Desde que foi criada em 1958 (em Adventure Comics 247) por Otto Binder e Al Plastino
para uma aventura com o Superboy, a Legião dos Super-heróis ganhou um culto
quase que imediato. Afinal de contas, os leitores podiam se identificar com um
grupo de heróis que, apesar de serem super poderosos, tinham a mesma idade que
eles. Eram adolescentes, em um “clube” não muito diferente dos tantos que
existiam na América dos anos 50.

É claro, o sucesso de qualquer obra
de ficção é fazer que o leitor se preocupe com o personagem que está lendo e
Levitz teve isso em mente o tempo todo em que escreveu a Legião. Não é errado,
creio, afirmar que a sua versão da Legião dos Super-heróis tem muito da
dinâmica das soap operas (novelas). E não uso isso de forma
derrogatória.
Na fase do menino prodígio Jim
Shooter, nos anos sessenta, apesar de existir uma tênue linha cronológica
ligando história a história, você podia iniciar a sua leitura virtualmente em
qualquer um de seus números. Parênteses aqui: Mais tarde, quando já era adulto
e o poderoso editor-chefe da Marvel, Shooter declarou que qualquer edição seria
a primeira para algum leitor. E que tais edições deveriam ser, no mínimo,
reader’s friendly. Ele, é claro, tinha uma certa dose de razão, apesar de tal
política muitas vezes engessar tanto a história quanto o escritor.
Bem, a Legião de Levitz é TUDO menos
isso. Ele fez questão de criar plotlines e arcos que foram se desenvolvendo
durante várias edições. A sua Legião parecia sair de um perigo para cair em
outro, seguindo a linha de todo quadrinho de super-herói, mas, de novo, com
muito sendo mostrado sobre a vida particular dos personagens e as tais relações
interpessoais que falei aí em cima.
Um fato importante é que, desde o
início dos anos setenta eles já não eram tratados mais como adolescentes, mas
sim como jovens adultos. E Levitz usou isso ao máximo.
Um exemplo: o casamento de Lightning
Lad e Saturn Girl estava em frangalhos após ela ter ficado presa em um planeta
inóspito em uma missão... e ter sido pega em uma posição comprometedora com
Timber Wolf. Pega por ninguém menos que Light Lass, sua cunhada E a namorada de
Timber Wolf. A ideia de atração e (sim, por que não?) pelo menos o desejo de
sexo existia. Não era mais a Legião dos anos sessenta, com certeza. Tudo
isso e uma série de problemas médicos fizeram que Lightning Lad se afastasse do
cargo de líder e uma eleição fosse disputada por Element Lad, Ultra Boy e Dream
Girl, com a vitória dessa última, considerada a cabeça de vento do grupo. A
estrutura interna da Legião estava em frangalhos, pode se dizer.
E é assim que, com todos esses
problemas, se inicia o arco mais famoso de Levitz e Giffen no título, “The
Great Darkness Saga” (A Saga das Trevas Eternas aqui no Brasil), publicada
originalmente em Legion of Super-Heroes vol. 2, #290–294 (1982).
Um arco que coloca como antagonista ninguém menos que Darkseid, o übervilão de Jack Kirby.
Darkseid estava sumido por cerca de mil anos e quase completamente esquecido.
Usando tanto mágica quanto ciência, ele cria clones, versões distorcidas de
grandes heróis do passado, como Orion, um Guardião de Ao e até mesmo do
Superman. Com poderes aumentados, ele transporta Daxam para onde ficava
Apokolips, sob um sol amarelo. Dentro dos cânones da Legião, Daxam é uma
colônia perdida de Krypton e isso faz que seus habitantes desenvolvam poderes
iguais ao do Superboy. Um exército de bilhões de pessoas super poderosas sob o
comando mental de Darkseid. Que, como não poderia deixar de ser, é derrotado no
final, por seu maior inimigo... Vindo de Nova Gênese.

Mas devemos contextualizar algo. “The Great
Darkness Saga” colocou Darkseid como o grande antagonista do Universo DC. Coisa
que antes, bem, não era. Era, para muitas pessoas, mais uma das
“excentricidades” de Kirby.

Após o projeto do Quarto Mundo ter
sido cancelado, Darkseid voltaria a aparecer em New Gods 13 (1977, continuando a numeração
original da série de Kirby). Essa nova (e curta) fase tinha o roteiro de Gerry
Conway e os desenhos de Al Milgron e é totalmente esquecível.
Darkseid apareceu ainda em Super-team Family 15 (1978, o último número da série),
em Adventure Comics 459-460 (1978) e no arco “Crisis
Between Two Earths”, em
Justice League of America 183-185
(1980), um dos tradicionais encontros anuais do título com as terras paralelas.
E foi basicamente isso. Ele era um
personagem secundário, mais uma das tantas coisas estranhas da DC dos anos
setenta. Não havia diferença entre ele, por exemplo, e Brother Power, The Geek.
Personagens destinados a habitar o limbo e, de vez em quando, ser espanados e
usados.

Com “The Great Darkness Saga”, o potencial
enorme de Darkseid foi de novo redescoberto e nos anos seguintes ele foi cada
vez mais usado dentro da editora. Afinal de contas, ele era um personagem muito
bom para não ser usado. E voltou em uma história paradoxalmente se passando mil
anos no futuro. Se a passagem de Levitz e Giffen pela Legião tivesse nos dado
apenas isso, já seria um lucro enorme. Mas tem muito mais, muito mais mesmo.
Mas esse é um papo para outra hora.
Por Ben
Santana
Fonte:
Prata e Bronze
2 Comentários
quer dizer que a Legião é uma novela de Sabão que quer pisotear a cara do Darkseid no chão!! Marcos Punch.
ResponderExcluirEsse é um clássico que preciso ler logo. O problema é o tempo, mas tenho que arrumar né? Não me lembro de ver algum post sobre essa saga que estava criticando, sempre elogiando.
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