Não,
hoje infelizmente não falaremos sobre Grandes Astros Superman, a história definitiva do
azulão. Nesta série de três textos, comentaremos o trabalho mais recente de Morrison com o personagem: sua reformulação do
Superman nos Novos 52. Dizem por aí que quando
a DC anunciou a reformulação de sua linha de HQs, Morrison não ficou feliz e
ameaçou deixar a editora. Para manter o autor campeão de vendas, a DC permitiu
que escrevesse os roteiros de sua propriedade mais antiga – Action Comics - como prêmio de consolação
(mesma coisa aconteceu com Geoff
Johns, cujo prêmio de consolação foi a permissão de
escrever a revista do Aquaman, que ninguém sequer sabia se existiria).
Mas eu divago…
Muito
interessante lembrar, por ocasião, que o Superman foi criado por Siegel e Shuster para ser retratado dessa forma: um
campeão urbano! Porém, quando os EUA entraram de vez na Segunda Guerra Mundial,
é fato sabido que todos os super-heróis também foram. A partir daí, Superman
mudaria do campeão da paz e justiça e passaria a ser também o paladino
do modo de vida americano, mudança
que fez muita diferença. Depois que a guerra acabou o herói não pôde voltar às
suas raízes porque logo viria o maior inimigo dos super-heróis, o Comics Code Authority, que não
permitiria qualquer história de teor mais pé no chão. Daí, Superman subiu aos
céus e passou a enfrentar inimigos espaciais. Mesmo com o tempo passando, o
herói não recuperaria muito de seu passado.
Mas,
novamente, eu divago…
Acompanhando
Morrison na maior parte das revistas está o artista Rags Morales (Crise de Identidade), desenhista muito competente que passou a maior parte de
sua carreira na DC e já desenhou todos os seus grandes personagens. Gosto muito
do traço de Morales porque é realista, mas sem ser realista demais. O artista
sabe equilibrar seu traço para que seja limpo, mas sem chegar ao ponto que
pareça estéril. Bom o bastante para fazer com que seus personagens sejam bem
marcantes e diferentes entre si (tem artista por aí cujas mulheres são todas
iguais) e pareçam pessoas de verdade, seu maior defeito é errar o
posicionamento dos olhos em alguns momentos. Seu maior acerto, por outro lado,
é desenhar Superman e Clark Kent de formas bem distintas. Superman é altivo, confiante,
marcante, de cabeça erguida. Clark é mirrado, de óculos, pouco expressivo, usa
roupas frouxas, anda curvado. O artista é brilhante ao retratar essas
diferenças e toda essa linguagem corporal; fica visível o esforço que Clark tem
que fazer para que ninguém descubra seu segredo e vendo a arte de Morales, nós
acreditamos que é possível. Juntos, Morrison e Morales fazem questão de que
entre um momento super-heroico e outro de Superman, Clark também tenha chance
de brilhar. Fica claro que Superman é uma figura inspiradora, mas Clark também
tem seus momentos de brilhar e inspirar as pessoas, desde sua senhoria àqueles
que seguem seu trabalho como jornalista.
Aproveitando
a oportunidade que teve de recontar a origem do herói mais icônico de todos,
Morrison introduziu o máximo de personagens que pôde. Portanto temos aparições
de John Henry Irons, o
Aço; General Lane (com os problemas clássicos com sua
filha, Lois); Metallo;
Brainiac e claro, Lex Luthor. O vilão careca também ganhou novos
detalhes interessantes, virou um empresário que serve de consultor para o
exército, tem motivações muito legais para desejar destruir o Superman e é um
grande e sério… covarde. Sim, um covarde e isso é muito condizente e rende
momentos muito engraçados sem que se torne galhofa. Infelizmente isso foi
esquecido pelo editorial depois que Morrison terminou sua história, assim como
a relação nova entre Clark e Jimmy Olsen. Agora que Clark é
mais jovem, sua relação com Jimmy é uma gostosa amizade, ao contrário da
clássica e tediosa relação meio fraternal.
Mesmo assim,
o grande vilão da história não é Luthor, mas Brainiac. O vilão espacial vem à
Terra pelos motivos clássicos, e Superman o enfrenta em uma luta muito bem
desenhada com direitos a ótimos painéis e questionamentos duros para o próprio
Clark. Aproveitando o nêmesis cósmico, Morrison nos apresenta um novo olhar
sobre Krypton e sua sociedade e sobre os pais de Kal-El. Vale a pena ressaltar
a ótima edição contada pelo ponto de vista do foguete que trouxe Kal-El à Terra.
Outro
grande acerto do arco é o perfeito tom utilizado. A história não é sombria
demais nem precisa exagerar na violência para se sustentar. Morrison e Morales
contam uma história do Superman que todos, de qualquer idade, podem e devem
ler, uma história bem contada e inspiradora, tal como a vida: com períodos
difíceis em que todos queremos desistir – como o próprio Clark faz em um
momento particularmente ruim – mas com motivos para perseverar e recompensas
para aqueles que enfrentam as suas dificuldades. Realmente uma das melhores
origens que o Homem de Aço teve nos quadrinhos, comparável apenas à que Mark
Waid contou
alguns anos atrás, Legado das
Estrelas.
Inicialmente
Morrison só faria a origem, as seis primeiras edições da revista, mas
estranhamente o autor teve mais tempo para trabalhar. Com mais edições para
escrever, o escocês pirado colocou suas garras de fora e aí as apostas ficaram
muito mais altas: o escriba trouxe à sua nova trama a Legião
dos Super-heróis em uma nova história em que a equipe
vem do futuro para combater um grupo de vilões conhecido como o Exército Anti-Superman. A trupe
maléfica aparentemente é composta por seres que têm diferentes isótopos de Kryptonita como
base de sua estrutura molecular e são liderados por um homem que aparentemente
é o próprio Capeta. A legião enfrenta o Exército num espaço gigantesco
comprimido dentro de um projétil que foi disparado e alocado dentro do crânio do
Superman! meio maluco, eu sei, ainda mais quando você adiciona as técnicas
narrativas revolucionárias de Grant Morrison. Mas tudo isso só faz valer a pena!
É
isso, queridos questionadores! Não deixem de passar por aqui semana que vem
para conferir o segundo texto sobre a fase brilhante de Grant Morrison à frente
de Action Comics nos
novos 52! Acreditem, as loucuras mal começaram!
Nota para as
oito primeiras edições: (origem mais duas edições de loucuras geniais) 5,0/5,0
Por Gabriel Fraga
Fonte: Quadrinhos em Questão
3 Comentários
Para mim foi muito satisfatório e o post diz tudo.Só não concordo com querer que Lex Luthor continuasse covarde,eu entendo ele desse jeito no começo pois ainda não esta adaptado mas ele tinha que superar em um futuro próximo afinal ele é Lex Luthor e Lex Luthor é fodão.
ResponderExcluirPs:A parte com os spoiler/duendes da quinta dimensão/spoiler foi uma das melhores hqs do Superman que eu já li.
Pois é, mas, essa personalidade do Lex Luthor acabou com a fase do Morrison, de qualquer forma. Aliás, você está acompanhando sua nova fase onde (sem dar muito spoiler) ele aparece bastante na Liga da Justiça?
ResponderExcluirEu estou lendo de vez em quando mas esses escritores ficam mechendo com o Lex Luthor de forma errada e não da certo.Mas as que eu li eram UM POUCO interessantes.
ExcluirPs:Eu fiquei muito tempo sem comentar mas segunda deve voltar ao normal.