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Planeta Resenha Marvel: HOMEM DE FERRO - O DEMÔNIO NA GARRAFA

Desde que o Homem de Ferro foi retratado no cinema, o personagem ficou mais popular, além de ter dado sobrevida à carreira de Robert Downey Jr., ator que também já teve diversos problemas com drogas e álcool, assim como o personagem que interpreta. Ambos são bons vivants que gostam de enxugar copos, e talvez esteja aí a sinergia que rendeu tanto sucesso à franquia cinematográfica, que até agora tem três filmes.


Brincadeiras à parte, fato é que as adaptações para o cinema também trouxeram novo fôlego para o Vingador Dourado nas páginas das revistas em quadrinhos. Ao contrário do que vemos hoje, Tony Stark e seu brinquedo preferido não eram tão populares assim em outras épocas, e sempre viviam à sombra de personagens mais carismáticos e identificáveis com o público, como o Homem-Aranha, os X-Men e até mesmo o Hulk. Mas essa situação começou a mudar bem antes dos filmes, numa época em que os quadrinhos careciam do realismo que viria a rechear suas páginas em meados da década de 1980.

Em 1978, foi publicado um arco de histórias que nos apresentava um Tony Stark menos perfeito, com conflitos e problemas vividos por seres humanos normais. Dentre esses problemas, estava o alcoolismo, que além de trazer muita ressaca ao personagem, trouxe também problemas sociais, pessoais e econômicos ao playboy arrogante, pretensioso e todo cheio de si. E foram justamente essas imperfeições e fraquezas comuns aos seres humanos normais que aproximaram o personagem dos leitores, já que antes existia um abismo entre ambos.

Porém, toda esta reformulação para levar Tony Stark a um nível mais realista teve, além dos prós, diversos contras também. Nesta época, os quadrinhos ainda eram tratados de maneira quase ingênua, com aguda singeleza nos roteiros, mesmo com a boa vontade e nítida competência de alguns autores que lutavam para elevar o padrão dos quadrinhos, ainda mais no mercado dos super-heróis, que tinha no lucro um de seus maiores objetivos. David Michelinie certamente fazia parte deste seleto rol de escritores que ajudaram a mudar para melhor a indústria dos quadrinhos. Mas, como todo predecessor, também cometeu erros. E eles são bastante visíveis 36 anos depois.

Por serem tratados de forma serial, os quadrinhos precisam prender a atenção do público para o que virá a seguir. Porém, isso era tratado de forma muito simplória e até mesmo abusiva até a década de 1970, com cliffhangers forçados que depois não desenrolavam em nada, ou seja, criavam uma expectativa falsa que frustrava o leitor. Fora toda a encheção de linguiça para que as histórias fossem esticadas ao máximo, tornando, assim, um arco ou saga maiores e mais lucrativos. Mais ou menos o que acontece com as novelas televisivas. Nem é preciso dizer quanta enrolação e cenas desnecessárias isso resultava. O Homem de Ferro entra em diversos embates insossos que não levam a nada.

O enredo é bacana, mas a execução é fraca em diversos momentos, principalmente quando se volta à ação desmedida, o que não cai muito bem em uma história com conteúdo dramático, como é o caso. É nessas tentativas de criar cenas de ação que surgem coadjuvantes inseridos sem mais nem menos, em momentos como as aulas de combate com o Capitão América e as lutas com os lacaios de Justin Hammer. E também havia a falta de verossimilhança que hoje seria motivo para muitas críticas, como é o caso do alcoolismo light de Tony Stark, que é facilmente resolvido com um pouco de determinação. Mas sabemos que a coisa não é bem assim.

Apesar dos pesares, e com excesso de textos que tornam a leitura lenta e monótona, O Demônio na Garrafa é um clássico por tratar de maneira diferenciada e mais profunda um personagem que até então só tinha uma armadura reluzente e muito dinheiro para esbanjar. Nada que não exista aos montes por aí.

Homem de Ferro - O Demônio na Garrafa (Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel Vol. 1) - 176 páginas - formato 17 x 26 cm - R$ 32,90 - lançado em setembro de 2014 – Editora Salvat do Brasil (coleção prevista para ter 60 volumes).

Por Leonardo Porto Passos

Fonte: HQ Maniacs

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