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Planeta Resenha Marvel: Miracleman #1 (Panini)

Uma das obras mais famosas e polêmicas da história dos quadrinhos, Miracleman acaba de chegar ao Brasil pela editora Panini, e sua chegada também não deixou de gerar algumas controvérsias, principalmente pelo método de publicação. A revista será publicada por aqui de forma mensal, em lombada canoa. Nada de encadernados.

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Mas deixando de lado o rage nerd, vamos avaliar a qualidade do material enquanto leitura, e sua importância para um colecionador, e para todos os quadrinhos em geral. Tido por muitos como “a verdadeira obra prima de Alan Moore”, Miracleman revolucionou a nona arte, principalmente no que se refere aos quadrinhos de super-herói. Trazendo uma abordagem adulta e sombria, Moore revolucionou o personagem, inserindo algumas das ideias que aproveitaria mais tarde em obras como Watchmen e V de Vingança.

Mas antes de tratar da fase Moore que a edição cobre, é preciso contextualizar um pouco, voltando ao ano de 1940, no surgimento do personagem Capitão Marvel. Sim, esse mesmo. O garoto Billy Batson, que grita “Shazam” e se torna um super-herói mágico que usa vermelho e tem um raio amarelo no peito. Criado pela editora Fawcett, o novo herói fez tanto sucesso, que suas revistas começaram a vender mais do que o próprio Superman da DC Comics. A DC então, após algumas disputas judiciais perdidas onde  alegavam violação de direitos autorais, conseguiu fechar um acordo com a Fawcett em 1953, tirando o Capitão Marvel de circulação.
O problema é que esse acordo prejudicou uma editora na Inglaterra, a Len Miller. A editora, que possuía os direitos de publicação do Capitão Marvel no Reino Unido, se viu em apuros quando perdeu o seu carro-chefe de um dia para outro. Era preciso resolver o problema, e assim foi chamado o escritor e desenhista Mick Anglo. Sua missão? Criar um personagem tão legal quanto o Capitão Marvel.

Assim, Anglo inventou o Marvelman, uma versão britânica do Capitão Marvel, onde um garoto chamado Micky Moran também recebe poderes (com a diferença que aqui são poderes atômicos, e não mágicos), que são ativados quando ele grita uma palavra: Kimota (ao invés de Shazam). Além de ter também uma “família” de ajudantes que de alguma forma recebem os mesmos poderes.

Sim, o personagem surgiu como nada mais que um plágio.

Com histórias simplórias e infantis, a revista se mostrou um sucesso de vendas, sendo publicada de 1954 a 1963. Mas afinal, então porque o personagem é tão icônico?

Acontece que em 1981, um jovem Alan Moore foi convidado para reinventar o personagem, e o que ele fez foi simplesmente revolucionário. Moore não apenas deu uma nova roupagem ao Marvelman, criando todo um clima mais adulto na revista, como ainda deu um jeito para encaixar as histórias mais simples da década de 50 no contexto da sua trama.

Seus roteiros densos revolucionaram os quadrinhos de super-heróis, e Marvelman se tornou um clássico instantâneo. Após a editora que publicava a HQ na Inglaterra falir, Moore concluiu sua fase à frente do personagem em uma editora americana, com o herói rebatizado para Miracleman, devido a uma reclamação da Marvel sobre direitos autorais.

Após o encerramento da “Era Moore”, a HQ passou a ser escrita por ninguém menos que Neil Gaiman, que infelizmente não pôde concluir sua fase, quando essa segunda editora também veio a encerrar suas atividades.

Sendo assim, além do final em aberto, os direitos de publicação do personagem ficaram durante anos em disputas judiciais, e o Miracleman nunca mais foi publicado (ou republicado).

Até que em 2012 a Marvel conseguiu os direitos do personagem, que voltou a se publicado em 2013.

A grande novidade é que, além de republicar toda a fase de Alan Moore em sequência, também teremos a posterior fase de Neil Gaiman, que promete finalmente lançar a edição final, que ficou impossibilitado na década de 80.

Além dessa série de implicações acerca do personagem, como plágio, problemas de direitos autorais, editoras falindo e anos de disputas judiciais, quando o personagem finalmente pôde voltar às bancas, Alan Moore ainda trouxe mais uma polêmica: O autor exigiu que o seu nome não fosse creditado nas revistas. Sendo assim, tanto nas edições americanas quanto nas de qualquer outro país, no lugar do roteirista nós temos os dizeres: “O escritor original”.

A edição da Panini

Na publicação brasileira, também tivemos alguns problemas. Leitores reclamam da decisão editorial da Panini em publicar a obra de forma mensal, alegando que pela grandiosidade da obra, o tratamento mínimo seria um encadernado.

O problema, é que na publicação americana, Miracleman se encontra ainda na edição 13, tendo apenas dois encadernados pequenos contendo 4 edições cada. Ficaria inviável começar a coleção por aqui em encadernados, ainda mais com um personagem relativamente desconhecido do grande público. Particularmente achei excelente a série ser publicada de forma mensal, principalmente pelo ótimo custo-benefício, além de ser uma forma mais fácil de trazer novos leitores e apresentá-los ao personagem.

A primeira edição brasileira, assim como a americana, traz além da história de Moore as primeiras publicações de Marvelman ainda na década de 50, a título de curiosidade, além de alguns extras que contam um pouco da história do personagem e de seu criador, Mick Anglo.
Na história de Moore, que é afinal o mais importante, temos um Micky Moran já adulto, jornalista, casado, e por algum motivo completamente esquecido de seu passado comoMiracleman, a não ser pelo sonho constante onde ele é o herói atômico e impede crimes com seus poderes especiais ao lado dos seus parceiros Jovem Miracleman e Kid Miracleman.

No sonho, Micky sabe que existe uma palavra-chave que ativa os seus poderes, mas ao despertar ele não se recorda qual seria, e fica se perguntando  o significado desses sonhos repetitivos. Até que um dia, enquanto cobre uma matéria, se vê em meio a um ousado roubo de isótopos de plutônio, e ao dar de cara com uma porta com a palavra “atômica“, Micky a lê de trás pra frente e imediatamente tem seus poderes e memória reavivados. Kimota!

Lembrando de seu passado como Miracleman, Micky impede o roubo e conta à sua esposa sobre suas aventuras na década de 50, quando era apenas um garoto. Porém, o protagonista ainda vai descobrir que muita coisa sobre o seu passado pode não ser bem o que ele acredita que seja. Essa é a premissa básica, apresentada por Moore nessa primeira edição. O interessante aqui é como ele linka o passado do personagem na trama que criou, trazendo uma roupagem nova, mais madura e complexa, ao mesmo tempo que não abandonou as histórias simplórias criadas por Mick Anglo tantos anos atrás.

Resumindo, Miracleman é indispensável para qualquer leitor de quadrinhos, não apenas pelo sua importância histórica, mas também pela qualidade do material. Independente da forma como seja lançado, é uma obra que precisa ser lida, e algo essencial para se ter na coleção.

Por Murilo Oliveira

Fonte: O Vício

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2 Comentários

  1. Caramba!

    Alan Moore sendo Alan Moore.

    Sempre confiável (-:

    gotasdexp.blogspot.com

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