Sejam bem-vindos à Força de Aceleração! Nas
duas últimas colunas começamos a analisar a fase do roteirista Mike Baron à frente da revista do Flash, logo
após a saga Crise nas Infinitas Terras. Hoje finalizaremos essa fase,
comentando sobre as edições 9 a 14, que são extremamente ricas em conceitos e
personagens interessantes. Vamos a elas em um flash!
Desenhos: Jackson Guice e Mike Collins
Arte-final: Larry Mahlstedt, Romeo Tanghal
Cores: Carl Gafford, Michele Wolfman
Editor original: Mike Gold e Barbara Randall
Publicação original: Flash #9 a #14 (fevereiro a julho de 1988)
Publicação nacional: Os Novos Titãs 43 a 45 e 50 a 52 (outubro de 1989 a junho de 1990) – Editora Abril
Chunk e problemas domésticos
Até este ponto, Mike Baron vinha construindo sempre arcos de duas edições.
Como o crossover com Millenium bagunçou um pouco as coisas, e talvez sabendo
que seu período no Flash estava pra acabar, Baron resolveu mudar um pouco a
dinâmica da revista, fazendo seus dois últimos arcos serem formados por 3
edições cada.
No penúltimo arco de Baron na série, somos apresentados a um personagem
extremamente criativo: o Chunk. Chester Runk, seu
nome verdadeiro, era um físico brilhante que desenvolveu uma máquina de
transmutação de matéria. Só que o aparelho explodiu durante um teste,
alojando-se dentro do corpo de Chester e transformando-o em um buraco negro humano, capaz de absorver matéria e transportá-la para uma dimensão
própria. Para evitar que ele ficasse preso nessa dimensão maluca, Chester
descobriu que ele precisava absorver constantemente materiais muito densos,
como diamantes. E foi exatamente em um assalto a uma joalheria que o Flash o
conheceu.
Talvez o maior mérito de Mike Baron seja o de não colocar todo o foco da
história em apenas um plot, tornando-a muito mais rica e realista. Ao mesmo
tempo em que está investigando o Chunk, Wally tem que lidar com duas mulheres
morando em sua casa que não se dão bem uma com a outra e também com o conselho
da cidade.
O relacionamento de Wally com Tina McGee nunca mais foi o mesmo depois que sua mãe foi
morar com ele. Mary não aceita que seu filho esteja namorando uma mulher tão
mais velha do que ele, e ainda por cima casada. Mas ela evita falar isso para
Wally, pois sabe que ele já tem idade para decidir o que fazer da sua vida. Só
que isso não muda o fato dela não gostar de Tina, o que torna o relacionamento
das duas bastante difícil. Tina até tenta estabelecer uma amizade, mas a
situação piora quando elas não conseguem se entender sobre a reforma da casa.
Pra piorar a situação, o conselho de Middle Hampton convoca Wally para informá-lo que, desde que ele
foi morar lá, o seguro de responsabilidade civil da cidade aumentou a um nível
que eles não podem mais suportar, em virtude dos super-vilões que começaram a
aparecer e destruir a cidade, atraídos pelo Flash. Sendo assim, o conselho
solicita que ele deixe a cidade e vá morar em outro lugar.
Baron consegue colocar nos quadrinhos coisas que raramente vemos nos
gibis de super-heróis. Em sua história, o personagem principal precisa lidar
não somente com super-vilões, mas também com as consequências de suas lutas,
como os prejuízos causados à cidade, e com problemas comuns, como uma mãe que
não se dá bem com a nora, mas que é forçada a viver na mesma casa. Muito mais
do que os planos mirabolantes dos vilões, são essas pequenas coisas que tornam
seus roteiros tão interessantes.
Em outra dimensão
Em meio a esse turbilhão de emoções, Wally confronta o Chunk pela
terceira vez. Dessa vez, porém, o Chunk se cansou de ser perseguido pelo Flash,
e resolve prendê-lo na outra dimensão que só ele consegue acessar. Lá, ele
encontra outras pessoas presas pelo Chunk, todas que fizeram alguma coisa
contra ele. Wally faz amizade com um pequeno grupo formado pelo antigo
terapeuta do Chunk, uma mulher que recusou sair com ele em um encontro e um
valentão que o fechou em um cruzamento. Várias outras pessoas também foram
levadas para lá ao longo dos anos, na sua maioria criminosos, formando uma
sociedade dividida em gangues, cada uma roubando as outras para se alimentar,
pois o lugar é quase desértico. A dificuldade de conseguir comida levou alguns
inclusive ao canibalismo.
Por um lado, a chegada do Flash ajudou o grupo do terapeuta a se
defender das outras gangues, mas por outro trouxe um grande problema a eles,
pois o metabolismo acelerado de Wally faz com que ele precise comer muito mais
do que o normal, o que rapidamente exauriu o estoque de alimentos do grupo. Para corrigir esta situação, Wally passou a invadir a casa
do Chunk e pegar sua comida para distribuir ao grupo.
Mas Mike Baron não podia perder a oportunidade de inserir mais um
romance na vida de Wally. Portanto, uma das mulheres do seu grupo, Karin Preus, se apaixona por ele, despertando ciúmes no caçador da tribo.
Wally se cansa daquela situação e resolve conversar com o Chunk.
Chegando em seu laboratório, ele encontra um cenário de alta tecnologia, numa
homenagem muito legal a Jack Kirby. Sem disparar
nenhum soco, apenas na conversa, Wally consegue convencê-lo que a sua situação
poderia ser corrigida se ele, com seu gênio científico, trabalhasse junto dos
Laboratórios S.T.A.R. e dos Titãs.
Porém, ao voltar pra sua tribo, Wally encontra um cenário de guerra,
pois todas as gangues se juntaram para tomar a comida que o Flash estava
conseguindo pra eles. Transtornado com a luta e com a necessidade de absorver
matéria para não explodir, o Chunk absorve todas as pessoas e armas que estavam
atacando o grupo de Wally, inclusive o seu antigo terapeuta. Isso faz com que
ele se sinta culpado e aceite devolver as pessoas que restaram ao mundo normal.
Para se livrar de dois problemas de uma vez só, Wally se oferece ao
conselho da cidade para ser responsável pelo Chunk, e pede que eles
reconsiderem a sua expulsão da cidade em troca dele usar o Chunk para absorver
todo o lixo que eles precisavam enviar para os aterros fora da cidade. O conselho
aceita, pois eles iriam economizar bastante não precisando se preocupar com o
lixo, mas o Chunk absorve o lixo e desaparece.
Esse arco do Chunk é muito bom. Não só pelos problemas reais já
mencionados acima, mas também pela maneira como a história é conduzida na outra
realidade. Toda a questão das tribos, com sua dificuldade de obter comida e o
próprio dilema do Chunk, que é um personagem bastante aprofundado, e não um
vilão com motivos bobos. A maneira como Wally resolve a situação é muito
inteligente, e não acaba em uma porradaria do herói contra o vilão, como em
muitas histórias. Por esse arco, Mike Baron merece muitos elogios.
Velocidade 9
O último arco de Mike Baron no título do Flash traz de volta Vandal Savage, o vilão do seu primeiro arco. Ao mesmo tempo, ele usa
vários elementos construídos durante toda a sua passagem, o que torna este um
bom encerramento para uma boa fase.
Logo no início do arco, somos apresentados a uma nova droga chamada
Velocidade 9, que transforma criminosos comuns em velocistas criminosos. Anatole, da Trindade Vermelha, consegue um novo
emprego como o Correio Capitalista,
oferecendo serviços de entregas super-rápidas (algo como um super-Sedex!). Mas,
em uma dessas entregas, ele é atacado por dois criminosos usando Velocidade 9.
Ao investigar, o Flash descobre que a entrega de Anatole seria feita para Nick
Bassaglia, um mafioso que também é seu vizinho. Para manter as aparências,
Bassaglia convida Wally para uma festa em sua casa.
O objetivo de Bassaglia era convencer Wally de que ele era inocente, e
trazê-lo para o seu lado para acabar com a gangue do Velocidade 9, que estava
causando prejuízo para os seus negócios. Para melhorar suas chances, Nick envia
sua namorada muito mais jovem, fazendo-a passar por sua sobrinha, para seduzir
Wally, o que acaba funcionando. O Flash vai atrás da gangue e acaba encontrando
com Vandal Savage, que era quem estava por trás da droga.
Savage e seus capangas velocistas conseguem capturar Wally e injetar
Velocidade 9 nele. A droga combinada com sua velocidade natural faz com que ele
consiga correr muito mais rápido do que antes, superando a limitação de
velocidade que ele tinha e fazendo-o quebrar a barreira do som e destruir todos
os vidros no local. Quando acaba o efeito da droga, Wally perde suas
habilidades temporariamente, o que permite que Savage o deixe preso por três
dias. Depois disso, o Dr. Bortz o ajuda e ele consegue escapar, fazendo com que
Savage fuja.
Mas o principal problema de Wally não é Vandal Savage, pois o
relacionamento de Tina McGee com a mãe de Wally está cada vez pior, e o próprio
relacionamento de Wally com Tina fica abalado depois do lance dele com a
namorada de Bassaglia. Como se isso não fosse o suficiente, Mike Baron finaliza
sua passagem deixando Wally com um sério problema financeiro: o dinheiro que
ele ganhou na loteria não foi bem investido e acabou sendo afetado duramente
por uma crise na bolsa de valores, fazendo com que ele perdesse tudo o que
tinha ganhado. Quem vai precisar lidar com essa bomba é o próximo roteirista da
série, William Messner-Loebs.
Conclusões
Mike Baron termina sua passagem pelo título do Flash deixando o
personagem em uma situação bastante complicada. Sem dinheiro, com um
relacionamento se esfriando e com problemas com a mãe. Mas também deixa
bastantes elementos interessantes introduzidos nessa fase, como os velocistas
soviéticos (a Trindade Vermelha e a Trindade Azul), o Chunk, o novo status-quo
de Vandal Savage e a possibilidade de recuperação de sua velocidade total, dado
que a droga Velocidade 9 já o fez quebrar a barreira que havia sido imposta.
Mike Baron merece muito crédito por ter introduzido todos esses
personagens e conceitos na mitologia do Flash, fazendo em 14 edições mais por
Wally West do que em todos os anos anteriores, em que ele tinha sido apenas Kid
Flash. Toda a sua preocupação de inseri-lo em um mundo mais realista, fazendo-o
lidar com problemas reais ao mesmo tempo em que tem que lidar com os problemas
fantásticos já é suficiente para colocá-lo no hall dos roteiristas mais
importantes do Flash.
Entretanto, obviamente também existem problemas nessa fase, dois em
especial se sobressaem. O primeiro é a obsessão com a super-velocidade. Com
exceção de Kilgore e do Chunk, todos os antagonistas apresentados por Baron
possuem alguma ligação com super-velocidade. Vemos isso no marido de Tina
McGee, na Trindade Vermelha, na Trindade Azul e até mesmo em Vandal Savage , que
desenvolveu uma droga que confere super-velocidade. É muito interessante fazer
o Flash lidar com esse tema, mas ele exagerou na dose.
Um segundo problema foi a sexualização exagerada em torno de Wally West.
Ele começa com uma namorada, larga ela pra ir morar com uma mulher casada e ao
mesmo tempo em que está namorando com Tina ainda pula a cerca duas vezes, pra
ficar com a mulher da dimensão do Chunk e com a “sobrinha” do seu vizinho. Esse
tipo de comportamento não encaixa bem para um personagem tão emblemático como o
Flash, não era apropriado para o público que a DC queria alcançar, e provavelmente
foi o principal motivo que tirou Mike Baron do título, apesar de oficialmente
ele ter dito que estava escrevendo várias coisas ao mesmo tempo, que precisava
largar alguma e que ele já não estava mais tão satisfeito escrevendo o
personagem.
Apesar desses problemas, particularmente eu considero essa uma excelente fase do Flash, necessária para qualquer fã do personagem e bastante
recomendável para quem quiser ler histórias de herói que fogem ao tradicional
“mocinho contra bandido”. E aproveito novamente pra recomendar a leitura via ComiXology, que possui uma qualidade muito superior aos scans
disponíveis por aí.
Depois de 3 meses analisando apenas essa fase, deixaremos Wally West um
pouco de lado agora e voltaremos nossa atenção para outras épocas do velocista
escarlate.
Até o mês que vem e continuem correndo!
Fonte: Terra Zero
1 Comentários
então o problema do seu "Barão" foi que ele era obcecado por " Inimigo corredores" de velocidade!! o Flash na sua Juventude era Corredor e Pegador!! vi uma mulher Negra bonitona em quem ele deu suas "Flash-Sapecadas"!!! então seu Barão queria ser o "Cafetão" do Seu Flash e por isso foi Demitido pela DC...Marcos Punch.
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