Que o Homem-Aranha é o herói de maior apelo ao público da Marvel,
é indiscutível! Ele é como o Batman: podem tentar zoar o
personagem, cantar musiquinha (“nunca bate, só apanha”) ou questionar sua
sexualidade; nada disso abala sua popularidade! Mas para entender a origem
desse status de ídolo pop, adorado tanto por crianças quanto por adultos,
conhecer suas origens é essencial. E é isso que nos é apresentado na Coleção
Histórica Marvel: O Homem-Aranha.
O primeiro
volume apresenta as histórias clássicas do Aranha com o Duende
Verde, e cobrem um período que vai desde o surgimento do vilão
até a sua morte, após o assassinato de Gwen Stacy (isso foi um spoiler? A história tem
mais de 40 anos, portanto eu acho que não!). O segundo volume é sobre o Doutor
Octopus, o terceiro sobre o Lagarto e o quarto nos apresenta o Sexteto
Sinistro. Os quatro volumes, em capa cartonada, formam uma
pequena imagem do Aranha na lombada, quando colocados lado a lado, e se acomodam
perfeitamente na caixa que acompanha a primeira edição.
Os volumes
são independentes entre si, o que significa que qualquer pessoa que nunca tenha
lido um gibi do aracnídeo pode entender com facilidade qualquer um deles, em
qualquer ordem. É difícil de se imaginar isso hoje, numa época em que é
praticamente preciso fazer um curso de graduação, mestrado e doutorado para
acompanhar as múltiplas sagas, crises infinitas e reformulações pelas quais
passam os gibis de heróis em geral. Stan Lee acreditava que “todo gibi é o primeiro
gibi de alguém”, portanto não partia do pressuposto de que o leitor já tinha um
alto grau de conhecimento sobre a história de seus personagens, e deixava tudo
explicadinho. Mas o verdadeiro segredo do sucesso dessas histórias era a forma
como os autores dialogavam com seu público. Se hoje em dia muitos fãs de hqs se
zangam quando ouvem que “quadrinhos é coisa de criança”, esse era o público
alvo das histórias dessa época! Diferente do Batman, que era adulto, e do Robin,
que era um sidekick, Peter Parker era um garoto E o protagonista. Não
era um simples ajudante de um herói mais velho, o que fez com que seu público
alvo se identificasse com ele.
Parker tinha
problemas que garotos comuns também tinham, mas ganha poderes e
responsabilidades maiores do que poderia suportar. Então, sua vida pessoal
passa a ser mais importante do que sua vida heroica: prender o bandido é
essencial, mas chegar em casa antes que a Tia May fique preocupada é mais
importante do que tudo! Lendo essas histórias até dá pra entender porque o Ben
10 faz tanto
sucesso hoje com a criançada! Peter é um garoto, assim como seus leitores, mas
toma as rédeas da sua vida e não fica na sombra de um herói mais velho.
Todo o clima
pesado das histórias, com temas como a doença da Tia May ou a responsabilidade
que Peter assume após a morte de seu tio, é suavizado com o bom humor da
narrativa. Em alguns momentos de puro drama, o narrador faz uma pausa para a
história não virar “novela das seis”! Cortesia do tio Stan
Lee, que parece se divertir muito ao escrever seus roteiros. O
clima descontraído pode ser sentido nas apresentações dos artistas, sempre com
algum apelido como “Sorridente Stan Lee” ou “Jovial Johnny Romita”.
Se existe um
ponto fraco digno de nota nessa coleção é o volume 4. Não que seja ruim, pelo
contrário, foi uma excelente forma de apresentar o Sexto
Sinistro, sendo que as primeiras histórias contam a origem dos
vilões que ainda não haviam sido apresentados na coleção, e a última história
apresenta um especial de 76 páginas, nas quais o Sexteto se une pela primeira
vez. Até aí, tudo bem, se não fosse o fato da coleção não ter parado por aí, e
uma segunda caixa nos ser apresentada alguns meses depois com o volume 5
dedicado ao vilão Abutre (cuja história de origem é a primeira
do volume 4). Resta saber se a qualidade dessa nova leva se manterá como a da
primeira, mas a impressão que fica é que foi feita às pressas para aproveitar o
sucesso de sua antecessora.
Enfim, a Coleção
Histórica Marvel: Homem-Aranha é um excelente item para se ter na
estante, tanto para quem é fã de longa data do Cabeça de Teia quanto para quem
está começando agora a conhecer o Escalador de Paredes. Mas, principalmente, é
a melhor pedida para aqueles mais jovens que estão na vibe do
novo filme e querem conhecer um pouco mais o material original, sem precisar se
preocupar com os anos de cronologia e más fases pelas quais o herói passou nos
últimos quarenta anos.
Por Dan Cruz
Fonte: Vortex Cultural
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