O
filme é um espetáculo de cenas de ação, com assuntos
muito complexos
Talvez uma das maiores lacunas do Universo Marvel, a história de origem da heroína Viúva Negra sempre permaneceu à deriva, entre comentários pouco explicativos e instantes reflexivos pouco explorados nas telonas. Sempre um mistério diante da audiência, Natasha Romanoff é aquela que nos foi introduzida ainda na fase embrionária do MCU, em Homem de Ferro 2. E após traçar toda a sua história como quem permeou tantos filmes de outros Vingadores, mas jamais teve o seu próprio momento, ela ganha o seu primeiro voo solo – ainda que ele tenha tardiamente vindo pouco depois de seu fim.
Com um background instigante, a personagem
criada pelo icônico Stan Lee abre espaço
para uma narrativa que facilmente flerta com o gênero de thriller
sociopolítico. Nascida nos quadrinhos nos anos 60, em um cenário de Guerra
Fria, ela é fruto das perigosas tensões existentes entre os Estados Unidos e a
União Soviética. E no longa dirigido por Cate Shortland,
vislumbres desse intenso entrave – que afetou diretamente o cinema dos anos 70
e 80 – podem ser vistos, fazendo pequenas referências diretas aos quadrinhos da
heroína. Mas como quem busca também se comunicar com a contemporaneidade, o
roteirista Eric Pearson tenta fazer de Viúva Negra um pequeno manifesto
feminino, explorando a protagonista homônima, e todas as demais que a cercam,
por uma ótica um pouco mais complexa. Aqui, garotinhas sem qualquer contexto
familiar são “recrutadas” como pequenas escravas de um magnata russo, que as
transforma em jovens assassinas sanguinárias manipuláveis.
As
consequências dessa sucessão de abusos é o ponto central da história de origem
de Natasha, brilhantemente interpretada por Scarlett
Johansson. E à medida em que responde a antiga
pergunta “o
que raios aconteceu em Budapeste?”, a adaptação dos quadrinhos
explana sobre como esse fatídico e até então secreto momento transformou a
protagonista de forma permanente. Construindo uma jornada sobre traumas de
infância, seio familiar desestruturado e subserviência compulsiva e doentia, o
filme ainda sabe fazer uma união equilibrada entre um bom drama e muita ação,
salpicado por doces alívios cômicos, que funcionam como um respiro na trama. E
neste filme solo, não só Johansson pode protagonizar sua própria história – ao
invés de ser coadjuvante de tantas outras -, como a produção traz ao centro um
elenco feminino riquíssimo, sustentando pelas belíssimas Florence Pugh e Rachel Weisz,
que fazem de suas coadjuvantes o elo perfeito com Natasha Romanoff.
Entregando um espetáculo visual com suas cenas
de ação, Viúva Negra não
brinca em serviço e sabe explorar o seu tempo de tela à la mode, fazendo aquilo
que a Marvel Studios sabe
melhor: Caprichar em explosões extravagantes, com coreografias de luta
intensamente acrobáticas. Mas apenas arranhando a superfície de sua profunda
história – que aqui é a espinha dorsal de toda a ação, o longa é uma
experiência insaciável, que nos deixa esperando por muito mais de onde a
complexa narrativa veio. E com a expectativa de que o filme solo ganhe uma nova
sequência, nada mais justo que possamos mergulhar nos enormes traumas que
cercaram as vidas de Natasha e Yelena (Pugh), que aqui poderiam
ter ganhado o mesmo nível de catarse que nos cativou tanto em WandaVisão.
Ainda assim, a Marvel Studios mais uma vez acerta de forma grandiosa. Com uma coletânea admirável de efeitos visuais ultra-realistas, o filme instantaneamente nos dá aquele sentimento nostálgico de querer estar dentro dos cinemas. Feito para ser experimentado diante de um público enorme – na maior tela possível, Viúva Negra é também uma memória deliciosa da última vez que estivemos diante dos Vingadores, ainda em 2019. Uma produção que se sustenta por si só com graciosidade e voracidade e com um elenco que nos entrega tudo em tela (David Harbour é uma surpresa maravilhosa!), o longa faz também aquela conexão direta com o universo expansivo de Kevin Feige, que tanto faz os fãs delirarem. Com direito a uma tocante e cômica cena pós-créditos, Viúva Negra consegue não apenas cobrir o passado da personagem homônima, como também introduz o futuro do MCU, tanto na Disney+, como nos cinemas.
Fonte: Cinepop
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