Warren Ellis é um cara que tem muita “pegada” para
escrever roteiros de quadrinhos. O cara faz parte da cultuada escola britânica
junto de nomes mais do que consagrados, como Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison, Jamie Delano, Garth Ennis e Mark Millar. Ou seja, a fina nata dos roteiristas de quadrinhos adultos
ou, ao menos, de orientação mais madura. Portanto, nada mais natural do que a Marvel solicitá-lo a escrever um arco de um
grupo formado por vilões e cascas-grossas que agem de maneira pouco ética,
principalmente após os eventos ocorridos em Guerra Civil, quando o grupo foi totalmente reformulado.
Os Thunderbolts são comandados nos bastidores por Norman Osborn, o empresário por trás da máscara do Duende Verde, provavelmente o maior rival do Homem-Aranha. Em campo, a equipe é liderada por Rocha Lunar, que entrou no posto de Soprano (ex-Colombina), ambas membros da formação original do grupo, surgido na segunda metade da década de 1990, quando tinha o Barão Zemo à frente. Além delas, estão também o chinês Homem-Radioativo, o aristocrático Espadachim, o maluco masoquista Suplício, o novo Venom (Mac Gargan) e um dos mais doentios vilões da Marvel, o Mercenário, arqui-inimigo de longa data do Demolidor. Nenhuma flor que se cheire. Mas por que essa cambada de desajustados, pra dizer o mínimo, foi reunida novamente para atuar em um supergrupo como “heróis”?
Tudo está ligado à mencionada Guerra Civil, que virou de ponta-cabeça o Universo Marvel quando o governo estadunidense resolveu que todos os heróis deveriam se registrar formalmente para que pudessem continuar atuando e, ainda por cima, revelar publicamente suas identidades secretas. Assim, o mesmo governo decidiu reativar a equipe para perseguir os heróis que ainda resistem ao registro ditatorial e altamente questionado por grande parcela dos mascarados. Só que os Thunderbolts possuem seus próprios conflitos internos, não só pela falta de convivência e sinergia, mas também pelas divergências de opiniões e de propósitos de cada integrante.
O que chama a atenção são os diálogos afiadíssimos de Warren Ellis, que impregna seu texto de humor negro, acidez e questionamentos socioculturais. Praticamente nenhum diálogo soa artificial ou improvável, a não ser quando ocorre algum deslize na tradução. Nenhum balão de fala parece deslocado ou desnecessário, e tem-se a sensação de que cada um foi pensado para causar impacto e conferir credibilidade de acordo com a verossimilhança do contexto.
E para um resultado ainda mais satisfatório, a arte ficou sob a responsabilidade de outro cultuado quadrinista, não britânico, mas brasileiro, Mike Deodato. As páginas de ação parecem pular diante de nossos olhos, e sem recorrer ao trivial artifício da narrativa cinematográfica, tão abundantemente utilizado hoje em dia. Em Fé em Monstros, as potencialidades dos quadrinhos são empregadas na narrativa por pessoas que sabem muito bem o que estão fazendo. Uma aula de contar histórias em quadrinhos.
Se você é um dos muitos que torceram o nariz para os Thunderbolts da década de noventa, dê uma nova chance à equipe. A coisa agora está bem diferente. Para melhor.
Thunderbolts - Fé em Monstros (Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel Vol. 57) - 160 páginas - formato 17 x 26 cm - R$ 32,90 - lançado em outubro de 2014 – Editora Salvat do Brasil (coleção prevista para ter 60 volumes).
Por Leonardo Porto Passos
Fonte: HQ Maniacs
4 Comentários
o Ellis é bom mesmo!! eu não tenho Fé nos "Humanos"que dirá em Monstros!mas vou ler essa revista sim!ainda mais que tem desenhos do Deodato! Marcos Punch.
ResponderExcluirEu também li esse encadernado e fiquei com vontade de ler o resto. Esse arco foi bom demais, e o Ellis sabe desenvolver bem os vilões, suas motivações e a forma como eles interagem entre si, tendo que seguir ordens do Norman.
ExcluirLí e gostei bastante. Pena que a Salvat não vai lançar a continuação desse arco.
ResponderExcluirFiquei com a mesma impressão, se a Salvat lançasse a continuação, acho que venderia, pois esse primeiro arco é de primeira e deixa bons ganchos para a sequência.
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