[o artigo abaixo contém spoilers]
Roteiros de Rick Remender
Desenhos de John Romita Jr.
Desenhos de John Romita Jr.
Recém saído de uma
fase que contou com o número impressionante de 100 edições escritas por Ed Brubaker, cujo trabalho com o personagem foi um dos
mais elogiados da última década, o Capitão América agora
vai para as mãos de um escritor que fez sua fama dentro da Marvel sem muito
alarde, com alguns bons momentos em títulos como Uncanny X-Force e Secret Avengers. Rick Remender não
é uma unanimidade, portanto é uma aposta arriscada para trabalhar com um
personagem tão importante da editora. Dentre os trabalhos que fez
particularmente gosto apenas de Uncanny X-Force, onde violência e ideias mais
ousadas e insanas estavam liberadas, e ele fez bom uso desta liberdade maior
produzindo histórias enérgicas do grupo mutante responsável por eliminar
ameaças antes que elas fugissem do controle e pusessem em risco o mundo
inteiro.
No restante da
edição o tom é mais leve, e encontramos um Steve Rogers mais descontraído, bem
humorado e “atiradinho,” características que são bem desenvolvidas em seu
diálogo com Sharon Carter, no qual descobrimos outro dado
importante sobre nosso protagonista: ele está completando 90 anos.
Isto garante algumas boas piadas envolvendo sua idade e suas manias “de velho,”
e a introdução de outra boa ideia que pode render um bocado de situações
interessantes nos próximos capítulos: a proposta de casamento de Sharon.
Neste primeiro
número o autor também demonstra que tem planos para desenvolver Steve tanto no
aspecto pessoal quanto no super-heróico de sua vida (uma característica de seu
trabalho também vista nas histórias de Uncanny X-Force). Assim, apesar da sequência
empolgante de ação no início da história, ele também protagoniza um monólogo
reflexivo em que se mostra preocupado por ter se desacostumado a levar uma vida
normal (“Estou
desaparecendo dentro do uniforme.”).
Outra característica
do estilo de escrita de Remender é a evidente influência de Frank Miller. Nas sequências em que a ação e a
tensão imperam, a narração em primeira pessoa adapta-se à situação, e torna-se
mais econômica e truncada para refletir as rápidas impressões físicas e
psicológicas do personagem nas situações de urgência. Apesar desta técnica ser
empregada há décadas, quando bem utilizada, o que é o caso aqui, ajuda o leitor
a envolver-se mais com a trama, e preocupar-se com os apuros enfrentados pelos
personagens.
Outro tema nada original que o escritor reutiliza de
forma eficiente é o medo do desconhecido, aqui representado pelo momento em que
o Capitão se vê deslocado para outra dimensão e vítima de um experimento que
ele não compreende de início, tendo que lidar com tudo isto dopado, graças às
drogas injetadas nele por seu inimigo, um velho conhecido, que aqui parece
estar mais insano como jamais esteve.
E para os fãs do
mangá Lobo Solitário, o final deste primeiro capítulo
ainda traz uma sutil homenagem a ele, que promete escancarar-se na próxima
edição, e render mais algumas boas histórias.
John Romita Jr. mostra sua habitual competência nos
desenhos, mas quem realmente brilha oferecendo atmosfera, volume e textura à
história é Dean White, um dos melhores coloristas da atualidade.
Seu trabalho já havia vinha se destacando em Uncanny X-Force , e
tanto aqui como em Thor, God of Thunder, ele recebe a chance, muito
merecida, de trabalhar com personagens do primeiro escalão da Marvel.
Destaco ainda a
carta ao leitor escrita por Rick Remenber no final da edição, onde ele diz que
inspirou-se numa fase do Capitão América escrita e desenhada por Jack Kirby na década de 1970, que misturava espionagem,
ficção científica e psicodelia. Uma mistura muito bem vinda, na minha opinião,
para um personagem que vinha merecendo há algum tempo histórias mais
imaginativas e menos influenciadas por filmes de ação com pegada mais realista
e analogias a acontecimentos de nosso mundo (algo que funcionou muito bem na
fase do Brubaker, mas que já vinha se tornando repetitivo em suas últimas
histórias). Ótima mudança de direção.
Fonte: Nerd GeekFeelings
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