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SUPERMAN DE GRANT MORRISON (PARTE I DE 3)

Não, hoje infelizmente não falaremos sobre Grandes Astros Superman, a história definitiva do azulão. Nesta série de três textos, comentaremos o trabalho mais recente de Morrison com o personagem: sua reformulação do Superman nos Novos 52. Dizem por aí que quando a DC anunciou a reformulação de sua linha de HQs, Morrison não ficou feliz e ameaçou deixar a editora. Para manter o autor campeão de vendas, a DC permitiu que escrevesse  os roteiros de sua propriedade mais antiga – Action Comics - como prêmio de consolação (mesma coisa aconteceu com Geoff Johns, cujo prêmio de consolação foi a permissão de escrever a revista do Aquaman, que ninguém sequer sabia se existiria).

Mas eu divago…

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Morrison ficou encarregado de recontar a origem do Superman para a nova geração de leitores que a DC queria alcançar com os N52. Qual a resposta “tapa com luva de pelica” que Morrison encontrou para o projeto? Recontar a origem, resgatando sua versão mais antiga, de suas primeiras aparições em 1938! Claro que o escriba adaptou a ideia que queria aos nossos dias e criou alguns elementos novos, mas é inquestionável o resgate do Superman menos poderoso e mais urbano; mais preocupado com esposas abusadas por seus maridos e conspirações corruptas, dando seus primeiros passos em Metrópoles; menos o clássico herói maduro e protetor e mais o herói jovem, pró-ativo, irreverente, mais John Wayne e mais power to the people. Tamanha a semelhança que o Superman N52 não voa inicialmente, apenas salta sobre altos prédios.

Muito interessante lembrar, por ocasião, que o Superman foi criado por Siegel e Shuster para ser retratado dessa forma: um campeão urbano! Porém, quando os EUA entraram de vez na Segunda Guerra Mundial, é fato sabido que todos os super-heróis também foram. A partir daí, Superman mudaria do campeão da paz e justiça e passaria a ser também o paladino do modo de vida americano, mudança que fez muita diferença. Depois que a guerra acabou o herói não pôde voltar às suas raízes porque logo viria o maior inimigo dos super-heróis, o Comics Code Authority, que não permitiria qualquer história de teor mais pé no chão. Daí, Superman subiu aos céus e passou a enfrentar inimigos espaciais. Mesmo com o tempo passando, o herói não recuperaria muito de seu passado.

Mas, novamente, eu divago…

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Acompanhando Morrison na maior parte das revistas está o artista Rags Morales (Crise de Identidade), desenhista muito competente que passou a maior parte de sua carreira na DC e já desenhou todos os seus grandes personagens. Gosto muito do traço de Morales porque é realista, mas sem ser realista demais. O artista sabe equilibrar seu traço para que seja limpo, mas sem chegar ao ponto que pareça estéril. Bom o bastante para fazer com que seus personagens sejam bem marcantes e diferentes entre si (tem artista por aí cujas mulheres são todas iguais) e pareçam pessoas de verdade, seu maior defeito é errar o posicionamento dos olhos em alguns momentos. Seu maior acerto, por outro lado, é desenhar Superman e Clark Kent de formas bem distintas. Superman é altivo, confiante, marcante, de cabeça erguida. Clark é mirrado, de óculos, pouco expressivo, usa roupas frouxas, anda curvado. O artista é brilhante ao retratar essas diferenças e toda essa linguagem corporal; fica visível o esforço que Clark tem que fazer para que ninguém descubra seu segredo e vendo a arte de Morales, nós acreditamos que é possível. Juntos, Morrison e Morales fazem questão de que entre um momento super-heroico e outro de Superman, Clark também tenha chance de brilhar. Fica claro que Superman é uma figura inspiradora, mas Clark também tem seus momentos de brilhar e inspirar as pessoas, desde sua senhoria àqueles que seguem seu trabalho como jornalista.

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Aproveitando a oportunidade que teve de recontar a origem do herói mais icônico de todos, Morrison introduziu o máximo de personagens que pôde. Portanto temos aparições de John Henry Irons, o Aço; General Lane (com os problemas clássicos com sua filha, Lois); Metallo; Brainiac e claro, Lex Luthor. O vilão careca também ganhou novos detalhes interessantes, virou um empresário que serve de consultor para o exército, tem motivações muito legais para desejar destruir o Superman e é um grande e sério… covarde. Sim, um covarde e isso é muito condizente e rende momentos muito engraçados sem que se torne galhofa. Infelizmente isso foi esquecido pelo editorial depois que Morrison terminou sua história, assim como a relação nova entre Clark e Jimmy Olsen. Agora que Clark é mais jovem, sua relação com Jimmy é uma gostosa amizade, ao contrário da clássica e tediosa relação meio fraternal.

Mesmo assim, o grande vilão da história não é Luthor, mas Brainiac. O vilão espacial vem à Terra pelos motivos clássicos, e Superman o enfrenta em uma luta muito bem desenhada com direitos a ótimos painéis e questionamentos duros para o próprio Clark. Aproveitando o nêmesis cósmico, Morrison nos apresenta um novo olhar sobre Krypton e sua sociedade e sobre os pais de Kal-El. Vale a pena ressaltar a ótima edição contada pelo ponto de vista do foguete que trouxe Kal-El à Terra.

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Outro grande acerto do arco é o perfeito tom utilizado. A história não é sombria demais nem precisa exagerar na violência para se sustentar. Morrison e Morales contam uma história do Superman que todos, de qualquer idade, podem e devem ler, uma história bem contada e inspiradora, tal como a vida: com períodos difíceis em que todos queremos desistir – como o próprio Clark faz em um momento particularmente ruim – mas com motivos para perseverar e recompensas para aqueles que enfrentam as suas dificuldades. Realmente uma das melhores origens que o Homem de Aço teve nos quadrinhos, comparável apenas à que Mark Waid contou alguns anos atrás, Legado das Estrelas. 

Inicialmente Morrison só faria a origem, as seis primeiras edições da revista, mas estranhamente o autor teve mais tempo para trabalhar. Com mais edições para escrever, o escocês pirado colocou suas garras de fora e aí as apostas ficaram muito mais altas: o escriba trouxe à sua nova trama a Legião dos Super-heróis em uma nova história em que a equipe vem do futuro para combater um grupo de vilões conhecido como o Exército Anti-Superman. A trupe maléfica aparentemente é composta por seres que têm diferentes isótopos de Kryptonita como base de sua estrutura molecular e são liderados por um homem que aparentemente é o próprio Capeta. A legião enfrenta o Exército num espaço gigantesco comprimido dentro de um projétil que foi disparado e alocado dentro do crânio do Superman! meio maluco, eu sei, ainda mais quando você adiciona as técnicas narrativas revolucionárias de Grant Morrison. Mas tudo isso só faz valer a pena!

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É isso, queridos questionadores! Não deixem de passar por aqui semana que vem para conferir o segundo texto sobre a fase brilhante de Grant Morrison à frente de Action Comics nos novos 52! Acreditem, as loucuras mal começaram!

Nota para as oito primeiras edições: (origem mais duas edições de loucuras geniais) 5,0/5,0

Por Gabriel Fraga

Fonte: Quadrinhos em Questão

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3 Comentários

  1. Para mim foi muito satisfatório e o post diz tudo.Só não concordo com querer que Lex Luthor continuasse covarde,eu entendo ele desse jeito no começo pois ainda não esta adaptado mas ele tinha que superar em um futuro próximo afinal ele é Lex Luthor e Lex Luthor é fodão.
    Ps:A parte com os spoiler/duendes da quinta dimensão/spoiler foi uma das melhores hqs do Superman que eu já li.

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  2. Pois é, mas, essa personalidade do Lex Luthor acabou com a fase do Morrison, de qualquer forma. Aliás, você está acompanhando sua nova fase onde (sem dar muito spoiler) ele aparece bastante na Liga da Justiça?

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    1. Eu estou lendo de vez em quando mas esses escritores ficam mechendo com o Lex Luthor de forma errada e não da certo.Mas as que eu li eram UM POUCO interessantes.
      Ps:Eu fiquei muito tempo sem comentar mas segunda deve voltar ao normal.

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