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Colaboradores do Planeta: Shazam – Novas Portas se Abrem para a DC nos Cinemas

Por Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador do Planeta Marvel/DC

Podemos considerar que é uma grande ironia que o caminho encontrado pela DC para fazer sucesso nas telas seja exatamente através de heróis mais desmerecidos e de pouca relevância popular (pelo menos até as recentes produções), como foi o caso de Aquaman. O herói sempre pertenceu ao panteão dos maiorais da editora como um coadjuvante de luxo nas aventuras da Liga da Justiça, mesmo com título próprio em poucas vezes teve posições de destaque nas HQs, salvo exceções como a fase escrita pelo ótimo roteirista Peter David, responsável por uma das melhores épocas do Hulk e salvador do título do Gigante Esmeralda que se encontrava à beira do cancelamento muitos anos atrás.

Não existe coincidência nos casos de Aquaman e Shazam, o sucesso vemda interferência de um nome comum em suas trajetórias: Geoff Johns. Aclamado como um dos maiores nomes da indústria das HQs dos últimos tempos, o roteirista foi responsável por tirar o Aquaman das profundezas (sem trocadilhos) e torna-lo uma das maiores estrelas da DC na reformulação dos Novos 52 e deu para o Shazam uma nova e melhorada origem, essa mudança foi a pedra angular para o projeto do filme sair do papel e ganhar as telas na forma de uma produção divertida, mágica e eficiente. Se temos o Deadpool como um filme de herói adulto, irônico e ácido; recheado de sangue, tripas, piadas de duplo sentido, palavrões e muita baixaria fazendo enorme sucesso nas bilheterias agora chega Shazam provando que o caminho inverso também funciona perfeitamente.


Mesmo com algumas falhas perceptíveis no roteiro Shazam é, assumidamente, uma comédia de super-heróis. Nós vamos dos risos às gargalhadas durante quase toda a projeção, é quase impossível não se divertir com as situações apresentadas, até os momentos mais tensos não conseguem tirar o sorriso do rosto e um momento durante a batalha final entre o herói e o seu inimigo é hilário fazendo graça com o clássico “discurso de vilão”, foi uma sacada ótima. O sucesso do filme começa pelo elenco escolhido:


O grande destaque vai para a química entre Jack Dylan Grazer (Freddy Freeman) e Zachary Levi (Shazam) que se mostra funcional o tempo todo. Grazer é uma promessa de talento como pudemos ver em IT – A Coisa de 2017, o garoto ganha a sua simpatia de imediato logo quando entra em cena. Levi no personagem-título não fica atrás, pelo contrário, o ator, cantor e dublador que já foi o Frandall – um dos Três Guerreiros de Asgard em Thor – e protagonista da série de comédia CHUCK sobre um atrapalhado espião convence como um menino no corpo de um adulto com superpoderes. Seja honesto: se você fosse um garoto de 15 anos que ganha poderes mágicos, vira herói e fica bombado de uma hora para a outra o que faria? Bagunça e mais bagunça, claro. Aqui tem um ponto do filme que, talvez, muitos espectadores do filme não tenham sacado direito: Onde foi parar a Sabedoria de Salomão? Vamos analisar a questão assumindo que o dom da sabedoria é intuitivo, não quer dizer que provoque amadurecimento. Esse poder permite que o herói perceba o problema que ele está enfrentando com mais clareza e encontre a solução mais sábia e eficiente de lidar com ele, não é para fazer dele adulto e, sim, para que ele seja mais esperto como se pode perceber durante o ato final do filme.

Asher Angel interpreta Billy Batson, hospedeiro do poder de Shazam, e é outra promessa de sucesso futuro nos cinemas, atualmente é mais conhecido pela sua participação na série Andi Mack do Disney Channel. Se sai bem no papel do órfão problemático que busca respostas para o que aconteceu aos seus pais (aqui o roteiro deixou a desejar) e o motivo de ter sido abandonado, esbarrando no caminho com uma grande responsabilidade, tornando-se um herói e forçando-o a buscar o amadurecimento necessário para encarar sua nova vida. Aliás, aqui vemos o famoso contexto de que “Com Grandes Poderes, vem Grandes Responsabilidades” saído diretamente das histórias do Homem-Aranha e para quem não se lembra do primeiro filme com Tobey Maguire, na cena em que ele tenta lançar suas teias pela primeira vez faz uso de uma série de palavras mágicas para tentar ativá-las, entre elas Shazam! Óbvio reconhecimento da famosidade desse elemento na cultura POP.


Provando que a fase Novos 52 foi a grande influência e base para a produção temos a nova família de Billy Batson transposta quase à perfeição pelos atores que a compõem, especialmente seus novos irmãos e com destaque para Darla e Eugene, responsáveis pelas melhores e mais engraçadas cenas do grupo, Mary Bromfield é um pouco mais adulta do que o restante, mas isso não prejudica a relação entre eles, nas HQs ela também é mais madura e experiente e o tem caladão Pedro, alguns podem achar o menino o elo mais fraco, só que o personagem é assim mesmo. Sem dar spoilers eles protagonizam as sequências mais empolgantes do filme e, em um determinado momento, fazem valer totalmente o ingresso, é de bater palmas. O mago Shazam interpretado por Djimon Hounson cumpre o seu papel sem maiores destaques, servindo como veículo para transmitir seus poderes para o jovem Billy após testar vários candidatos ao redor do mundo, não é marcante como um Gandalf ou Yoda por exemplo, senti um pouco de falta de emoção na sua interpretação, não me pareceu alguém que carrega o fardo de um grande poder e responsabilidade por milênios buscando um sucessor, em alguns momentos parece apenas um velho cansado.

Como é tradição nesses filmes temos um nome de peso como vilão: o veterano Mark Strong, que interpretou Sinestro no malfadado Lanterna Verde nos cinemas. Apesar da boa atuação e do talento do ator seu Dr. Silvana (Sivana em inglês, honestamente essa eu não sabia) tem a motivação e tem o poder dado a ele pelos Sete Pecados Capitais, a grande ameaça à humanidade mantida presa na Pedra da Eternidade desde a última vez em que um campeão andou pela Terra, porém parece um menino frustrado que reclama o poder negado a ele pela família que o humilhou desde criança. Aproveitando a citação aos Sete Pecados Capitais, os maiores inimigos do homem, vamos falar dos efeitos especiais do filme: como a produção se passa quase totalmente no meio urbano, não temos tanto ambiente CGI e artificial como em Aquaman ou outras grandes produções da Marvel, daí o orçamento do filme ter sido relativamente baixo para os padrões atuais tendo custado pouco mais de 80 milhões de dólares, mas vemos que esse dinheiro foi bem usado, mesmo com simplicidade. A Pedra da Eternidade, os monstros e os demais efeitos do filme nos remetem a clássicos como Os Caça-Fantasmas  (1984) e Os Goonies deixando um clima de Sessão da Tarde o tempo todo. Se isso prejudica o resultado final? Não, de jeito nenhum, o filme é comédia para todas as idades e superdivertido, ele faz essa entrega sem pensar duas vezes mandando para o espaço o climão dark dado por Snyder para Batman, Superman e companhia, é a luz dissipando as trevas, literalmente, com uma palavra mágica.


Fiquem atentos às referências sobre o Universo DC, elas vem a todo momento em uma verdadeira enxurrada conduzida principalmente por Freddy Freeman, fã de heróis e guia do Billy na jornada de descobrimento dos seus superpoderes. Aliás, os treinos de Shazam rendem as mais engraçadas passagens do filme, é uma mais pastelão do que a outra com destaque para a primeira vez que o herói descobre a sua invulnerabilidade, a cena é ótima apesar da estupidez da ideia para o teste, mas é um filme de herói e os dois protagonistas são adolescentes, o que se pode esperar? Como podem perceber, eu amei o filme e fiquei muito feliz com o resultado, mesmo com algumas falhas no roteiro ele cumpre o seu papel que é divertir e trazer uma nova luz para a DC nos cinemas na forma de um raio mágico, como a primeira cena pós-créditos indica poderemos ter mais um clássico vilão chegando na prometida sequência (até o momento é dado como certo Shazam 2) que não deve demorar muito, os atores são adolescentes e crescem muito rápido. Muitos especulam que Adão Negro deve aparecer, The Rock é um dos produtores de Shazam e futuro protagonista da adaptação do vilão para os cinemas, as apostas são altas. A segunda cena pós-créditos é mais uma brincadeira com o eterno alvo de piadas da DC, mesmo sendo bem curta é legal, pois se alguém for esperto poderá deduzir qual o herói o Freddy mais gosta ou faz mais propaganda durante o filme.


Não viu ainda? Não espere mais, vá ao cinema e diga a palavra:

Shazam!