É hora de polêmica e do debate saudável
aqui no Planeta Marvel/DC. Nosso colaborador Giulianno de Lima Liberalli abre o
jogo e expõe sua opinião sobre o futuro dos filmes de heróis. E de quebra, faz
um retrospecto desses filmes desde a década de 1940, uma verdadeira aula de
história!
Recentemente o grande cineasta Steven
Spielberg disse que os atuais filmes de super-heróis seriam uma moda
passageira, estão no seu auge, mas sumirão com o tempo como aconteceu com os
grandes filmes de faroeste, famosos por décadas no cinema. Desnecessário dizer
que essa declaração vinda de um grande idealizador do cinema gerou bastante
discussão em diversos fóruns e blogs pela internet, para quem está chegando ao
planeta Terra agora e não conhece as contribuições de Spielberg para o cinema
vou citar obras marcantes como Tubarão, ET – O Extra-Terrestre, A Lista de
Schindler, Jurassic Park, Contatos Imediatos do 3º Grau, junto com George Lucas
ele desenvolveu a saga de Indiana Jones e foi o produtor da série De Volta Para
o Futuro. Com esse currículo poderíamos dizer que tudo dito por esse homem em
relação ao futuro do cinema não estaria errado, no entanto acredito que,
infelizmente, dessa vez ele está dando um tiro no escuro com uma afirmação
dessas, com chances de acertar o próprio pé.
Essa declaração partiu do princípio de
que o cinema ficará saturado de tantas produções baseadas no universo dos
super-heróis, gerando uma banalização do tema e chegando ao ponto em que os
grandes estúdios acabarão abandonando esse filão que vem se mostrando um dos
mais lucrativos das últimas décadas, só que o envolvimento do cinema com os
super-heróis é muito antigo, dezenas de produções sobre os grandes heróis das
HQs já foram feitas, claro que seus efeitos e enredos não possuíam a
complexidade e inovação que presenciamos hoje com o crescimento do CGI
(Computer Graphic Imagery), a tecnologia de gerar imagens em 3D que nasceu para
projetos acadêmicos e militares acabou por migrar para a indústria dos games e
cinema, permitindo que sagas cada vez mais complexas de serem realizadas
cheguem mais rápido às telas, quem não se lembra da cena de Star Wars – Uma
Nova Esperança em 1977 onde os rebeldes montam a estratégia de ataque a Estrela
da Morte analisando uma projeção 3D da sua estrutura? A curta cena, pioneira a
usar esse tipo de artifício, exigiu semanas de preparação e tecnologia de ponta
para a época e a partir daí a utilização desses efeitos se expandiu para
diversas produções melhorando cada vez mais e trazendo coisas antes impensáveis
de se ver em um filme se tornarem comuns e usuais, é impossível conceber uma
produção de super-heróis sem usar esses efeitos e com escala cada vez maior,
para esse argumento ficar mais claro, ou mais verde, vamos citar um exemplo bem
simples: O Hulk, quem já viu a série clássica dos anos 70 com o Lou Ferrigno
pintado de verde da cabeça os pés sabe que seria impraticável fazer a mesma
coisa nos tempos de hoje, a não ser que estivesse pensando em uma paródia de
humor nos moldes da série Todo Mundo em Pânico que tira sarro de várias
produções de terror e ficção. Tenta encaixar a imagem do Hulk da série clássica
em uma cena dos Vingadores e vai ter noção do quão ridículo ficaria.
O envolvimento das HQs de heróis com
as telas vem desde as adaptações famosas de Flash Gordon e Buck Rogers nas
matinês antigas do cinema com seus figurinos e efeitos hoje risíveis, passando
pela antológica série do Batman produzida na década de 40. Nesses tempos
ficaram famosas as séries de heróis, os filmes eram seriados que passavam nos
cinemas com enorme sucesso entre as crianças. Batman teve duas séries nos anos
de 1943 e 1949, cada uma com 15 episódios cada e é conhecida como a primeira
realização live-action de um super-herói dos comics. Em seguida veio o impagável
Batman e Robin nos anos 60 com Adam West e Burt Ward, nesse caso a produção foi
feita a partir da série de TV. O Capitão América também teve um seriado em 1944
com pouco mais de 15 episódios e, ao contrário de Batman, pouca coisa foi
respeitada nessa adaptação como o fato de que a identidade do Capitão era a de
um promotor de justiça, não existia o seu indestrutível escudo ficando no seu
lugar uma arma comum e nada de soro do super soldado, o estúdio era o Republic,
um dos mais famosos da época, sua alegação para essas alterações era de que
ficaria muito caro seguir a história das HQs, no filme Capitão América – O
Primeiro Vingador, as seqüências onde Steve viaja pelo país se apresentando de
forma teatral para vender bônus de guerra são citadas como homenagens a essas
baratas produções de época reproduzindo de maneira quase idêntica o uniforme
usado pelo personagem no seriado dos anos 40. Os executivos dos estúdios sempre
enxergaram grandes possibilidades de lucro nas adaptações dos super-heróis para
as telas, um grande exemplo é o Superman, adaptado
desde os anos 30 para
diversas mídias como rádio, cinema e TV, as aventuras do maior dos super-heróis
estiveram presentes em uma série de episódios animados desenvolvidos pelos
estúdios dos irmãos Max e Dave Fleicher considerados uma das melhores animações
criadas para o personagem e referências de qualidade até os dias de hoje,
passando pela série live action com George Reeves no papel principal até o
estrondoso sucesso de Superman – O Filme, de 1978, com o saudoso Christopher
Reeve no papel do herói e Gene Hackman no papel de Lex Luthor. O marketing da
época dizia: ‘Você vai acreditar que um homem pode voar’, nunca antes um
personagem de HQ havia ganhado uma adaptação para as telas com tantos efeitos,
tanto respeito ao seu universo ficcional como Superman, desde o elenco até a
clássica trilha sonora que marcou o personagem para sempre, quem não reconhece
os acordes de John Williams, mestre em criar temas fantásticos para o cinema
tendo no currículo obras inesquecíveis como Caçadores da Arca Perdida, Star
Wars, Tubarão, Harry Potter e ET – O Extra Terrestre? Produções de séries para
a TV baseadas em super-heróis surgiram nessa época fazendo bastante sucesso e
popularizando cada vez mais suas imagens para o público criando clássicos como
O Incrível Hulk, Homem-Aranha com sua teia de corda e um sentido de aranha no
mínimo pitoresco (cujo episódio piloto ganhou uma versão para ser exibida nos
cinemas), Mulher-Maravilha com a bela Linda Carter e Shazam!
Os anos 80 chegaram e com eles uma
nova leva de filmes baseados em super-heróis surgiu nos cinemas, Superman
ganhou uma divertida seqüência onde enfrentava três criminosos sobreviventes de
Krypton, Justiceiro teve sua primeira versão na pele de Dolph Lundgren com um resultado
próximo ao desastroso, Flash Gordon foi trazido de volta em uma produção Cult
com trilha sonora bacana do Queen, Wes Craven trouxe diretamente dos pântanos
da sua imaginação a sua versão do Monstro do Pântano até chegar Batman de Tim
Burton, com Michael Keaton na pele do Cavaleiro das Trevas e um louco Jack
Nicholson como Coringa para mostrar que os filmes de heróis poderiam se tornar
superproduções e quebrar recordes de bilheteria deixando executivos animados,
estúdios ricos e platéias felizes e alucinadas pedindo por mais e mais. A
partir daí vieram os anos 90 e foi ladeira abaixo, a lista de produções não
parava de aumentar trazendo heróis como O Fantasma, Darkman, Juiz Dreed, Spawn,
As Tartarugas Ninjas, o super cult filme do Quarteto Fantástico de Roger
Corman, Capitão América e Rocketeer. O cinema estava abraçando de vez a onda de
super-heróis, o que realmente incomoda é o fato dos estúdios terem passado por
cima da mitologia das HQs e criado filmes que pensaram mais nas bilheterias e
nos lucros deixando de lado a qualidade para nos fazer acreditar em seres
superpoderosos andando entre nós como a magia de Superman - O Filme, pelo menos
até o ano 2000 e os estúdios FOX trazerem para nós X-Men - O Filme, a película
dirigida por Bryan Singer com Patrick Stewart, Ian McKellen, Halle Berry e Hugh
Jackman reacendeu a chama de vez. Adaptados com um roteiro simples, porém com
produção bastante caprichada, o sucesso dos mutantes elevou o status dos filmes
de heróis a níveis nunca antes imaginados nas décadas de 80 e 90. A SONY tirou
da gaveta o Homem-Aranha dessa vez com uma adaptação realmente decente e com
ótimos efeitos visuais, seguiram o Hulk de Ang Lee e Demolidor com Ben Affleck,
Christopher Nolan trouxe a visão definitiva do Cavaleiro das Trevas com Batman
Begins, o Quarteto Fantástico ganhou uma versão mais digna, até o Motoqueiro
Fantasma teve um filme legal e a Marvel revirou tudo com a chegada de Homem de
Ferro e O Incrível Hulk com Edward Norton dando início à
Era Marvel nos
cinemas, seguidos de Thor e Capitão América em um ambicioso projeto de recriar
seu universo interligado nas telas que culminou no estrondoso sucesso de Os
Vingadores, com uma agenda de mega produções para daqui até 2020 prometendo
sucessos um atrás do outro como Batman Vs Superman, Liga da Justiça e
Vingadores: Guerra Infinita Partes I e II fica muito complicado concordar com
os argumentos de Steven Spielberg, posso estar errado, mas sinto nas palavras
do respeitado cineasta um certo preconceito e uma visão meio conservadora com
relação a esses filmes, argumentando que são mitologias populares com apelo
finito baseado na história dos westerns, tão famosos e que caíram no
esquecimento com o passar do tempo, pois em algum momento surgirá um novo
filão, um novo gênero, que desviará a atenção dos executivos e o público virá a
perder o interesse nos heróis, Joe Quesada respondeu a isso dizendo que
enquanto as pessoas quiserem blockbusters, os quadrinhos estarão lá, mas o que
os fãs realmente querem é ver produções cada vez melhores, realistas e
emocionantes dos seus personagens preferidos nas telas e não creio que essa
onda tenha data para acabar, pelo menos não por muito, muito tempo porque
histórias para contar é o que não falta.
Por
Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador
do Planeta Marvel/DC
2 Comentários
É claro que como fã das HQs, espero que continue indefinidamente, mesmo que não seja com essa quantidade de produções anuais (só em 2016, de Marvel e DC teremos sete). De qualquer forma, acho difícil as "predições" do Spielberg acontecerem, afinal, na minha opinião, os filmes de heróis não devem ser categorizados como gênero. Por exemplo, eu diria que um filme do Batman do Nolan poderia se encaixar no gênero policial, os Guardiões no gênero ficção científica e comédia, Capitão América - Soldado Invernal no gênero espionagem, etc. Posso estar enganado, mas é assim que encaro o assunto atualmente. Meu respeito pelo Steven "Tubarão", "E.T.", "Indiana Jones", "Império do Sol", "Lista de Schindler", "Soldado Ryan", etc Spielberg continua com certeza, mas acho que ele se precipitou com esses comentários. E conforme você citou Giulianno, "histórias para contar é o que não falta".
ResponderExcluirVocê disse bem, Roger, uma preocupação é essa quantidade grande de filmes vindo um atrás do outro, aí mora o perigo da banalização quando o mercado é saturado da mesma coisa e o valor cai. Como qualquer nerd de respeito também estou fascinado com tantas produções trazendo heróis que nunca tiveram adaptações sequer produzidas estarem praticamente em fila para estrear, como Pantera Negra e Doutor Estranho. Para mim estamos atravessando a melhor fase de produções de heróis, eu assisti Superman - O Filme nos cinemas e a sensação que eu tive naquele tempo se repetiu com Os Vingadores reunidos pela primeira vez em 2012. A afirmação de Spielberg não foi destituída de lógica ou totalmente errada, porém se estivéssemos falando de cinco ou dez personagens... Mas temos universos inteiros para explorar e com muita, muita coisa boa para se trabalhar, então acredito que ainda estamos saindo do começo com gás para ir muito além.
Excluir