O Legado do Morcego
Ao longo de
sete anos Grant Morrison conduziu o Batman por uma fase épica
composta por quatro séries e três diferentes Batmen (sem mencionar os
maravilhosos artistas com os quais trabalhou, como Andy Kubert, J.H. Williams III, Frank Quitely, Cameron Stewart, Chris Burnham, entre outros). Começando em Batman #655 de 2006 [republicada recentemente pela Panini Books no encadernado Batman e Filho], Morrison envolveu Bruce Wayne em uma série de situações que
normalmente não ocorriam em histórias do Batman, como viagens no
tempo, Novos Deuses interdimensionais
ou simplesmente uma Gotham muito fora de seu controle, tudo isto enquanto
redefinia o que o Batman era e poderia ser.
10 – Bruce Wayne, O Cruzado Social
Por
décadas a face pública de Bruce Wayne foi a de um “almofadinha desinteressado”
– uma persona tão diferente do sério e sincero Batman que ninguém jamais
conectaria os dois, não importando com quantas causas filantrópicas a
Fundação Wayne investia seu dinheiro. Agora, graças ao patrocínio público de
Bruce Wayne à Corporação
Batman – e às
razões por que ele financiou a organização quando a lançou – Wayne não é mais
um riquinho indiferente, pelo menos até um futuro escritor pensar numa maneira
convincente de mudar isto. Por enquanto os cidadãos de Gotham sabem quão
preocupado e envolvido Wayne está com o que acontece em sua cidade.
9 – BatMundo
Ao
ressuscitar o conceito da Era da Prata do “Clube Internacional de Heróis” –
super-heróis inspirados pelo Batman a combaterem o crime – e transformá-lo na
mais organizada e melhor direcionada Corporação Batman, Morrison não apenas
criou uma comunidade de super-heróis mais distantes dos personagens americanos
mais familiares e provincianos que lemos normalmente, como também posicionou o
Batman no centro dela. No Universo
DC pré-Ponto de
Ignição [a
saga que reiniciou o Universo DC em 2011], isto pode não ter parecido
grandes coisas – aquele mundo era cheio de super-heróis – mas nos Novos 52 é uma raridade.
Com os
primeiros super-heróis tendo surgido há apenas cinco anos atrás, a ideia de o
Batman ter inspirado vários heróis ao redor do mundo a assumirem suas personas
combatentes do crime em tão pouco tempo demonstra quão bem conhecido – e muito
respeitado – ele é no atual Universo DC. Claramente ele não é mais o velho e
sombrio mito urbano.
8 – Bat-Zoológico
Sejamos
francos: se alguém tivesse te contado há alguns anos atrás que o Batman
teria não apenas um Bat-Cão mas também uma Bat-Vaca e um Bat-Gato nos Novos 52, você provavelmente teria rido
destes adoráveis conceitos da Era de Prata. E ainda assim, no final de
Corporação Batman, é exatamente isto que encontramos.
A Bat-Vaca, que
ficou famosa ao aparecer na primeira edição do segundo volume deCorporação Batman [o primeiro como parte dos Novos 52, que aqui no Brasil
corresponde aoVolume
3 dos encadernados
onde a Panini publicou todas as edições da série], ganhou até uma história solo [publicada em Corporação Batman -
Volume 4].
O gato foi um presente que Alfred deu a Damian em Corporação Batman – Volume 3, e embora
Titus, o Bat-Cão moderno, tenha surgido na série Batman e Robin de Peter Tomasi e Pat Gleason, ao invés de
numa história de Morrison, ele claramente se encaixou no conceito. Não seria
uma boa hora para um especial da Legião dos Bat-Bichos?
7 – Quem e o que é a ESPIRAL?
A
misteriosa organização no cerne de Corporação Batman – liderada, pelo menos no início, por Otto Netz – a Espiral terminou a série quase tão
desconhecida quanto na época em que foi introduzida. O que sabemos é que ela
costumava ser uma agência de espionagem sancionada pelas Nações Unidas, antes
de cair em ruína… mas também sabemos, graças ao que um certo alguém disse em Corporação Batman – Volume 4, que ela
ainda é um “grande poder” cuja especialidade é cuidar de “super-criminosos
internacionais.”
Seja o que for
a Espiral, ela é uma organização que continuamente confundiu e enganou Batman,
conseguindo infiltrar vários agentes na Corporação sem que ele suspeitasse.
Esqueçam a Liga da Justiça ou mesmo a A.R.G.U.S. de Amanda Waller: A Espiral é
a verdadeira face do poder no Universo DC atual? [vale lembrar que Dick
Grayson se
tornará um agente da Espiral na série Grayson,
que estréia dia 2 de julho]
6 – A Outra Batwoman
E
como estamos falando da Espiral, vamos considerar por um momento o fato de que,
graças à Corporação Batman, a Kate Kane original – perdão, Kathy
Kane, antigo amor do Batman e a primeira Batwoman – está firmemente de volta à
continuidade (ou, pelo menos, tão dentro da continuidade quanto qualquer coisa
vista em Corporação Batman, uma série que brincou livremente com – e em alguns
casos ignorou – a continuidade dos Novos 52. Eu estou te vendo, Metamorfo).
O que isto
significa para os Novos 52 continua um mistério. A Kate Kane que estrela a
série mensal Batwoman conhece sua predecessora com quem
compartilha ambos os nomes? Na compassada linha temporal dos Novos 52, há
quanto tempo a Batwoman original está na ativa em Gotham? Alguém voltará a
mencionar Kathy Kane algum dia, ou teremos que jogar a culpa disto no Superboy
Prime socando as paredes da realidade, porque, de outra forma, isto pode ficar
bem estranho? [pra quem não sacou a referência, ela vem
de um momento na saga Crise Infinita, escrita por Geoff Johns,
em que várias ocorrências estranhas na história recente da DC, pré-Novos 52,
foram explicadas pelo fato do Superboy
Prime (até então visto
pela última vez no final da clássica Crise nas Infinitas Terras) ter,
literalmente, socado a realidade (numa dimensão superior), o que gerou
anomalias espaço-temporais no Universo DC]
5 – Os Filhos do Batman
Talvez
o mais famoso legado que Morrison deixará para o Batman seja Damian
Wayne, o último e trágico Robin,
que acrescentou muito mais à série do que muitos esperavam, e à mitologia do
Batman como um todo. Damian, porém, estava longe de ser o único filho do Batman
na fase de Morrison: Afinal, ele foi morto por seu próprio clone, que foi
criado para tornar-se o Batman após a [suposta] morte de Bruce Wayne [na saga Crise Final,
também escrita por Morrison].
A ideia dos
“filhos do Batman” percorreu toda a fase do Morrison, de seu primeiro arco de
histórias – com Damian e Tim
Drake disputando
o direito de considerarem-se filhos de Bruce Wayne – à fase em que Dick
Grayson, filho adotivo de Wayne, assumiu os negócios da família, até a última
página da edição final. Muitas pessoas já falavam da “Bat-Família” com a qual o
Batman cercou-se, mas Morrison pegou esta metáfora e a tornou literal, de uma
forma que parecia ridícula no início, mas inteiramente natural quando ele a fez.
4 – A Linhagem Wayne
Outro
tema duradouro desenvolvido por Morrison foi a natureza recorrente da
iconografia do morcego através de toda a história da família Wayne. No passado
ela era mencionada como predestinação ou simples coincidência, mas graças à
minissérie O Retorno de Bruce Wayne [cujo encadernado já está em
pré-venda em algumas comic shops], Morrison a tornou mais do que isto: Bruce Wayne foi, ele
próprio, o responsável por estas recorrências através da história, conforme ele
saltava através do tempo perseguido por um demônio criado unicamente para ele.
Além de
explicar várias coincidências e amarrar pontas soltas narrativas, este conceito
também resultou na ideia de um ramo corrupto dos Wayne graças ao demônio criado
por Darkseid – algo não apenas desenvolvido por
Morrison, mas também enriquecido tangencialmente pelo arco A Corte das Corujas de Scott Snyder. Gotham, aparentemente, é
corrompida por algum motivo… e este motivo pode ser o próprio Batman.
3 – Batman, Um Ícone Imortal
Um
dos temas primordiais da fase de Morrison, que percorreu todos os títulos do
herói escritos por ele, foi do Batman como uma ideia invencível; conforme
exclamado no começo de Batman Descanse em Paz, “Batman e Robin nunca morrerão!” Isto não significa que as pessoas
usando estas personas não possam morrer – Morrison fingiu matar Bruce Wayne e
realmente matou Damian para provar isto – mas que alguém, em algum momento,
assumirá os nomes e uniformes depois delas, para manter vivo este sonho em
particular, como a fase de Dick Grayson como Cavaleiro das Trevas, e o próprio
conceito da Corporação Batman ilustraram.
Como Morrison
escreve na última edição, “O Batman sempre
volta, maior e melhor, mais brilhante e renovado. O Batman nunca morre. Nunca
acaba. E provavelmente nunca acabará.”
2 – Batman, o Super-Herói
Uma
ideia que Morrison trouxe de volta durante sua fase – que foi particularmente
um retorno bem vindo, na minha opinião [e na deste tradutor
também] – foi a do Batman
como um super-herói. O Batman de Morrison lidou com coisas numa escala que o
personagem evitou sucessivamente por décadas, até que o autor assumisse suas
histórias. Duendes alienígenas multi-dimensionais! Invasões dos Novos Deuses!
Viagens através do tempo! Sobreviver à própria morte!
Depois de anos
em que o personagem parecia, às vezes, envergonhado de seu passado e origens,
Morrison voltou a trabalhar o Batman como um personagem que pode (e deve)
aparecer ao lado do Superman,
da Liga da
Justiça e nas
partes mais estranhas do Universo DC, sem envergonhar-se disto ou desculpar-se
por isto. No processo o autor abriu incontáveis possibilidades para histórias
do Batman que pareceriam impossíveis – ou, na melhor das hipóteses,
extremamente improváveis – há pouco tempo atrás.
1 – Batman, o Ser Humano
Há
um vislumbre disto na edição final, quando Wayne diz que “Há pessoas cujas mágoas podem desencandear guerras.
Pessoas cujos corações partidos tornam-se grandes óperas num palco
internacional.” No
cerne do tumultuado arco de histórias em que ele e sua corporação enfrentam a Leviatã,
conforme Morrison apontou, há duas pessoas com um relacionamento
particularmente mau conduzido, cujas ações levaram as coisas bem além do que o
mundo real tende a permitir.
De toda a
reconstrução de Batman por Morrison como um super-herói e um ícone imortal, o
presente mais precioso que o autor deu ao personagem pode ter sido num nível
mais pessoal. As histórias do Batman de Morrison, especialmente a segunda
metade delas, foram bem emocionais para um personagem tradicionalmente
não-emocional. Ao longo de seus anos com o Batman, Morrison o transformou num
pai, e o tornou ciente de que não tinha que trabalhar sozinho – a posição
padrão do Batman – a fim de concluir seu trabalho. Pelo menos por um tempo, seu
Batman foi mais amável, gentil e humano do que aquele ao qual estávamos
acostumados. Se ganhamos um Batman mais humano como resultado de todo o
trabalho de Morrison, tudo se tornará melhor como resultado.
Por Rodrigo F. S.
Souza
Fonte: Nerd Geek
Feelings
2 Comentários
já "entrei"várias vezes aqui pra comentar nesse post sobre essas Contribuições do Sr Morrison! mas não tava afim de fazer "resenhas Habituais e engraçadas"!! o que mais gostei visualmente foi esse Batmundo! mas estou bem curioso e vou ler tudo que puder dessa fase "Morrison Morcego"!! já entrei em outro post comentando sobre a impactante cena do Morte do Damian,do corpo do garoto nos braços do Desesperado Batman!! Marcos Punch.
ResponderExcluirAchei a fase do Morrison no Batman a mais "fácil" de acompanhar. Embora tenha todo um estilo Morrison de escrever com várias referências, deu pra ler tranquilamente.
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