Embora no cinema se lembre pouco de
quanto o Superman mudou
ao longo dos anos (provavelmente por conta do espaço entre uma produção e
outra), nos quadrinhos é bem conhecido que o Super passou por diversas
reformulações desde sua criação em 1938.
Mas a
reformulação mais contundente – e provavelmente a mais lembrada (pelo menos
aqui no ARG) é a reformulação capitaneada por John Byrne em
meados dos anos 80 e que por muito tempo definiu como o personagem era visto.
Como o
pessoal do ARG (assim como eu mesmo) são grandes admiradores deste período
(pois bem ou mal crescemos com essa versão do personagem), destaco aqui alguns
grandes momentos dessa fase (feito a maior parte de cabeça, então perdoem
eventuais enganos). Não vou fazer uma lista numerada, primeiro porque seria
impossível para mim hierarquizar estes momentos e definir os melhores; e
segundo porque alguns momentos, às vezes, são vários momentos na verdade.
Enfim, confiram aí alguns grandes momentos do Superman do Byrne.
Superpoderes
supercientíficos
Outra grande mudança no Superman do
John Byrne foi a tentativa de explicar os poderes do herói cientificamente. Já
não bastava mais dizer que ele era de outro planeta; era necessário agora
explicar de forma verossímil como os poderes do Super funcionavam logicamente.
Assim, Kal-El foi desenvolvendo seus poderes aqui aos poucos, graças à
constituição do nosso planeta (com uma gravidade menor) e sua posição geográfica
no cosmos (orbitando uma estrela amarela) diferentes em relação ao seu planeta
natal.*
Logo na
primeira edição da minissérie O Homem de Aço, temos um grande momento, que é a
explicação científica sobre os poderes do Superman. É claro que, por “científico”
aqui, uso o termo de forma bem abrangente (até porque, se ele realmente
transformasse a energia solar em energia para si, ele seria mais próximo de uma
planta do que de um animal – mas isso já é minha chatice científica falando
mais alto), mas as explicações eram verossímeis e aceitáveis.
Kriptonita,
mais do que só a fraqueza do Superman
Na intenção de explicar como o
leitor (e as pessoas no Universo DC) descobririam que a Kriptonita era
letal para o Superman, o elemento acabou sendo utilizado como o estopim da
própria destruição de Krypton. Não mais a Kriptonita era a ruína apenas do
Superman, mas desempenhou um papel fundamental na destruição do seu mundo
natal, uma vez que Kripton foi destruída por conta da Kriptonita que surgiu a
partir de outros elementos moldados por pressões no núcleo de Krypton.
Desta forma,
o grande momento aqui são as primeiras páginas da minissérie O Homem de Aço,
que mostram a destruição de Krypton de uma forma mais “científica” e
compreensível quando Jor-El explica para sua esposa o que está acontecendo.
Superman
de vários mundos
Durante a
reformulação do Superman pelo Byrne, o personagem estava completando 50 anos, e
a DC queria, obviamente, comemorar em grande estilo. John Byrne fez questão
então de trabalhar com gente cujo talento ele confiava, como Mike
MIgnola, e também com outros que tivessem estilos em referência
a artistas clássicos do Superman como Curt Swan.
O resultado disso foi uma espécie de
“universo expandido” do Superman, onde ficamos conhecendo mais do Mundo de
Krypton, de Smallville (na época traduzida aqui como Pequenópolis – aposto de
muitos leitores mais novos nem sabiam disso) e de Metrópolis.
“Ambas as
três”** são grandes momentos do Superman do Byrne por explorar mais personagens
que sempre ficam na condição de coadjuvantes ou apenas de escada para a
narrativa. Não só os personagens, mas as locações também: conhecemos mais sobre
a cidade de Metrópolis, e como funcionam as coisas por lá, ficamos por dentro
de como é Smallville e mergulhamos numa reinterpretação bem interessante de
Krypton, um mundo radicalmente diferente da Terra.
Aqui no
Brasil, estas histórias foram publicadas em edições especiais: Superman
Especial 1 – O Mundo de Krypton, Superman Especial 2 – O Mundo de Metrópolis e
Superman Especial 3 – O mundo de Pequenópolis.
O
novo Clark Kent
Quando reformulou o Superman, John
Byrne também reformulou Clark Kent. Sai o repórter caipira desajeitado, que não
deixava de ser uma caricatura estereotipada do homem da cidade pequena***, e
entra um repórter determinado, nada ingênuo e disposto a rivalizar diretamente
com a maior repórter do jornal. Assim, Lois Lane e Clark Kent deixam a relação
da paixão platônica para uma tensão sexual à la Gata e o Rato****, onde os dois estavam sempre
competindo um com o outro. Esta dinâmica era, é claro, bem mais interessante do
que a passiva paixão platônica do Clark pela Lois, e trouxe muitos momentos
interessantes.
Mas não é só
na relação com a Lois que Clark mudou: sua ética jornalística também ficou meio
nublada, e um dos momentos mais marcantes dessa fase é justamente a forma como
Clark consegue seu emprego no Planeta Diário. Ele simplesmente consegue uma
entrevista exclusiva com o Superman!
Não só essa
atitude garantiu a ele um posto de repórter no jornal, como foi o início de sua
rivalidade com a Lois, que o via mais como um concorrente do que como um colega
de trabalho.
Os
romances do Superman
Diferente do Superman da Era de
Ouro, que antes de deixar de existir na Crise Nas Infinitas Terras era casado
com Lois, o novo homem de aço era um solteiro da cidade pequena que não se dava
nem um pouco mal com as mulheres.
Esta, na
época nova fase do Superman, trazia diversos interesses amorosos que tentavam
tirar os olhos de Clark de Lois Lane. Não foi muito diferente do que quiseram
fazer recentemente com os Novos 52.
Entre as
principais “rivais” da Lois podemos citar Lana Lang (que Byrne pretendia que
caracterizasse um triângulo amoroso, com Clark ainda apaixonado por ela no
presente – mas a ideia foi vetada pela DC), antigo amor da adolescência do
herói; Lori Lemaris, uma sereia (sim, você leu direito), personagem dos anos 50
que foi reintroduzida na fase do Byrne como um antigo caso do Clark que ele
reencontra em Metrópolis; Cat Grant, que embora não tenha sido criada pelo John
Byrne, acabou tendo um pouco do viés de “triângulo amoroso” entre ela, Lois e
Clark que Byrne queria para Lana Lang.
A Mulher
Maravilha, que na época havia sido reformulada para ter chegado bem depois da
era de heróis que iniciou com o super, teve um rápido “affair” com o Homem de
Aço, e até a Grande Barda, esposa do Senhor Milagre, se envolveu com o
Superman, ainda que involuntariamente da parte de ambos, quando foram
controlados para fazer um filme pornô.
O momento em
destaque aqui é sem dúvida o breve romance entre Mulher Maravilha e Superman,
que foi publicado originalmente em Action Comics 600, uma edição especial da revista
que fazia parte das comemorações de 50 anos do personagem (aqui foi publicado
na extinta revista Superpowers 16). Nesta história, Superman está meio que
encantado com a recém chegada Mulher Maravilha, e os dois heróis acabam se
envolvendo numa batalha contra Darkseid.
O
“Superman reverso” (e não me refiro ao Bizarro)
Uma das mudanças mais
significativas, e uma das mais interessantes, dessa fase do John Byrne sem
dúvida foi a caracterização de Lex Luthor. Antes da reformulação, Lex era
apenas um cientista louco que sequer era original – nem no universo do
Superman, já que era quase uma cópia do Ultra humanoide original, o primeiro
supervilão do Super. Já o Luthor do Byrne era algo radicalmente diferente*****
e muito mais sintonizado com o Superman.
Esta nova
versão do Lex Luthor é o exato oposto do Superman. Enquanto Superman é um
alienígena que representa melhor que é esperado da humanidade, Luthor é um ser
humano que representa o seu pior. E, assim como o herói, Lex Luthor também é
poderosíssimo, embora seja um outro tipo de poder – um poder que, inclusive,
pode até vencer o poder do Superman, já que dinheiro e politicagem podem
facilmente subjugar valores morais e não podem ser enfrentados com força
física.
A rivalidade
entre os dois vem de um grande momento desta fase, que é quando Superman
consegue levar Luthor à prisão, algo inédito e totalmente inesperado para o vilão.
É aí que Luthor percebe que ele, que antes era o “Superman” de Metrópolis,
perdeu o posto para o novo rapaz na cidade.
No fim das
contas, Luthor é o verdadeiro “anti-Superman”, tanto na sua luta contra o
herói, mas também filosoficamente, o exato oposto do herói.
A
Kriptonita também afeta humanos
Falando em Lex Luthor , outro
grande – e surpreendente – momento na fase do Byrne é a descoberta de que a
Kriptonita é um material radioativo como qualquer outro, e como tal, também
afeta humanos. A única diferença é que para Kriptonianos ela é letal e com ação
de curto prazo; já para os humanos, ela só é prejudicial se a exposição for
muito prolongada.
E foi com esse conceito que Byrne
fez o Lex Luthor perder a mão. Após descobrir a Kriptonita e o que ela faz com
o Superman, Luthor forja um anel de Kriptonita para manter o Superman longe.
Mas como o vilão nunca tirava o anel, a exposição ao longo dos anos acabou
dando-lhe câncer, e Luthor foi obrigado a amputar a própria mão para
sobreviver, passando a usar uma mão robótica. Esta história aconteceu em Action Comics 600, a
mesma que mostrou o “romance do século” entre o Super e a Mulher Maravilha –
mas que aqui no Brasil saiu em Superman 69, da editora Abril.
Superman
e Batman não forçam a amizade
A minissérie O Homem de Aço não
mostrou apenas como se iniciou as relações do Superman com seus coadjuvantes,
mas também com outro personagem que fora reformulado na mesma época: Batman.
Se antes da
Crise Superman e Batman podiam ser considerados amigos, o mesmo já não valia
para os heróis reformulados. Tanto que, na minissérie, o primeiro encontro dos
dois se dá quando Superman resolve ir até Gotham para PRENDER o Batman por
praticar vigilantismo (que, imagino que você deva saber, é ilegal******). É
claro que, chegando lá, eles acabam tendo que se unir para prender uma vilã (no
caso, Magpie, que os leitores mais novos sequer devem saber que existiu). A
partir daí, a relação entre os dois acabou evoluindo para um “respeito mútuo”.
Longe de poder se considerar amigos pessoais, os dois agora eram apenas colegas
de trabalho que se respeitam, embora discordem dos métodos um do outro.
O grande
momento dessa história é sem dúvida a solução que o Batman encontra para
Superman não prendê-lo: ele diz que colocou uma bomba num inocente e que se o
Superman tocá-lo, o inocente morrerá. Apesar de ultrajante, no fim acabamos
descobrindo que o “inocente” era o próprio Batman, que tinha colocado a bomba
em si mesmo, pois era a única maneira de garantir que estava falando sério, mas
sem arriscar a vida de um inocente real.
Originalmente
eu pretendia fazer apenas uma única matéria, mas ao começar a escrever esta
matéria, percebi que só o Universo Compacto valia um texto à parte. Então, esta
foi a primeira parte dos grandes momentos do Super do Byrne. Na próxima, vamos
conhecer momentos realmente tensos na vida do Homem de Aço.
Notas
*Não que
isso fosse exatamente inédito: na primeira edição de Action Comics, já em 1938,
Jerry Siegel e Joe Shuster tentavam aspectos dos poderes do personagem
cientificamente, embora de forma bem menos refinada.
**Pelo amor
de Osíris, o termo está sendo usado errado de forma proposital, mas não tem
como ser “ambos os três”. Não cometa o erro que muitos jornalistas ditos sérios
costumam cometer: “ambos” é sempre entre duas coisas.
***É claro
que a intenção disso não era retratar o homem do interior, e sim criar um
“oposto” a tudo o que o Superman representava; mas imagine se você fosse alguém
do interior que vive na cidade grande, como se identificaria com um Clark Kent
que parece tudo o que as pessoas da cidade grande pensam dos “caipiras”?
****Para os
leitores mais novos, foi a série que revelou Bruce Willis. Sim, é antiga.
*****Sim, é
verdade que no começo ele parece quase uma cópia do Rei do Crime, da Marvel,
mas isso não vem ao caso.
******É, eu
sei que é meio estranho falar em ilegalidade do vigilantismo num mundo que tem
tantos super-heróis que não possuem nenhum registro social (apenas suas
identidades secretas civis, claro) ou autoridade sancionada pelo governo, mas
isso foi explorado no Universo DC, tanto que a Liga da Justiça acabou sendo
sancionada pela ONU.
1 Comentários
o Super Com##.. digo beijou até a Barda!! o Milagre ganhou Chifres!!!? controlados pra fazer filme Pornô?!e eu pensei que os quadrinhos de Hoje eram Sacanas!! Byrne deu uma Overdose de Kriptonita Batizada pro Super-Escoteiro !!! Marcos Punch.
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