidez.
Devido sua
condição de jornalista e a visão de mundo que ser um super-humano lhe dara,
Clark também começa a construir sua carreira como escritor, escrevendo livros
sobre sua visão sociopolítica da humanidade. Discutir seu papel como herói e,
talvez, o messias de seu tempo é algo que assombra sempre sua consciência,
levando-o a agir exaustivamente. Pela frequência de aparições e feitos, o
governo dos EUA fica em seu encalço, tentando estudá-lo e, se possível,
redirecionar suas ações a favor de suas vontades. Mesmo tendo lidar com isso,
acaba, por fim, sendo obrigado a criar uma linha de diálogo com o serviço
secreto, reforçando sua relação com a nação estadunidense e conseguindo
confiança como troca. Mas com o passar dos anos, a civilização se transforma, e
como sinal de sucesso para Clark, o futuro se torna um lugar bem melhor do que
sonhara, tanto pra ele quanto sua família, como suas filhas que deverão seguir
seu legado através de suas vidas e seus filhos. Porque seus livros apenas são
um retrato sobre o passado que sempre deve ser conhecido e instruir quem o lê
pelo bem do amanhã.
Em seu
desfecho, Busiek demonstra que sua obra é uma carta de admiração por aquilo que
Clark Kent inspira, claro que ele conhece e entende a força do Superman, mas o
homem que ao idealizar o impossível, assim o consegue fazê-lo, é uma lição a
ser dada para todos sobre o aspecto do super-herói em nossos tempos e imaginários.
O
Legado das Estrelas
Com a
chegada dum novo século, a DC começou a mudar a forma como abordava o Superman
através de escritores como Jeph Loeb, Joe Kelly e Joe Casey (devo divagar sobre
a fase deste último na próxima parte). Escrevendo os títulos mensais do
personagem, discutiam muito sobre o papel do super-herói na civilização e se
ele ainda possui relevância nos tempos atuais. Naturalmente, nessa direção que
as histórias Superman caminhava, viu-se a necessidade de lhe dar uma nova e
atualizada origem. Então o escritor Mark Waid, profundo conhecedor do
personagem, e o desenhista Leinil Yu assumiram a responsabilidade de entregar
um homem de aço moderno ao mundo.
De início,
Waid resolve dar um panorama melhor sobre a situação de Krypton e assim sua
história logo no prólogo de sua história. Aprendemos que era uma civilização no
auge da sua evolução, mas devido a todo esse estado de superioridade em suas
consciências e uma mesquinharia egoísta entre eles, acabaram criando um
crescente atrito, o que culminou a diversas guerras e desastres trazendo o
iminente fim do planeta. Aqui, Jor-El e Lara, pais do pequeno Kal-El, são um
casal apaixonado e idealista aqui, como verdadeiros românticos, por amor, se
arriscam ao entregar seu filho ao destino com esperança de que ele consiga uma
vida melhor em outro lugar.
A história
avança no tempo e encontramos Kal-El – agora Clark Kent, seu nome terrestre
(como todos sabem) – de passagem na África Ocidental como repórter, conhecendo
tribos e compreendendo o conflito político local. Assim conhece Kobe,
inspirador líder político do clã Thuri, que busca uma revolução para trazer
força aos oprimidos de seu povo, nele, Clark se espelha e reconhecendo suas
qualidades, entendendo melhor seu papel no mundo. O peso do sacrifício pelo bem
maior e a importância dos significados na luta de Kobe são lições que levará
para a vida. E após um certo evento trágico envolvendo este líder, Clark
resolve retornar para seu “lar”, a cidade de Smallville, no Kansas, para
reencontrar seus pais e resolver seu futuro, pois passara os últimos anos da
sua vida viajando pelo mundo para descobrir seu lugar e propósito, após as todo
o aprendizado com Kobe, Clark decide que deve seguir o legado deste homem e
lutar por ideais ainda melhores pelo bem da humanidade.
Como
acontece também em O Homem
de Aço de John Byrne, o casal de fazendeiros Jonathan e Martha Kent que
encontraram o foguete kryptoniano há 25 anos atrás, “pais adotivos de Clark,
fazem parte do processo de confecção da sua nova identidade como Superman e seu
disfarce como um cara desajustado e tímido. Vale citar como Waid sabe funcionar
bem os momentos em família dos Kent, aliás não há um personagem em que ele não
consiga encontrar sua voz, há diversos diálogos agradáveis, carregados de
descontração e entrosamento. Destaque para Yu e sua habilidade em captar bem as
expressões dos personagens e estar alinhado ao bom humor no texto do escritor.
E também cuida de dar explicações a fim de justificar elementos incoerentes ou
mal explicados anteriormente, como toda a sequência em que criam o “disfarce”
do repórter com o óculos, terno e gravata, e aos incrédulos sobre a validez
disso, Waid escancara o óbvio, é tudo questão de atuação.
Outro
destaque dessa nova origem, resvale no relacionamento antagônico entre Superman
e Lex Luthor, Waid estreita suas histórias e acabam sendo amigos em Smallville
aqui. O importante para o escritor é atenuar o contraste entre os personagens
como se fosse um duelo entre o homem e um deus. Mesmo que Clark seja alguém com
capacidades avançadas e superiores a maioria dos humanos, nunca conseguiu
combater igualmente o intelecto de Lex Luthor quando estudavam no colégio. Mas
isso não lhe incomoda, na verdade, o faz querer ter amizade com o garoto por
ser um gênio nato, e por consequência, a única pessoa na cidade que entenderia
a forma complexa como Clark vê o mundo. Mas já adulto, Lex se tornou uma
cientista ambicioso e bilionário, ególatra, prefere ser aclamado como um ser
superior enquanto enxerga todos aos seu redor como insetos a serem esmagados. E
quando chega o Superman em sua cidade, Metrópolis, inspirando pessoas e sendo
tão mais grandioso quanto ele, Luthor é consumido pela inveja. Clark ainda acha
que dá para salvar seu velho amigo, mas este renega todas as virtude que a
figura do herói começa a representar. Afinal, Lex Luthor se revela um grande
pensador, em Superman, contempla a chance de poder mostrar que o homem pode
renunciar e combater um deus apenas com a destreza de seus talentos e virtudes.
O plano
para derrubar o super-herói resume-se na razão proclamada por Luthor vencendo a
fé da humanidade no “S” vermelho que Clark carrega como símbolo de sua luta
para salvá-la. Após decifrar a história kriptoniana através duma engenharia
quântica e um pedaço de meteorito que veio com a nave – a kriptonita, um
material altamente radioativo e letal para kryptonianos na Terra – Luthor então
consegue desviar a atenção das pessoas dos atos de bondade do Superman,
redirecionando-os a questão deste ser um alienígena na Terra, um estranho no
ninho. Manipulando todos para irem contra o Superman. Será que ele é o único?
Se não, há outros? E se realmente houver mais outros como ele, seria parte duma
massiva invasão alienígena?
Em seu
desfecho, mesmo com as pessoas desiludidas pelo que lutara, Clark consegue dar
uma provar sua força a Luthor, ensinando sobre como um ideal melhor inspira as
pessoas a superarem seus medos e suas dificuldades, justificando seu discurso.
Ele retoma o significado de seu símbolo para si, o “S” que tantos duvidaram,
agora significa esperança para o povo da Terra.
Fonte: Nerd Geek Feelings
0 Comentários