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Resenha: Dark #0

Desde a decisão da editora americana DC Comics em reapresentar seus personagens no evento editorial conhecido como Novos 52, fixou-se a regra de haver esse número de edições mensais publicadas (o número, na verdade, surgiu de minisséries anteriores, publicadas semanalmente, o que dariam 52 semanas por ano). É claro que não se espera que cinquenta e duas revistas vendessem todas satisfatoriamente. Algumas delas, que não tiveram tanto sucesso com o público, acabaram por ser canceladas e substituídas por outros títulos, mantendo assim o quadro de publicações sugerido.
No Brasil, em uma atitude inédita (e corajosa), a editora Panini publicou todos os cinquenta e dois títulos iniciais, sendo divididos entre novas revistas mensais ou encadernados. Ainda que com a flexibilidade que permite o ajuste através dos encadernados, administrar algo que, na verdade, está seguindo as regras da DC, não é uma tarefa fácil, mesmo levando em conta uma defasagem por volta de um ano em relação ao original. Muitas vezes, sabendo que com um ano de antecedência tal título foi cancelado, torna esse trabalho “menos difícil” para os editores brasileiros.


Porém, a própria DC criou um evento que se tornou uma espécie de alívio para as publicações brasileiras. Em determinado mês, todos os 52 títulos americanos tiveram o seu chamado “número zero”, contando a história antes das histórias que estão sendo publicadas. Ou seja, além de um evento isolado, não havia a obrigatoriedade da sequência cronológica (apesar das citações relativas aos respectivos arcos atuais dos personagens). É algo como uma “paradinha” na aventura atual do super-herói, para que fosse contado um pouco sobre seu passado ou como chegou até ali. Uma espécie de interlúdio.
Aproveitando-se desse “evento”, a Panini ajustou muitos de seus títulos, cancelando aqueles que acabaram por não alcançar a repercussão necessária em vendas, transferir outros títulos que não se sustentavam isoladamente e repensar a continuidade dessa ousada estratégia.
Em um caso bem diferente dos demais títulos, a revista Dark, que publica o então chamado “lado sombrio” do universo DC, não chegou a ser cancelado, mas deixou de ser mensal, para se tornar bimestral. Pesa-se, nesse caso, o fato da revista contar com personagens que, apesar de não tão conhecidos pelo grande público, se tornaram cultuados entre os leitores mais tradicionais. É um título de extremos.
Os personagens mais queridos pelo público acabam tendo suas histórias muito abaixo do que esse mesmo público espera. Porém, o carinho para com o personagem é tanto, que o fã tolera. Mas também há casos em que personagens apresentados de forma diferente de suas encarnações passadas, passam por fases excelentes e que estão agradando boa parte desse público.
O carro chefe da revista é a chamada Liga da Justiça Dark, grupo formado por personagens ligados ao misticismo ou ao sobrenatural, que formam um grupo que enfrenta ameaças desse naipe. A grande atração entre os integrantes é o personagem John Constantine, um dos grandes sucessos do selo Vertigo, que publica histórias adultas, fora do circuito de super-heróis da editora.
No entanto, Constantine foi, digamos, retirado do “Universo Vertigo” vindo a interagir com o mundo dos personagens super-poderosos. Assim, o que temos aqui não é mais o suposto bruxo que enfrentava até demônios utilizando mais sua empáfia do que poderes propriamente ditos. Aqui temos uma espécie de herói que chega até mesmo a conjurar energias místicas para atacar (quando, anteriormente, seu charme era justamente ficar na defensiva). Por mais que Constantine afirme que não quer ser uma espécie de super-herói, sua posição não deixa dúvidas disso.
A “história antes da história”, mostrando um pouco do passado do personagem, mostra a origem de seu romance com a mística Zatanna e, curiosamente, também mostra a origem de seu famoso sobretudo. Essa história é escrita pelo atual nome mais querido da DC, Jeff Lemire, e desenhado por Lee Garbett.
A história Zero da série “Eu, Vampiro”, mostra como Andrew Bennett, protagonista da série, veio a se tornar um vampiro bonzinho (não, fãs de Crepúsculo, essa série não é exatamente indicada pra vocês). É a série que mais destoa do que se pode chamar de uma revista de super-heróis, apesar da eventual interligação com eles. Mais se assemelha a uma verdadeira história de terror, com uma arte sombria de Andrea Sorrentino e escrita por Joshua Hale Fiakov.
Com um clima contrário a série “Eu Vampiro”, a série do personagem “Ressurreição” parece destoar de uma forma contrária à proposta da revista. O super-herói Ressurreição parece estar na revista mais por ser algo bizarro. Seu poder é diferente a cada morte, quando ressurge com outro poder. A ideia da revelação de sua verdadeira origem parece até ser interessante (e mais bizarra ainda), mas o leitor pode se sentir perdido com certa falta de foco, levando a série para um conflito pseudo-dimensional entre Céu e Inferno (quando o título tenta, ao mesmo tempo, se encaixar em um gênero que funde ficção científica com espionagem). É escrita pela dupla (de uma parceria de longa data), Dan Abnett e Andy Lanning, com arte de Ramon Bachs e Jesús Saiz.
Desse ponto em diante, parece proposital que a revista Dark se torne mais interessante, apresentando as séries de maior qualidade de seu elenco.
A série Homem-Animal, escrita por Jeff Lemire e desenhada aqui por Steve Pugh, mostra detalhes da origem do personagem título, que utiliza gênero super-herói apenas em seu visual. Não é exatamente uma novidade, uma vez que o herói que emula capacidades de qualquer animal, já vinha sendo explorado das formas mais extremas que se possa imaginar.
O interessante aqui é que a história dá verdadeiro sentido ao termo “origem secreta” do personagem. Mesmo que esse recurso já tenha sido usado de forma surpreendente décadas atrás, pelo escritor Grant Morrison, aqui Lemire tenta ir além, ou melhor, aos bastidores do que já era uma origem surpreendente, mostrando fatos ainda mais perturbadores.
Já o número zero da série Monstro do Pântano parece ser a que ficou mais no clima do que era o personagem no selo Vertigo (só o clima; o personagem em si tem uma nova abordagem). Escrito pelo (também querido pela editora) escritor Scott Snyder, só não se torna algo parecido com o selo anterior devido aos traços mais convencionais do desenhista Kano. Ainda assim, Snyder deixa bem claro que é ele quem está no comando da história e reconta a origem do “herói” através dos percalços do seu arqui-vilão, o que rende cenas pouco comuns ao universo de super-heróis (universo ao qual o Monstro é meio que encaixado forçosamente).
A revista Dark Zero pode causar certa estranheza nos leitores que conhecem esses personagens do passado e decidiram reencontrá-los em um momento tão delicado. Mas também atraem todos os leitores (novos ou tradicionais) e ter maior curiosidade com essas novas abordagens. Uma curiosidade quase mórbida, mas agradavelmente sombria em alguns aspectos.

Fonte: Impulso HQ

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