Quem tem um
conhecimento ligeiramente mais profundo de quadrinhos sabe que duas hqs de
super-heróis foram marco em termos de qualidade narrativa nos EUA. Uma é
"O Cavaleiro das Trevas", história assinada por Frank Miller que
conta um futuro alternativo do homem morcego. A outra é Watchmen de Alan Moore.
A hq de
Moore é sinônimo de qualidade e referência para os amantes de quadrinhos com
super-heróis, não raramente é usada para demonstrar que as hqs também podem ser
arte, e de fato a profundidade da história adulta e os temas sociológicos e
psicológicos que ela sustenta justificam todos os elogios.
Moore sabe
bem retirar do gênero as suas falhas e vícios escondidos sob as histórias
idealizadas, lá estão fielmente representado heróis tipicamente estadunidenses,
todavia despidos da infantilidade maniqueísta que lhe é notória, há na
narrativa seres com poderes, ou não, trajados nos moldes da sociedade dos EUA,
porém lançados cruamente sobre a pura realidade.
Assim a
obra tornou-se clássico misturando problemas filosóficos e éticos aos montes
com personagens convincentes que simbolizam estereótipos clássicos de heróis
dos EUA, lá está o super-poderoso, o soturno, o inteligente, o bom moço, a
mulher submissa (levado as últimas consequências) entre outros, todos
transpostos do mundo irreal das hqs para a realidade humana melancólica e
destrutiva, tudo isto em meio ao contexto do pânico gerado pela Guerra Fria,
que é pano de fundo da obra.
Enquanto o
desenhista Dave Gibbons faz seu trabalho com grande competência Moore leva-o ao
patamar do excepcional e os desenhos acabam ficando em segundo plano, tanto que
fica a impressão de que a história continuaria muito forte apenas com a
escrita, mas de maneira alguma viveria somente dos desenhos pouco ousados.
Nada que
possa retirar o brilho de uma das melhores histórias já feitas pelo, talvez,
melhor autor que os quadrinhos dos EUA já conheceram.
Fonte: Leia Literatura
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