O Comics Code Authority (em português seria algo como: Código de Autoridade para os
Quadrinhos) foi formado nos EUA em 1954 pela Comics Magazine Association of America (Associação das Revistas em Quadrinhos da
América) como um conjunto de regras que regulavam o conteúdo das histórias em
quadrinhos. Uma espécie de código de ética para as histórias em quadrinhos,
chamado normalmente só de Comics Code. As revistas vinham com um selo de aprovação pelo Comics
Code Authority na capa, deste modo a editora estava garantindo que o interior
da revista estava seguindo todas as regras do Comics Code.
Vamos ver se me fiz entender perfeitamente,
talvez pareça que a Comics Magazine Association of America funcionava como um
órgão regulador e que o Comics Code seriam os regulamentos que as editoras
deveriam seguir nas suas revistas caso queiram que elas continuem circulando.
Algo semelhante aos Conselhos Estaduais de Medicina, que regulam quem pode ou
não exercer o ofício de médico e como exercer. Não é o caso. Os Conselhos
Estaduais de Medicina têm poder para punir transgressões dos infratores, já a
Comics Magazine Association of America está mais para um clube das editoras que
publicavam revistas em quadrinhos que não tinha poder algum para punir quem não
seguisse o Comics Code Authority. As próprias editoras seguiam o Comics Code
para que o governo não interviesse nos seus negócios.
Apesar do Comics Code Authority não possuir
um controle oficial sobre as editoras, porém a maioria dos distribuidores nos
EUA se recusava a transportar revistas em quadrinhos que não tinham o selo na
capa. Entretanto, pelo menos duas das maiores editoras de quadrinhos nos EUA, a
Dell Comics e a Gold Key Comics, não colocavam o selo de aprovação do Comics Code nas capas
das revistas que publicavam e mesmo assim suas revistas continuaram a ser
comercializadas livremente.
Com o passar dos anos o Comics Code foi
sendo revisado e passou a aceitar um grau maior de violência, assim como a
presença de drogas e homossexuais. A Marvel Comics abandonou o uso do Comics Code em
2001 e em 2010 somente três da maiores editoras ainda o seguiam: DC Comics,
Archie Comics, e Bongo Comics. A Bongo rompeu com o código ainda em 2010 e a DC e a Archie
fizeram o mesmo em janeiro de 2011, fazendo com que o Comics Code se
aposentasse de vez.
A DC já tinha batido de frente com o Comics
Code Authority em alguns casos, como em Green Lantern/Green Arrow #85 que
mostrou a famosa história onde o Arqueiro Verde descobre que seu sidekick
Ricardito é viciado em heroína. Com a chegada da Vertigo, a DC começou a
publicar revistas sem o selo de aprovação do Comics Code, contudo escrito nas
capas “suggested for mature readers” (sugerido para leitores maduros) que eram direcionadas ao
público adulto. Em 1990 o selo Milestone da DC Comics publicou suas revistas
independentemente do Comics Code, se a revista estivesse de acordo com o
código, então ela era publicada com o selo de aprovação na capa, caso contrário
ela era publicada mesmo assim e sem o selo de aprovação.
Segue abaixo uma tradução livre do Comics Code Authority feita por mim,
conforme foi criado em 1954. Quem quiser ler o Comics Code na íntegra em
inglês, é só vir aqui.
The
Comics Code Authority (como adotado em 1954)
Código da
Comics Magazine Association of America, Inc.
Adotado em 26 de outubro de 1954, a utilização deste código é a base para o programa de auto-regulação da indústria de revistas em quadrinhos.
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Adotado em 26 de outubro de 1954, a utilização deste código é a base para o programa de auto-regulação da indústria de revistas em quadrinhos.
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PREÂMBULO
A mídia de
revista em quadrinhos, tendo vindo cedo na cena cultural estadunidense, tem que
ficar à altura de suas responsabilidades.
Constantemente
melhorando técnicas e padrões mais elevados para ficar de mãos dadas com essas
responsabilidades.
Para fazer
uma contribuição positiva à vida contemporânea, a indústria tem que buscar
novas áreas para desenvolver o entretenimento são e salvo. As pessoas
responsáveis por escrever, desenhar, copiar, publicar e vender revistas em
quadrinhos têm feito um trabalho elogiável no passado, e tem batalhado por essa
meta.
O histórico
de progresso e melhorias contínuas delas é comparável favoravelmente com outras
mídias na indústria de comunicações. Um exemplo notável é o desenvolvimento de
revistas em quadrinhos como uma ferramenta única e eficiente para educação e
instrução. As revistas em quadrinhos também têm feito sua contribuição no campo
de letras e críticas da vida contemporânea.
Mantendo a
tradição estadunidense, os membros dessa indústria continuarão e devem
continuar a trabalhar juntos no futuro.
Nesta mesma
tradição, membros da indústria devem ver se o ganho feito nessa média não é
perdido e que violações dos padrões de bom gosto, que poderia gerar a corrupção
da revista em quadrinhos como uma forma de entretenimento instrutiva e
promotora do bem, seja eliminada.
Em
conseqüência, a Comics Magazine Association of America, Inc. tem adotado este
código, e posto fortes poderes de aplicação da lei nas mãos de um Code
Authority independente.
Adicionalmente,
membros da Associação têm dado seu endosso ao propósito e ao espírito deste
código como um instrumento virtual ao crescimento da indústria.
Para este
fim, eles têm se devotado a conscientemente aderir aos princípios dele e a ter
fé em todas as decisões baseadas no código feito pelo Administrador.
Eles estão
confiantes que esta declaração positiva e direta proverá uma defesa eficiente
para a proteção e melhora da leitura pública estadunidense, e que ela se
tornará um divisor de águas na história da auto-regulação para a inteira
indústria de comunicações.
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CÓDIGO
PARA MATERIAL EDITORIAL
Critérios
Gerais Parte A
1 ) Crimes
nunca serão apresentados de tal maneira a criar simpatia pelo criminoso, para
promover desconfiança das forças da lei e justiça, ou para inspirar outros com
o desejo de imitar criminosos.
2 ) Nenhuma
história apresentará explicitamente os detalhes únicos e métodos de um crime.
3 )
Policiais, juízes, oficiais do governo e instituições respeitadas nunca serão
apresentadas de tal modo a criar desrespeito pela autoridade estabelecida.
4 ) Se um
crime é retratado, será como uma atividade sórdida e desagradável.
5 )
Criminosos não serão apresentados de modo a parecerem glamorosos ou criarem o
desejo para serem imitados.
6 ) Em todo
caso o bem triunfará sobre o mal e o criminoso será punido por seus mau feitos.
7 ) Cenas de
violência excessiva serão proibidas. Cenas de tortura brutal, uso excessivo e
desnecessário de faca e arma de fogo, agonia física, crimes sangrentos e
horríveis serão eliminados.
8 ) Nenhum
método único ou incomum de esconder armas será mostrado.
9 ) Casos de
oficiais de aplicação da lei morrendo como um resultado de atividades
criminosas deve ser desencorajado.
10 ) O crime
de sequestro nunca será retratado em qualquer detalhe, nem será qualquer ganho
recebido pelo raptor ou seqüestrador. O criminoso ou sequestrador tem que ser
punido em todos os casos.
11 ) As
letras da palavra “crime” numa revista em quadrinhos nunca serão
consideravelmente maiores do que as das outras palavras contidas no título. A
palavra “crime” nunca aparecerá sozinha numa capa.
12 ) Evitar
o uso da palavra “crime” em títulos ou subtítulos será exercido.
Critérios
Gerais Parte B
1 ) Nenhuma
revista em quadrinhos usará a palavra “terror” ou “horror” no seu título.
2 ) Todas as
cenas de terror, derramamento de sangue excessivo, crimes sangrentos ou
horríveis, depravação, luxúria, sadismo, masoquismo não serão permitidas.
3 ) Todas as
ilustrações horríveis, assustadoras e nojentas serão eliminadas.
4 ) A
inclusão de histórias lidando com o mal serão usadas ou serão publicadas
somente quando a intenção é de ilustrar uma lição de moral e em caso algum será
apresentado atrativamente e nem para ferir a sensibilidade do leitor.
5 ) Cenas
lidando com, ou instrumentos associados com mortos ambulantes, vampiros e
vampirismo, carniçais, canibalismo e licantropismo são proibidos.
Critérios
Gerais Parte C
Todos os
elementos ou técnicas não especificamente mencionadas aqui, mas que são
contrárias ao espírito e intenções do código, e que são consideradas violações
do bom gosto ou decência, serão proibidas.
Diálogo
1 ) Imagens
e linguagem profanas, obscenidade, palavras sujas, vulgaridade, ou palavras ou
símbolos que tenham adquirido significados indesejáveis são proibidas.
2 )
Precauções especiais para evitar referências a aflições físicas de deformidades
serão tomadas.
3 ) Apesar
de gírias e coloquialismo serem aceitáveis, usos excessivos devem ser
desencorajados e sempre que possível a boa gramática será empregada.
Religião
1 )
Ridicularização ou ataque contra qualquer religião ou grupo racial nunca é
permitido.
Indumentária
1 ) Nudez de
qualquer forma é proibida, assim como exposição indevida ou indecente.
2 )
Ilustração sugestiva e libidinosa ou postura sugestiva é inaceitável.
3 ) Todos os
personagens serão retratados em trajes razoavelmente aceitáveis para a
sociedade.
4 ) Mulheres
serão desenhadas realisticamente sem exagero de qualquer qualidade física.
NOTA: Deveria ser reconhecido que todas as proibições lidando com indumentária,
diálogo, ou arte aplicam-se tão especificamente para a capa de uma revista em
quadrinhos quanto para o seu conteúdo.
Casamento e
Sexo
1 ) Divórcio
não será tratado humoristicamente e nem representado como desejável.
2 ) Relações
de sexo ilícito não serão insinuadas ou retratadas. Cenas de amor violento
assim como anormalidades sexuais são inaceitáveis.
3 ) Respeito
pelos pais, o código moral, e por comportamento honrado serão promovidos. Um
entendimento simpático dos problemas do amor não é uma licença para distorção
moral.
4 ) O
tratamento das histórias de romance/amor enfatizarão o valor do lar e da
santidade do matrimônio.
5 ) Paixão
ou interesse romântico nunca será tratado de tal forma que estimule as emoções
mais baixas e básicas.
6 ) Sedução
e estupro nunca serão mostradas ou sugeridas.
7 )
Perversão sexual ou qualquer suposição à mesma é estritamente proibida.
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CÓDIGO
PARA MATERIAL DE PROPAGANDA
Estes
regulamentos são aplicáveis a todas as revistas publicadas pelos membros da
Comics Magazine Association of America, Inc. Bom gosto será o guia de
princípios na aceitação de uma propaganda.
1 )
Propaganda de licor e tabaco não é aceitável.
2 )
Propaganda de sexo ou de livros de instrução sexual é inaceitável.
3 ) A venda
de cartões postais com fotos, “pin-ups”, “estúdios de arte”, ou de qualquer
outra reprodução de figuras nuas ou semi-nuas é proibido.
4 )
Propaganda para a venda de facas, armas disfarçadas, ou imitações realísticas
de armas de fogo são proibidas.
5 )
Propaganda para a venda de fogos de artifício é proibida.
6 )
Propaganda lidando com a venda de equipamento de jogatina ou de material
impresso lidando com jogatina não será aceito.
7 ) Nudez
com propósito de meretrício e posturas libidinosas não serão permitidas na
propaganda de qualquer produto; figuras vestidas nunca serão apresentadas de
tal maneira que sejam ofensivas ou contrárias a moral e bons costumes.
8 ) Para o
melhor de sua habilidade, cada editora verá definitivamente que todas as frases
feitas em propagandas estão de acordo e não são interpretados de modo errado.
9 )
Propaganda de produtos médicos, saúde ou de higiene pessoal de natureza
questionável serão rejeitados. Propagandas para produtos médicos, de saúde ou
de higiene pessoal endossados pela Associação de Saúde Estadunidense, serão
consideradas aceitáveis se elas estiverem de acordo com todas as outras
condições do Código da Propaganda.
Será que o fim do Comics Code e a violência
exacerbada dos Novos 52 têm alguma conexão ou será só uma coincidência?
Mistéééééério…
Por
Pablo Sarmento
Fonte:
Terra Zero
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