Quando Jim Lee foi
anunciado como novo desenhista do Batman, na DC Comics, muita gente
ficou com a pulga atrás da orelha. Afinal, o artista coreano era conhecido por
desenhar os coloridos X-Men na Marvel, e não se imaginava como
seria sua investida no mundo sombrio do Homem-Morcego. Felizmente, ele não fez
feio! A arte de Lee caiu como uma luva e funcionou perfeitamente para aquilo a
que se propôs. Tudo o que ele precisava era de um bom roteirista que soubesse
aproveitar seus atributos em favor de uma boa narrativa. Infelizmente, não foi
o que aconteceu com o roteiro de Jeph Loeb.
Loeb utiliza-se de um recurso
narrativo que tem se tornado o pesadelo dos fãs de quadrinhos nas últimas
décadas: o retcon. Esse recurso é usado quando o roteirista resolve mudar
o passado de algum personagem, inserir algum detalhe na trama ou explicar algo
que ele considere importante, mas que nunca foi mostrado. Diferente de um flashback,
o retcon abala as estruturas da história de um personagem. E é exatamente
o que ocorre nessa história. Um personagem extremamente importante é “retro
apresentado” aos leitores: um amigo de infância de Bruce Wayne do
qual ninguém jamais tinha ouvido falar, mas que de uma hora para outra passa a
ser a pessoa mais importante na vida do playboy milionário. Causa estranheza no
leitor, e, em um momento, Robin chega até a mencionar o fato de Bruce
não ter falado a ninguém sobre esse amigo. Nesse momento, lá pela metade da
trama, parece que Tim Drake está expressando o pensamento de seus
leitores.
A trama é bastante rasa. Alguém está stalkeando o
Batman e usando seus maiores inimigos contra ele. O herói tem que enfrentar os
vilões mais perigosos de sua galeria, como o Crocodilo, Hera Venenosa, Arlequina, Coringa, Charada, Espantalho…
E até o Superman!
Aqui cabem dois comentários:
primeiro, a ideia de enfrentar todos os vilões já foi explorada, e de forma
muito melhor, na megassaga A Queda do Morcego;
segundo, o Superman não acrescenta nada à trama a não ser o fan service para
quem idolatra o Batman e odeia o Azulão.
Lá pelas tantas, o tal amigo de
infância é assassinado, aparentemente pelo Coringa, e Batman precisa descobrir
quem está arquitetando o plano (que plano mesmo?). O roteirista parece
querer brincar com o leitor (que não sacou na primeira edição), inserindo diversas
possíveis identidades para o assassino. E talvez essa seja a parte mais
frustrante da história. Em determinado momento, um importante aliado de Batman
é revelado como sendo o vilão da história. E faria sentido, principalmente
devido a algo que aconteceu na primeira edição (o rompimento da “batcorda” com
um “batarangue”). Mas era mais uma “pegadinha”. Entre os personagens que
poderiam ser o stalker está, inclusive, Harold – o corcunda
de estimação do Batman –, que estava sumido desde a A Queda. O problema é que
Harold aparece completamente solto na trama, e leitores mais novos podem ficar
totalmente sem entender o que ele significa no universo do Morcego.
(Nota do redator: Harold é um
personagem que, para o bem de Bruce Wayne, deve ser desconsiderado
editorialmente. Afinal, é praticamente um escravo que cuida da parte mecânica
da Batcaverna, e que, além de corcunda e mudo, tem claros sinais de deficiência
cognitiva. Já ouviu falar de ética, Patrão Bruce?).
No fim da trama, a identidade do
vilão é revelada (Nossa! Que surpresa!), e ficamos sabendo que um dos mais
antigos vilões de Gotham conhece a identidade secreta do Cavaleiro das Trevas,
mas não pode fazer nada com essa informação. Temos um Batman mais abalado e
trágico do que já estamos habituados, e percebemos claramente que seus aliados
são parte crucial de sua persona. A imagem do Batman solitário nos é colocada à
prova, pois vemos o quanto ele depende de seus aliados – não, “amigos” seria a
melhor palavra! – para se manter como defensor de Gotham.
Para um leitor iniciante, talvez Silêncio não
seja tão ruim. A saga apresenta bem os personagens, e o “fator fan service”
talvez até agrade bastante aos leitores. É como se fosse um álbum do tipo Batman
– Greatest Hits, por apresentar encontros com seus maiores inimigos no decorrer
da saga. Como um narrador inexperiente de RPG, Loeb parece rolar dados e
consultar uma tabela de “encontros aleatórios” para inflar sua trama. Talvez Silêncio tenha
funcionado como série mensal, mas como Graphic Novel é sofrível. Vale lembrar
que a edição lançada pela Eaglemoss Collections em dois volumes apresenta
vários erros de digitação que, se não atrapalham o entendimento da saga, ao
menos se tornam um incômodo desnecessário.
Pelo menos, temos a arte de Jim
Lee, que sofre do mesmo mal de seus amiguinhos da Image Comics – não
desenhar pés, ou apresentar problemas com perspectiva –, mas em diversos
momentos é agradável e nos proporciona diversos “pin ups”. E é sempre bom ver
um de nossos heróis favoritos bem desenhados!
Por Dan Cruz
Fonte: Vortex Cultural
2 Comentários
Olha,foi mal mas discordo de quase tudo nessa analise.Eu achei Batman Silencio fantástico,muito bom mesmo tanto pela trama quanto pelo vilão principal que era inédito e bem legal.Só não gostei da luta contra o Superman que eu achei horrível pois para mim um Superman que estava atacando o Batman mesmo iria matar-lo em milésimos de segundos.
ResponderExcluirPs:Mas realmente não chega nem aos pés de Batman o Longo dia das bruxas.
Opa, tranquilo ANT! O que realmente importa é isso, compartilhar as opiniões e trocar ideias. Na verdade, todos os posts que eu publico, não significa que eu concordo, mas é só para o pessoal ter (quase) tudo no mesmo blog (no caso, o meu).
ExcluirSinceramente, eu também acho o Silêncio, um baita arco, tanto é que eu tenho o encadernado (original em inglês) e estou no aguardo do encadernado da Eaglemoss para comprar.
Valeu pela força, e quero sim, ouvir sua opinião sempre.