Confira uma entrevista do site Jamesons com o argentino Luciano
Vecchio, que tem feito um grande sucesso na Marvel nos últimos
anos. Esse texto faz parte da celebração em homenagem ao Mês do Orgulho LGBT.
Para quem não conhece, Luciano é um artista
homossexual, argentino e que reside em Buenos Aires. No
seu currículo ele traz revistas como Coração de Ferro, Wiccano
& Hulkling, Vingadores, Quarteto
Fantástico e Campeões, além de ser o
co-criador de Somnus, novo
mutante gay da Marvel que será introduzido em “Marvel
Voices: Pride“, HQ lançada na última quarta-feira (23), nos Estados Unidos.
Segue o teor da entrevista exclusiva para o site Jamesons.
1 –
JAMESONS: Para começar, gostaríamos que você
comentasse como foi a sua entrada no mercado americano de quadrinhos e como é a
sua percepção enquanto sul-americano. Temos muitos brasileiros trabalhando na
Marvel, na DC e em outras editoras atualmente, seria interessante ver a
perspectiva de um talento argentino. Quais foram as suas maiores dificuldades e
a melhor parte disso tudo?
LUCIANO:
Este era o meu emprego dos sonhos desde que eu era
criança lendo as edições mexicanas da DC Comics em
espanhol. Há uma longa tradição de artistas argentinos trabalhando para os
Estados Unidos e a Europa, então eu cresci sabendo que poderia ser difícil, mas
que era possível. Ter minha primeira chance na DC depois de
muitas tentativas fracassadas foi a parte mais difícil, e ser resiliente e
flexível com minhas expectativas permitiu que isso acontecesse. E a melhor
parte é que passei de fazer adaptações em quadrinhos de programas de
TV para agora desenhar nos universos principais com meu
estilo pessoal e voz.
2 – JAMESONS: Alguns anos
atrás você fez ilustrações reunindo os heróis LGBTs da Marvel, da DC, todos os
principais heróis negros e todas viralizaram demais. E, por incrível que
pareça, não temos muitas artes desse tipo na internet. A alta popularidade
desses desenhos, te ajudou de alguma forma?
LUCIANO:
Acho que elas podem ter desempenhado um papel no tipo de trabalhos que me
deram, em sintonia com meus interesses. Desenhar Coração de Ferro, Marvel’s Voices, Campeões e DC
Pride refletem meu foco na representação LGBT e também em outras
demografias sub-representadas.
3 – JAMESONS: Enquanto
profissional, quais são as suas principais referências? Não me refiro apenas a
desenhistas, mas também profissionais de outras áreas que ajudaram a moldar o
artista que você é hoje.
LUCIANO: É
uma mistura cada vez maior. Minha infância foi mais influenciada por quadrinhos
e artistas americanos como Jose
Luis García Lopez e George Perez, e
animes como Sailor Moon e Cavaleiros
do Zodíaco. As obras de Grant Morrison tiveram
uma importância enorme na minha passagem para a idade adulta. Rebecca
Sugar mudou recentemente minha concepção de narrativas
heroicas. E tudo isso acompanhado pela inspiração na arte e ativismo LGBT local
independente na Argentina.
4 –
JAMESONS: Não sei se você tem essa percepção, mas eu e uma galera na internet
te enxergamos como uma referência muito forte de diversidade no mercado. Como é
esse sentimento para você? Já caiu a ficha? Quais responsabilidades vem com
esses grandes poderes?
LUCIANO:
Obrigado Morando
em Buenos
Aires, é difícil ter uma noção clara de como o trabalho de uma
pessoa afeta o público ou quão importante é. Acredito que tudo o que contamos
em uma obra de ficção tem o poder de criar e mudar o mundo,
e por isso deve ser feito com cuidado, mas hoje em dia tento ser verdadeiro e
trabalhar para mim primeiro, e para a criança que fui, e
espero que as pessoas se identifiquem. Eu também procuro não me
levar muito a sério e pensar demais em tudo, pois descobri que isso me leva a
resultados que acabo não gostando.
5 –
JAMESONS: Nos últimos anos você tem se destacado muito com as Marvel Voices,
não apenas desenhando importantes histórias para a comunidade LGBT, mas também
escrevendo. Como foi a recepção do pessoal da própria Marvel e dos fãs em
relação a essas histórias?
LUCIANO:
Eu fiquei muito surpreso, porque embora eu tenha escrito meus próprios
quadrinhos como Sereno em espanhol, nunca
acreditei que escrever em inglês fosse uma possibilidade.
Costumava ser uma regra tácita que apenas falantes nativos de inglês escreviam
em quadrinhos americanos. Mas quando o primeiro Marvel Voices estava sendo
montado e eu fui convidado como artista, percebi que era o lugar certo para
lançar essa história que eu realmente precisava ver, e
não podia simplesmente esperar que alguém a escrevesse. E eles
me deixaram fazer isso, as pessoas gostaram, e eu fui convidado para escrever
outro para o novo especial do Marvel Voices Pride.
Meus editores e também os escritores com quem colaboro têm me apoiado muito e
incentivado.
6 – JAMESONS: Aproveitando,
você co-criou o novo herói Somnus ao lado do roteirista Steve Orlando, para o
Marvel Voices: Pride. Sabemos que você não pode entregar spoilers, mas de que
forma você entende que o personagem se conecta com a comunidade? E podemos
esperar ver mais do personagem no futuro?
LUCIANO: Como Steve Orlando explicou, Somnus representa a segunda
chance que muitas gerações de pessoas LGBT em nossa comunidade não tiveram,
de viver uma vida plena e orgulhosa. Ele é uma ponte que conecta nosso presente
à nossa história, e é uma ponte feita de sonhos.
7 –
JAMESONS: Infelizmente aqui no Brasil a Editora Panini, empresa responsável
pela publicação das HQs da Marvel e da DC, não lançou a revista da Coração de
Ferro que você que você desenvolveu com a escritora Eve Ewing. Poderia se
juntar a nós e contar porque a Panini deveria publicar esse material aqui?
LUCIANO:
Porque é um livro incrível, com o qual as pessoas conseguem se
identificar, é importante! E também super divertido. A
importância e a popularidade de Riri só continuarão crescendo com o tempo assim
que chegarmos à sua série no MCU, então tenho certeza que veremos um
lançamento local em breve.
8 – JAMESONS: Você criou,
nas suas redes sociais, um redesign para o Wiccano como Wiccano Vermelho, em
referência a Feiticeira Escarlate. Levando em conta o sucesso de WandaVision,
isso é algo que você gostaria de ter a oportunidade de implementar um dia nas
HQs?
LUCIANO: É
uma possibilidade, sim. Há algum tempo, percebi que Wiccano é quase que o único
personagem masculino que carrega o legado de uma mulher, mas
ainda assim ele é marcado por conexão com outros personagens como Thor ou
o Doutor
Estranho. Ele era fã de Wanda antes mesmo de saber que ela era
sua mãe, então acho que ele poderia ser mais incisivo sobre honrar o legado
dela.
9 – JAMESONS: Se tivesse a
oportunidade, que outros personagens você gostaria de desenhar para a Marvel no
momento? Você gostaria mais de desenhar (ou escrever) personagens grandes e
consolidados, dar voz a personagens menores ou criar e estabelecer algumas de
suas próprias novas ideias para super-heróis?
LUCIANO: Os Jovens
Vingadores têm meu coração primeiro. E tendo pesquisado e
desenhado a maior parte do personagem LGBT da Marvel para minha introdução em
Voices, eu tenho encontrado muita alegria em injetar minhas energias em
qualquer um deles, porque não importa o quão pequeno ou menos conhecido, eles
significam tudo para tantas pessoas cuja representação foi negada por décadas. Então
Prodígio, Célere, Nico e Karolina, Relâmpago Vivo, Sera. Da perspectiva de um
criador, eu realmente prefiro dar a vida e contribuir com eles do
que trabalhar com nomes consagrados como o Homem-Aranha, por exemplo.
Fonte: Jamesons
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