Pelo Sagrado Vishanti!
Nosso colaborador Giulianno de Lima Liberalli retorna das dimensões místicas,
após uma viagem ao Himalaia para nos contar como foi sua experiência ao
assistir ao filme Dr. Estranho, além das origens do herói nas HQs.
Sempre tive em mente heróis
da Marvel ou da DC que gerariam grandes filmes com potencial para cativarem o
público, conhecedor das suas aventuras ou não, mas com carisma suficiente para
ganharem produções dignas das suas histórias. Do lado da Marvel eu apostava em
personagens como Thor e Homem de Ferro e pela DC o Shazam, Homem-Borracha e
Flash, todos eles possuem características que, aproveitadas corretamente,
dariam bons resultados. A Marvel está correspondendo, acertou com os que eu já
citei e se consolidando como o estúdio dos grandes heróis mostrando um belo
trabalho com seus personagens menos conhecidos, como o Homem-Formiga, por
exemplo, só que um da minha lista superou minhas expectativas como fã: Doutor
Estranho.
Curiosamente a Marvel segue
nas telas uma linha semelhante aos seus primórdios nas HQs, trouxe personagens
marcantes e famosos como Homem-Aranha, Hulk, Capitão América, Homem de Ferro e
Thor firmando seus nomes para passar a experimentar, com mais segurança, outros
menos chamativos e que certamente ela não teria iniciado seus projetos com
eles. Fomos apresentados a ilustres desconhecidos do público em geral como
Pantera Negra, Homem-Formiga e Guardiões da Galáxia, um acerto fenomenal, mas
entramos em um novo território deixando para trás a ciência e os aprimoramentos
genéticos, entramos no território dos místicos. Doutor Estranho abriu as portas
da magia para o Universo Marvel no cinema.
Particularmente acho a
origem do Doutor Estranho uma das melhores já criadas pela Marvel. Uma
constante nos heróis é que todos devem passar por perdas e provações para se
tornarem o que são, a típica jornada do herói, aonde ele deixa para trás seu
antigo EU e se transforma em algo novo, destemido, superando suas deficiências
em prol do bem maior, porém a origem de Estranho tem muito mais de nós do que
de vários heróis. Capitão América foi transformado por um soro aliado a
experimentos científicos, Homem-Aranha picado por um inseto modificado pela
radiação, Thor já nasceu um deus e o Homem de Ferro aprimorou um talento que já
possuía como inventor para superar a morte, mas e o arrogante neurocirurgião
Stephen Strange? Seu talento nada tinha de místico, suas habilidades como
médico vieram de anos de estudo e dedicação que, quando atingiram o auge, se
perderam na ganância e na ambição de usar suas capacidades apenas para se
promover, mesmo salvando vidas no processo. Até ser vítima de um grave acidente
de carro que destruiu suas ferramentas de trabalho, as mãos talentosas, firmes
e precisas cujos nervos e ligamentos foram danificados além de qualquer reparo
perdendo sua utilidade para sempre.
Buscando a cura com os
melhores médicos ao redor do mundo, tudo aquilo que construiu
foi pouco a pouco
desmoronando até a ruína financeira completa, sem mais nenhuma esperança de
conseguir ajuda com a ciência e a medicina ouve falar de um lugar místico no
distante Nepal onde milagres podem ser operados por meio da magia, nesse ponto
vemos que o homem perde seus últimos restos de orgulho e parte para buscar
ajuda aonde sempre ridicularizou e nunca depositou o mínimo de esperança e fé,
nas artes místicas. Rejeitado a princípio pelas suas origens materiais, o
mestre da medicina humana abraça o árduo treinamento de desaprender tudo o que
sabe para ingressar em um novo mundo, descobrindo que somos uma pequena parte
de um grande multiverso ligado pela mágica e pelo misticismo. Assim o Dr.
Stephen Strange se tornou o Doutor Estranho.
Criado em 1963 por Stan Lee
e Steve Dikto, o personagem surgiu de uma inspiração curiosa do mestre Lee,
quando buscava ideias para um novo personagem para a revista Strange Tales se
lembrou de um programa de rádio que ouvia na juventude dos anos 40 sobre as
aventuras de um mágico chamado Chandu e o quanto suas histórias o deixavam
empolgado, baseou-se nisso para criar uma das características mais marcantes do
personagem: os encantamentos recitados de maneira quase teatral gerando frases
famosas como “Mãos de Oshtur, Hordas de Hoggoth atendam ao meu chamado!” ou
“Pelo Sagrado Vishanti, eu ordeno...”, mas o grande atrativo das histórias do
Mago Supremo era a arte de Dikto com seu visual colorido e psicodélico, com
certeza bastante inspirado na arte pop da década de 60 por nomes como Andy Warhol e Roy Lichenstein, fazendo
alusões a cores fortes e vibrantes, afastando padrões escuros e sem vida.
Detalhe esse bastante homenageado nas sequências da produção onde Estranho tem
seus primeiros contatos com outras dimensões de existência, a arte de Dikto foi
belamente reproduzida em várias partes do filme, um tributo a esse artista tão
talentoso que criou o visual do Homem-Aranha e da grande maioria dos seus
vilões clássicos como Octopus e o Duende Verde.
Um
dos maiores trunfos da produção é ter construído uma história que, mesmo
contendo muito da chamada “Fórmula Marvel” (claro, é um personagem deles) usada
nos outros filmes, ela tem esse ar de novidade por se tratar da introdução do
lado místico no universo cinematográfico preparando a chegada do aguardado
Guerra Infinita, onde Estranho e vários heróis estarão unidos contra Thanos,
pode ter certeza que vai ser para quebrar bilheterias. O aspecto místico é
explorado usando lógica e argumentos palpáveis, fazendo com que a plateia tenha
uma base para compreender o que acontece no santuário e nos treinamentos, não é
simplesmente chegar e dizer “somos mágicos e pronto, tudo funciona assim”, o
misticismo possui base e conteúdo para ser assimilado, não é algo que aparece
do nada como em um truque de ilusionismo, até por que não é ilusão, é outro
nível de realidade que sempre esteve unido à nossa existência.
A
contratação de Benedict Cumberbatch para o papel de Doutor Estranho foi um dos
fatores para o sucesso do filme, assim como Downey Jr se tornou a figura de
Tony Stark, Cumberbatch se adaptou muito bem ao papel de Stephen Strange com o
talento que os fãs já conhecem da série Sherlock da BBC, ele interpretou o
gênio Alan Turing em O Jogo da Imitação e deu nova face ao vilão Khan de Star
Trek, o ator britânico realiza uma interpretação cativante como o arrogante
médico e o aspirante a herói, mesmo o famoso humor das produções da Marvel não
diminui o resultado da produção, rola até uma piadinha com o nome de Shamballa
e o famoso Manto de Levitação também protagoniza cenas ótimas no filme.
Além
do visual do filme, o restante do elenco também é muito bom. Apesar de ter sido
uma decisão criticada por muitos, colocar Tilda Swinton como Anciã se provou
uma ótima ideia, quem conhece seus trabalhos como a feiticeira branca de Nárnia
ou como o anjo Gabriel de Constantine sabe que a atriz tem talento para papéis
dessa natureza e, como foi falado anteriormente, o fato de ser Ancião ou Anciã
independe de sexo, é um fator espiritual determinado pela pureza da alma, não
por ser homem ou mulher simplesmente. Madds Mikkelsen, da
série sobre o psicopata canibal Hannibal Lecter, é o vilão Kaecilius, aprendiz
renegado da Anciã tem um plano sinistro para trazer um mal ainda maior para a
Terra, infelizmente muito se fala sobre a ausência de um grande vilão nas
produções Marvel, desde Loki é um espaço muito difícil de ser preenchido, porém
o espaço no enredo é que não aproveita muitos deles, aqui é o caso, Mikkelsen é
um grande ator e se tivesse mais tempo de tela para explorar o personagem seria
um dos melhores. Chiwetel Ejiofor interpreta Mordo, também um aprendiz em grau
mais avançado da Anciã tem um papel importante na produção, curiosamente é o
primeiro vilão que Estranho encontra nos quadrinhos, mas é um aliado no filme,
estranhei no início e durante os acontecimentos muita coisa vai fazendo
sentido, dando sinais para o destino do personagem e a sua importância na
continuação. Benedict Wong interpreta... Wong, fiel aliado de Strange e
responsável por alguns dos momentos mais engraçados do filme é alvo do senso de
humor do Doutor Estranho, é ator britânico e esteve ao lado de Chiwetel Ejiofor
no recente sucesso Perdido em Marte. Completando o elenco principal temos
Rachel McAdams como a médica Christine Palmer, colega de trabalho e ex-namorada
de Stephen Strange, é a única que fica do lado de Strange buscando apoio para
sua condição, o nome da sua personagem é o mesmo da Enfermeira da Noite, que já
cuidou de outros heróis como o Demolidor, se no futuro terá alguma mudança na
continuação não se sabe. O filme vem sendo apontado por muitos como o novo
Homem de Ferro da Marvel, concordo em grande parte com a afirmação porque
quando o filme do Vingador Blindado estreou trouxe uma enxurrada de
perspectivas positivas para o futuro da Marvel no cinema e Doutor Estranho
amplia mais ainda esse campo com a chegada do lado mágico da Casa das Ideias
nas telas, a ótima repercussão nas bilheterias prova isso. E, óbvio, temos as
famosas cenas pós-créditos que dão ganchos excelentes para a continuação de
Doutor Estranho e para Guerra Infinita, falando nisso uma das Joias do Infinito
está no filme, assistam para saber qual, aqui não estou dando spoilers da
trama. E o grande vilão do Estranho, Dormammu, também está presente, mas dar
detalhes sobre ele entrega bastante coisa, basta dizer que é mais uma homenagem
ao tom psicodélico das histórias do Mago Supremo. Concluindo, é mais um sucesso
para a lista da Marvel indicando que o futuro dos heróis no cinema ainda é
muito promissor.
“E
se eu dissesse que a realidade que você conhece é apenas uma de muitas?” -
Anciã
Por Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador do Planeta Marvel/DC