Mantendo
viva a chama escapista vista em alguns especiais do Morcego nos idos dos
anos noventa – visando, obviamente, fazer um contraponto à mega-saga Queda do Morcego -,
a revista Batman Chronicles preconizava aventuras do Cruzado
Encapuzado em meio a uma Gotham diferenciada. Em Robin: Ano Um (A
Prova, em uma tradução literal), a cidade é apresentada como um lugar mais
lúdico, mesmo sendo publicada em meio à saga Terremoto (No Brasil, presente na edição
nº 32 da Editora Abril, ainda em formatinho).
Apesar de o
roteiro de Bruce Canwell tocar em pontos-chave, como comportamento
mafioso e brechas legais em denúncias não concluídas por parte dos malfeitores,
os desenhos de Weeks não abrem margem para uma
discussão mais profunda. Isso ocorre também no linguajar do diálogo entre
mentor e pupilo, com Bruce Wayne e Dick Grayson conversando bem ao estilo camp das histórias escritas logo no início
do surgimento da dupla dinâmica, ainda com arte de Bob
Kane. No decorrer da trama, nota-se um clima semelhante ao
pensado por Brian De Palma em Os Intocáveis, claro, excetuando a
violência gráfica causada pelo antagonista Al Capone, mas permanecendo o mesmo
senso de justiça de Eliot Ness – na figura de Batman, logicamente – além de
conter uma homogeneidade entre a fotografia do filme e o visual da hq.
As
peripécias das primeiras aventuras do parceiro-mirim do Morcego representam a
adaptação do terceiro Robin, Tim Drake, ao ofício de menino prodígio, mesmo com
os quase dez anos de exercício do manto. Após a morte de Jason Todd e agora com
lugar cativo, o webmaster, que não era órfão – em mais um paradigma quebrado -,
não havia ainda ganhado a popularidade que se esperava dele, por isso uma
aproximação de uma encarnação mais popular era necessária, além de aproximar a
iconografia visual de ambas as figuras.
Os
primórdios do trabalho em equipe da dupla resgatam muito mais do que o simples
escapismo das épocas mais inocentes da Era de Ouro,como comprova a
competência de Batman enquanto treinador e o discipulado que fez com seu
pupilo. Expõem também uma interação harmoniosa sem sugerir qualquer traço de
homo-afetividade subliminar, comoFredric
Wertham gostava
de destacar. Usando plots parecidos
com os filmes de Joel Schumacher, Robin
– Dia Um consegue unir a origem do Robin e abordar a
confiança mútua e simbiótica da dupla, sem precisar apelar para os clichês
cafonas dos filmes e sem subestimar o leitor, apresentando uma aventura
divertida e descompromissada.
Por Filipe Pereira
Fonte: Vortex
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