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Planeta Resenha Marvel: CAPITÃO AMÉRICA: O Soldado Invernal!

A história que inspirou o filme “Capitão América 2:  O Soldado Invernal” foi publicada em meados dos anos 2000, numa época em que os atentados contra as Torres Gêmeas ainda eram uma notícia recente e os Estados Unidos estavam abalados como nunca. Ed Brubaker teve a missão de escrever as histórias do personagem que representava a América, e torcer para que isso ainda valesse alguma coisa.
É claro que valia.
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Que fique claro: Não sou entusiasta de um personagem que usa a bandeira dos EUA como uniforme, mas também não o repudio. Embora exista essa barreira de ignorância e preconceito que separa os países, eu ainda prefiro, como fã de quadrinhos, me focar nas qualidades do personagem e no teor de suas histórias, independente se ele enaltece um país que não é o meu. Caso contrário, eu seria o ignorante preconceituoso. E se essa barreira existe, que ela fique do outro lado da fronteira, não vou contribuir fornecendo mais tijolos para essa muralha. Mas é preciso ter bom senso. Os americanos são extremamente patriotas, e mesmo nos piores momentos, sentem orgulho de ser que são. E nós, aqui no Brasil ou em qualquer outro país do mundo, não somos diferentes, não somos melhores ou piores, só precisamos nos dar conta de que é uma questão de mentalidade. Em vez de desprezar nossa cultura, nossas realizações, nossa história, deveríamos ter orgulho das nossas conquistas e realizações. Mudar esse pensamento de que somos inferiores. Nós temos todos os defeitos e qualidades de qualquer outra nação, estamos unidos pelos mesmos ideais e somos limitados apenas por nossa falta de vontade, nossa falta de coragem, nossa falta de gratidão.
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Dito isto, aqui estou eu escrevendo uma resenha para uma história de um personagem chamado Capitão América, não porque o fato dele representar a América faz com que ele mereça mais atenção, ou mesmo por falta de outras opções de material nacional. Escrevo essa resenha simplesmente porque histórias não têm pátria. Elas estão livres e vivas em nossas mentes, e podem nascer em qualquer parte do mundo.
E essa história em questão começou a ser contada aos poucos, com Brubaker “comendo pelas beiradas”. O que ele queria fazer não seria facilmente aceito pelos leitores. Era preciso ter uma boa razão, uma boa explicação. Ser convincente. Ele queria trazer de volta um personagem que já estava morto há muito tempo, e para muitos, deveria continuar assim: Bucky Barnes, o parceiro do Capitão América durante a segunda guerra… o verdadeiro Bucky, não Jack Monroe, que atuou como Bucky ao lado de outro homem que se passou por Capitão América durante os anos 50, enquanto o verdadeiro Steve Rogers estava congelado. Monroe já havia sido trazido de volta e assumiu a identidade de “Nômade”, embora sua carreira heroica não tenha sido das mais bem sucedidas.

A ideia de Brubaker era trazer o genuíno James Buchanan Barnes, vulgo Bucky, aquele que lutou ao lado do Capitão, e era seu parceiro e amigo. Mas para tanto, era preciso ser cauteloso, pois ressurreições são difíceis de engolir (apesar de comuns nos quadrinhos). A coisa toda foi bem planejada, envolvendo o Caveira Vermelha e seu (suposto) assassinato, e um novo inimigo de posse de um Cubo Cósmico, objeto capaz de dobrar a realidade de acordo com vontade de seu usuário. Ao lado de velhos conhecidos como a agente Sharon Carter da Shield, o Falcão, Tony Stark e o próprio Nick Fury, as investigações das ações criminosas desse novo inimigo levaram a acreditar que alguém muito parecido com Bucky estava a serviço de uma organização russa. Mas seria uma fraude? Como a morte do Caveira Vermelha se encaixava nisso tudo?

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Brubaker se esforçou em dar veracidade a sua história, foi detalhista e preocupou-se em montar todo um cenário de fundo o mais “pé no chão” que pôde. Tanto que a explicação do retorno de Bucky é apresentada ao Capitão e aos leitores na forma de um dossiê minucioso contando todas as etapas, todos os eventos que permitiram que isso fosse possível.
Entretanto, apesar de toda a pompa e circunstância, e da inegável habilidade de escrita exibida pelo autor, o fato é que a explicação era simples: o Bucky original estava vivo porque foi salvo por um submarino russo e reanimado pelos cientistas dessa nação. Sua mente foi reprogramada, e seu braço amputado substituído por uma prótese, o que não afetou suas habilidades de combate. Ele se tornou uma arma secreta da Rússia, um agente infiltrado e um assassino cumprindo ordens às cegas. Por vezes sua mente tentava restaurar as memórias de seu tempo como parceiro do Capitão América, e por isso ele era colocado em estado de animação suspensa entre as missões, sempre recebendo uma nova programação ao despertar.
O “Soldado Invernal” como passou a ser chamado, tornou-se uma ferramenta sem vontade, servindo aos propósitos sórdidos de mentes perturbadas. O que foi feito com ele é de uma desumanidade perturbadora… que se arrastou por anos à fio, até que enfim o caminho dele finalmente se cruzou com o do Capitão América. Quando se encontram frente à frente, há pouco diálogo entre eles, mas quando se enfrentam o Capitão abre seu peito e deixa sua guarda baixa, num ato de confiança, acreditando que ainda exista algo do que ele fora no passado dentro de si.
De posse do Cubo, o Capitão faz com que Bucky se lembre de quem foi.
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O desfecho não é exatamente feliz, mas o Soldado Invernal se lembra de quem é, embora a vergonha, a culpa e o trauma de tudo o que ele passou não deixe que ele encare o Capitão, destruindo o Cubo Cósmico e desaparecendo, dando a entender a todos que morreu… todos, menos o Capitão América.
Mesmo que o retorno de Bucky tenha tido uma explicação menos convincente do que se esperava, tornou-se uma grande história graças aos aparatos narrativos de Ed Brubaker, que mergulhou de cabeça, acreditando no que escrevia e por consequência, nos fazendo acreditar.
Sendo assim, o autor pode dar sua missão como cumprida.

Fonte: O Santuário

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