[o artigo abaixo contém spoilers]
Numa edição de tirar
o fôlego, Scott Snyder, Greg Capullo e Rafael Albuquerque conseguem o impossível. Batman #24,
trazendo o início do arco “Dark City” dentro da
saga Ano Zero, foi, de longe, a melhor edição deste novo evento no universo do
Homem-Morcego. Obviamente, sozinha ela é apenas uma boa edição; mas, ao ser
unida com suas antecessoras, Batman #24 eleva
o nível da própria narrativa de Snyder com o personagem a outro patamar, no
qual ele precisará se manter pelos próximos números para não correr o risco de
ser comparado com ele mesmo.
De modo geral, as
edições anteriores a esta mostrava que Snyder estava bebendo muito da fonte do
filme Batman Begins (Warner Bros., 2005),
cavocando pequenos buracos cronológicos para encaixar uma história que, mesmo
bem executada, poderia sofrer, a curto prazo, de falta conteúdo ou sentido.
Depois do interlúdio do Mês dos Vilões, focado no Charada, o Ano Zero ganha uma
cara totalmente nova, se tornando, enfim, uma história com vida própria.
Batman #24
Roteiro: Scott Snyder / James Tynion IV
Arte: Greg Capullo / Rafael Albuquerque
Arte-Final: Danny Miki
Cores: FCO Plascencia / Dave McCaig
Capas: Greg Capullo / Guillem March
Primeiramente, é bom deixar claro que o maior trunfo desta
edição foi seu espaço. Com um número de páginas muito maior que o de uma revisa
mensal normal, Batman #24 conseguiu dar a Scott Snyder um bom intervalo para a
construção deste capítulo do Ano Zero. Somando a história principal com a
história backup, desenhada por Rafael Albuquerque, esta publicação soma mais de
50 páginas, quase o triplo das 20 que compõe cada título dos Novos 52. Tendo
isto definido, é hora de falar da história em si.
Snyder e Capullo mostram as
primeiras missões do herói encapuzado tentando amarrar Batman – Ano Um (de Frank Miller e David
Mazzucchelli) e Batman – A Piada Mortal (de
Alan Moore e Brian Bolland). Como se sabe, estes dois clássicos dos quadrinhos
mostram momentos em que o Homem-Morcego dava seus primeiros passos como
vigilante de Gotham, e a DC Comics prometeu que as duas não seriam jogadas fora
da trajetória do personagem no reinício cronológico dos Novos 52. Portanto, era
uma obrigação para Snyder que Ano Zero funcionasse em meio a isso tudo. E ele
conseguiu.
Há, claro, algumas
mudanças para um melhor funcionamento do que o autor desejou narrar. O maior
exemplo disso é Capuz Vermelho Um, que todos conhecem como o pobre
coitado que faria um único assalto para dar uma vida decente à esposa e se
transformaria no Coringa ao cair numa caldeira de produtos químicos na ACE Chemicals. Na
história de Moore, este homem sem nome é retratado como um frustrado
comediante, uma pessoa sem a menor capacitação para nada. Já no conto de Snyder,
uma dúvida fica no ar; o Capuz Vermelho Um que cai no caldeirão e se
transformará no Coringa age com calculismo e frieza antes mesmo da macabra
metamorfose. No entanto (e alguns podem dizer que o autor foi um pouco covarde
aqui), Snyder sugere que o verdadeiro Capuz Vermelho Um já estava morto, e que
este pobre coitado estava fazendo tudo de forma programada ao vestir o
engenhoso capacete vermelho. Todavia, se fãs mais sedentos por respostas podem
ter achado uma certa covardia esta atitude do autor, não dá pra reclamar da
coragem dele em contar uma história simplesmente bombástica que consiga se
encaixar no meio de dois clássicos da indústria e ainda apresentar algo novo
como um verdadeiro presente para os fãs.
A trama de Dark City – Parte 1 mostra a primeira missão real de Bruce
Wayne como o Batman, assim como a primeira aparição pública de sua identidade
civil perante o mundo. Ao revelar no noticiário que a ACE Chemicals
(subsidiária das indústrias Wayne) fazia parte do golpe que faria a trupe do Capuz
Vermelho tomar uma série de indústrias da cidade para si, Wayne consegue
separar sua identidade do Batman já na construção do mito; enquanto o ataque à
ACE é filmado pelos jornalistas locais, Alfred Pennyworth cria
um holograma de Bruce sendo salvo pelo misterioso Morcego, o que é capturado
por câmeras e pelos presentes.
Está feito. Para o público, Bruce Wayne e Batman são pessoas
diferentes. Para sempre. A não ser para o Capuz Vermelho Um, que sacou a
jogada, e notou o modus operandi do playboy em busca de justiça em segredo e do
homem vestido de Morcego (usando ainda uma roupa mais primária, cheia de
proteções descoloridas e com luvas roxas). Snyder fez com que esta informação
simplesmente não importasse para este vilão, o que dá mais sustância à retratação
do Coringa que Grant Morrison fez nos últimos anos – ele sempre soube quem o
Batman era, mas aquilo nunca importou.
Para fechar o conto com chave de
ouro, a destruição da Gangue do Capuz Vermelho é executada quando o Batman
desliga, remotamente, a energia elétrica de todas as suas indústrias que seriam
tomadas e de alguns prédios em volta para formar um grande morcego nas sombras
da noite de Gotham, avistado apenas do céu. Philip Kane se
revela um membro da Gangue e acaba morrendo no fogo cruzado. Restam apenas o
Morcego e o Capuz. Batman tenta salvá-lo. Ele não quer ser salvo e aceita seu
destino em meio a uma caldeira de produtos fumegantes.
O Capuz Vermelho se
foi. No futuro, virá o Coringa, e ninguém saberá quem ele é, já que toda e
qualquer evidência sobre o homem por baixo do capuz simplesmente se perdeu ou
não levou a investigação do Batman a lugar nenhum.
Batman nasceu de verdade. Em breve, a polícia confiará nele. Gordon logo
se tornará Comissário. Alfred está orgulhoso do feito de Bruce, assim como seus
pais estariam. Mas a cidade inteira se apaga, e é aí que o nome do arco faz
sentido. Gotham está totalmente sem energia elétrica. O Charada nasceu e tem
alguns truques para brincar com o novo herói da cidade.
Enquanto isso, no mundo real, Scott Snyder, Greg Capullo,
Danny Miki e Rafael Albuquerque entregam a melhor história
do Batman do ano. Os fãs agradecem e aplaudem. De pé.
Nota: 10/10
Referências (por número de página):
6-7-Uma das melhores releituras da
clássica Detective Comics #27 já
feitas na história. Simples assim;
7-”BK was here”. Podia ser “Burguer King”, mas é “Bob Kane” mesmo =)
13-A pedra fundadora de Gotham estar com Philip Kane pode indicar que as
famílias Wayne e Kane são as mais importantes para a fundação do que a cidade
viria a ser no futuro;
14-”Desde que você não instale um cano pra eu descer escorregando aqui,
eu consigo me virar, senhor”. Alfred/Scott Snyder tirando sarro do Batman de
Adam West;
16-Primeiros retratos falados do Batman são hilários;
26-Uma cena simplesmente linda de se ver. O Batman se apresenta à Gotham
de verdade;
43-É o fim do capuz. E o início de algo muito maior numa cena que acaba
se tornar um clássico instantâneo na mitologia do Batman.
Fonte: Terra Zero
2 Comentários
o Capuz vermelho(até hoje não li nada dele..) vai virar o Coringa?!? quer dizer que esse Batman nasceu do ano Zero pelo traço muito bacana do Capullo!!legal! ! depois que eu ler a História eu dou os Aplausos!! Marcos Punch.
ResponderExcluirO Capuz Vermelho dos Novos 52 é o Jason Todd. Na versão antiga, o Coringa chegou a usar esse mesmo nome de Capuz Vermelho.
ExcluirAno Zero é boa leitura garantida. Tenho certeza de que haverá aplausos sim. Ah, e leia os tie-ins também, são muito bons.