A
grande saga do Homem Animal e do Monstro do Pântano chegou ao fim quando as forças da
Podridão recuaram e foram banidas para as próprias entranhas de seu mundo
apodrecido. O Verde e o Vermelho voltaram a sua trégua milenar, restabelecendo
o equilíbrio da vida… pelo menos até que um descubra uma forma de sobrepor o
outro. Buddy Baker e Alec Holand viram o inferno, foram até o limite de
onde a Podridão fez sua morada e retornaram para escrever uma nova história.
A morte de Cliff obviamente não
deixou de ter pesadas consequências sobre a família Baker. Ellen, a esposa de
Buddy decidiu se separar, levando Maxine, a filha do casal, para morar com
ela.
Maxine Baker… a rainha absoluta do
Vermelho… uma criança com poderes além da compreensão que passa a trilhar
secretamente um caminho por um mundo perigoso com a ajuda do Pastor, um
guardião do Vermelho e Sr. Meias, seu gato falante… juntos eles partem numa
jornada para trazer seu falecido irmão de volta à vida… mas a menina ainda tem
muitas duras lições a aprender, e a principal delas é que a crueldade de seus
inimigos não conhece limites.
Enquanto isso… Buddy Baker, o Homem
Animal… não passa de um reles capacho dos Totens do Vermelho, diminuído pelo
Parlamento da Carne e ridicularizado por eles, que o consideram uma mero peão
diante de eventos muitos mais importantes se desenrolando em um contexto mais
amplo… “vá brincar de super herói… e só volte a nossa presença quando
solicitado”, eles disseram.
Será que Buddy será sempre relegado
a esse baixo nível de importância na visão deles, ou ainda conseguirá provar o
seu valor? Veremos…
Sempre é muito legal ver essas
“excursões” de Buddy e Maxine ao Reino Vermelho, um lugar surreal feito de
ossos, carne e sangue…
Em meio a todo o caos pelo que
passou recentemente, toda a perda e todos os desenganos, Buddy ainda tem que
lidar com um fato mais do que inesperado em sua vida: ele foi indicado ao Oscar
de melhor ator pelo filme “Fantasias”, no qual interpreta um herói decadente
passando por tragédias não muito diferentes da sua própria, numa genial
transposição de metalinguagem utilizada por Jeff Lemire para a história. E como
não poderia deixar de ser, um novo grupo terrorista surge promovendo um
verdadeiro massacre animal… na verdade eles estão mais para uma seita que
ambiciona entrar em comunhão com o Vermelho, utilizando os métodos mais
sangrentos possíveis, e contando com a ajuda de um antigo vilão que ressurge
dentro de um novo contexto em que faz todo o sentido que ele exista.
“Homem Animal” é uma leitura
divertida e inteligente, abaixo de obras voltadas para o público adulto
“maduro”, mas acima (muito acima) da média das rasas histórias de super heróis
publicadas atualmente por todas as editoras do ramo. Jeff Lemire é um autor de
qualidade, principalmente porque, apesar dele estar trabalhando numa história
de super heróis, ele não as escreve dessa forma… vemos que ele realmente se
preocupa em contar uma história e aprofundar os personagens. É algo similar ao
que Grant Morrison fez quando assumiu o mesmo Homem Animal anos atrás,
revitalizando o personagem. Similar, mas não uma cópia. Lemire tem seu próprio
estilo e embora não tenha as tendências “psico-linguísticas-transcendentais” de
Morrison, sabe como prender a atenção do leitor do jeito certo, sem os velhos
clichês de explosões e lutas intermináveis e sem sentido. Uma ótima leitura
recomendada a todos que apreciam uma boa história em quadrinhos e aos que
simpatizam com a causa animal. Um gibi “do bem”, apesar das bizarrices e
momentos escatológicos… é uma revista para quem ama os animais, mas não
esqueçam que também é onde uma menina de quatro anos percorre um rio de
sangue numa dimensão oculta buscando ressuscitar seu irmão morto…
Os artistas da série foram
escolhidos a dedo… com traços fortes, repletos de realismo e emoção estampada
na face dos personagens, ao mesmo tempo em que nos assombram com as criaturas
retorcidas que poderiam muito bem ter escapado por uma brecha do inferno…
Steve Pugh está em melhor forma do
que nunca, com traços mais limpos, mas não menos aterrorizantes. Já Travel
Foreman é mais estilizado, mas como “estilizado” imagine que ele faria cartoons
proibidos para menores de 18 anos. Já John Paul Leon que faz as sequencias do
filme “Fantasias” estrelado por Buddy Baker segue a risca seus contornos mais
próximos da realidade e propositalmente cinematográficos. Belas imagens.
Se um dia essas histórias vão cair
no marasmo e me fazer perder o interesse eu não sei. Mas falando de todo o
histórico do personagem até o presente momento… posso dizer que sou fã do Homem
Animal e da causa que ele representa.
E assim espero continuar pelo tempo
que for possível.
Por Rodrigo Garrit
Fonte: O Santuário
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