Colaborador do Planeta
Marvel/DC
Podemos
considerar que é uma grande ironia que o caminho encontrado pela DC para fazer
sucesso nas telas seja exatamente através de heróis mais desmerecidos e de
pouca relevância popular (pelo menos até as recentes produções), como foi o
caso de Aquaman. O herói sempre pertenceu ao panteão dos maiorais da editora
como um coadjuvante de luxo nas aventuras da Liga da Justiça, mesmo com título
próprio em poucas vezes teve posições de destaque nas HQs, salvo exceções como
a fase escrita pelo ótimo roteirista Peter David, responsável por uma das
melhores épocas do Hulk e salvador do título do Gigante Esmeralda que se
encontrava à beira do cancelamento muitos anos atrás.
Não
existe coincidência nos casos de Aquaman e Shazam, o sucesso vemda
interferência de um nome comum em suas trajetórias: Geoff Johns. Aclamado como
um dos maiores nomes da indústria das HQs dos últimos tempos, o roteirista foi
responsável por tirar o Aquaman das profundezas (sem trocadilhos) e torna-lo
uma das maiores estrelas da DC na reformulação dos Novos 52 e deu para o Shazam
uma nova e melhorada origem, essa mudança foi a pedra angular para o projeto do
filme sair do papel e ganhar as telas na forma de uma produção divertida,
mágica e eficiente. Se temos o Deadpool como um filme de herói adulto, irônico
e ácido; recheado de sangue, tripas, piadas de duplo sentido, palavrões e muita
baixaria fazendo enorme sucesso nas bilheterias agora chega Shazam provando que
o caminho inverso também funciona perfeitamente.
Mesmo
com algumas falhas perceptíveis no roteiro Shazam é, assumidamente, uma comédia
de super-heróis. Nós vamos dos risos às gargalhadas durante quase toda a
projeção, é quase impossível não se divertir com as situações apresentadas, até
os momentos mais tensos não conseguem tirar o sorriso do rosto e um momento
durante a batalha final entre o herói e o seu inimigo é hilário fazendo graça
com o clássico “discurso de vilão”, foi uma sacada ótima. O sucesso do filme
começa pelo elenco escolhido:
O
grande destaque vai para a química entre Jack Dylan Grazer (Freddy Freeman) e
Zachary Levi (Shazam) que se mostra funcional o tempo todo. Grazer é uma
promessa de talento como pudemos ver em IT – A Coisa de 2017, o garoto ganha a
sua simpatia de imediato logo quando entra em cena. Levi no personagem-título
não fica atrás, pelo contrário, o ator, cantor e dublador que já foi o Frandall
– um dos Três Guerreiros de Asgard em Thor – e protagonista da série de comédia
CHUCK sobre um atrapalhado espião convence como um menino no corpo de um adulto
com superpoderes. Seja honesto: se você fosse um garoto de 15 anos que ganha
poderes mágicos, vira herói e fica bombado de uma hora para a outra o que
faria? Bagunça e mais bagunça, claro. Aqui tem um ponto do filme que, talvez,
muitos espectadores do filme não tenham sacado direito: Onde foi parar a
Sabedoria de Salomão? Vamos analisar a questão assumindo que o dom da sabedoria
é intuitivo, não quer dizer que provoque amadurecimento. Esse poder permite que
o herói perceba o problema que ele está enfrentando com mais clareza e encontre
a solução mais sábia e eficiente de lidar com ele, não é para fazer dele adulto
e, sim, para que ele seja mais esperto como se pode perceber durante o ato
final do filme.
Asher
Angel interpreta Billy Batson, hospedeiro do poder de Shazam, e é outra
promessa de sucesso futuro nos cinemas, atualmente é mais conhecido pela sua
participação na série Andi Mack do Disney Channel. Se sai bem no papel do órfão
problemático que busca respostas para o que aconteceu aos seus pais (aqui o
roteiro deixou a desejar) e o motivo de ter sido abandonado, esbarrando no
caminho com uma grande responsabilidade, tornando-se um herói e forçando-o a
buscar o amadurecimento necessário para encarar sua nova vida. Aliás, aqui
vemos o famoso contexto de que “Com Grandes Poderes, vem Grandes
Responsabilidades” saído diretamente das histórias do Homem-Aranha e para quem
não se lembra do primeiro filme com Tobey Maguire, na cena em que ele tenta
lançar suas teias pela primeira vez faz uso de uma série de palavras mágicas
para tentar ativá-las, entre elas Shazam! Óbvio reconhecimento da famosidade
desse elemento na cultura POP.
Provando
que a fase Novos 52 foi a grande influência e base para a produção temos a nova
família de Billy Batson transposta quase à perfeição pelos atores que a
compõem, especialmente seus novos irmãos e com destaque para Darla e Eugene,
responsáveis pelas melhores e mais engraçadas cenas do grupo, Mary Bromfield é
um pouco mais adulta do que o restante, mas isso não prejudica a relação entre
eles, nas HQs ela também é mais madura e experiente e o tem caladão Pedro,
alguns podem achar o menino o elo mais fraco, só que o personagem é assim
mesmo. Sem dar spoilers eles protagonizam as sequências mais empolgantes do
filme e, em um determinado momento, fazem valer totalmente o ingresso, é de
bater palmas. O mago Shazam interpretado por Djimon Hounson cumpre o seu papel
sem maiores destaques, servindo como veículo para transmitir seus poderes para
o jovem Billy após testar vários candidatos ao redor do mundo, não é marcante
como um Gandalf ou Yoda por exemplo, senti um pouco de falta de emoção na sua
interpretação, não me pareceu alguém que carrega o fardo de um grande poder e
responsabilidade por milênios buscando um sucessor, em alguns momentos parece
apenas um velho cansado.
Como
é tradição nesses filmes temos um nome de peso como vilão: o veterano Mark
Strong, que interpretou Sinestro no malfadado Lanterna Verde nos cinemas.
Apesar da boa atuação e do talento do ator seu Dr. Silvana (Sivana em inglês,
honestamente essa eu não sabia) tem a motivação e tem o poder dado a ele pelos
Sete Pecados Capitais, a grande ameaça à humanidade mantida presa na Pedra da
Eternidade desde a última vez em que um campeão andou pela Terra, porém parece
um menino frustrado que reclama o poder negado a ele pela família que o
humilhou desde criança. Aproveitando a citação aos Sete Pecados Capitais, os
maiores inimigos do homem, vamos falar dos efeitos especiais do filme: como a
produção se passa quase totalmente no meio urbano, não temos tanto ambiente CGI
e artificial como em Aquaman ou outras grandes produções da Marvel, daí o
orçamento do filme ter sido relativamente baixo para os padrões atuais tendo
custado pouco mais de 80 milhões de dólares, mas vemos que esse dinheiro foi
bem usado, mesmo com simplicidade. A Pedra da Eternidade, os monstros e os
demais efeitos do filme nos remetem a clássicos como Os Caça-Fantasmas (1984) e Os Goonies deixando um clima de Sessão
da Tarde o tempo todo. Se isso prejudica o resultado final? Não, de jeito
nenhum, o filme é comédia para todas as idades e superdivertido, ele faz essa
entrega sem pensar duas vezes mandando para o espaço o climão dark dado por
Snyder para Batman, Superman e companhia, é a luz dissipando as trevas,
literalmente, com uma palavra mágica.
Fiquem
atentos às referências sobre o Universo DC, elas vem a todo momento em uma
verdadeira enxurrada conduzida principalmente por Freddy Freeman, fã de heróis
e guia do Billy na jornada de descobrimento dos seus superpoderes. Aliás, os
treinos de Shazam rendem as mais engraçadas passagens do filme, é uma mais
pastelão do que a outra com destaque para a primeira vez que o herói descobre a
sua invulnerabilidade, a cena é ótima apesar da estupidez da ideia para o
teste, mas é um filme de herói e os dois protagonistas são adolescentes, o que
se pode esperar? Como podem perceber, eu amei o filme e fiquei muito feliz com
o resultado, mesmo com algumas falhas no roteiro ele cumpre o seu papel que é
divertir e trazer uma nova luz para a DC nos cinemas na forma de um raio
mágico, como a primeira cena pós-créditos indica poderemos ter mais um clássico
vilão chegando na prometida sequência (até o momento é dado como certo Shazam 2)
que não deve demorar muito, os atores são adolescentes e crescem muito rápido.
Muitos especulam que Adão Negro deve aparecer, The Rock é um dos produtores de
Shazam e futuro protagonista da adaptação do vilão para os cinemas, as apostas
são altas. A segunda cena pós-créditos é mais uma brincadeira com o eterno alvo
de piadas da DC, mesmo sendo bem curta é legal, pois se alguém for esperto
poderá deduzir qual o herói o Freddy mais gosta ou faz mais propaganda durante
o filme.
Não
viu ainda? Não espere mais, vá ao cinema e diga a palavra:
Shazam!